Me perdoa?

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TIMOTHY ON

Existem inúmeras respostas para a minha amnésia supostamente “temporária”, algumas são mais plausíveis do que outras e algumas eu nem ao menos entendendo, o que me assusta mais ainda. Aparentemente, eu vivo com os Wayne já faz alguns anos, desde que o meu pai morreu... pois é, meu pai morreu. Doutora Leslie veio me ver e queria saber como eu estava me sentindo a respeito disso, queria poder dizer, colocar em palavras a confusão que está tudo, e quando digo tudo, quero dizer tudo mesmo! Não existe uma parte de mim que não esteja se sentindo completamente deslocado, como se não pertencesse a lugar nenhum, não só a essa nova família, mas a lugar nenhum... Alguma coisa me faz pensar que isso não é somente um efeito da perda das minhas memorias, é como se esse sentimento sempre estivesse presente dentro de mim só nunca foi verbalizado, sinceramente? Acho que nunca vou verbalizar isso.
Bruce parece um cara legal, desde que me contou sobre o meu pai e tentou me dizer como estavam as coisas antes do meu acidente, consigo sentir verdade no que ele diz, não parece uma pessoa que vai mentir para mim ou me fazer algum tipo de mal. Porém, tem algo nele... neles em específico, que eu não consigo decifrar, só me faz sentir um embrulho no estomago e querer ficar sozinho o resto dos meus dias, mas não posso, pelo menos não com quinze anos e sem lembrar de nada que aconteceu nos últimos cinco anos. Ganhei alta do hospital nessa noite, queria poder ficar aqui por mais tempo, ao menos até minha memória dar um sinal de voltar, o que eu espero muito que volte, pois não sei como vou ficar nessa mansão sem lembrar de absolutamente ninguém que habita nela.

Quando cheguei aqui um mordomo me atendeu, disse que se chamava Alfred e faria qualquer coisa que eu pedisse, queria dizer que me recordei dele, mas infelizmente não veio nem um flash na minha mente. Helena também parece adorável, mas consigo ver nos seus olhos que está cansada, não sei se de mim ou de toda essa confusão, porque eles realmente parecem não estar se dando bem num momento. Entretanto, todos parecem estar fazendo um esforço enorme para tudo ficar “normal” ou pelo menos parecer normal para mim, até mesmo o garoto que mal olha na minha cara, dois na verdade, mas a criança parece um pouco mais confortável com a situação do que ele.

- O jantar não está do seu agrado, Mestre Tim? – Saio dos meus pensamentos e volto a encarar a comida no meu prato – Posso fazer outra coisa se preferir. Hamburguer, talvez?

Alfred parece realmente preocupado com o fato de eu nem ter tocado na sua comida, não é culpa dele tudo parece perfeito e delicioso, só que eu não sinto o mínimo de fome, na realidade, só queria deitar e ficar sozinho. Todos me olham com algum tipo de expectativa, como se quisessem tanto quanto eu que me lembrasse apenas comendo esse macarrão com queijo, mas não consigo.

- Não precisa se preocupar, senhor Alfred – Respondo forçando um sorriso – Está ótimo.

Vejo os olhares caírem sobre mim pela milésima vez nessa noite e sinto meu rosto corar, não gosto dessa atenção toda que estou recebendo, mas não posso culpá-los por se preocupar. Aparentemente, pelas fotos nos quadros espalhados pela casa, não mentiram quando me falaram que eu sou um deles, mas se eu sou um deles, por que não consigo me sentir assim? Eu deveria sentir, não?

- Não é incomodo algum, Mestre Tim – O mordomo insiste – Precisa se alimentar, faz parte do seu tratamento também.

- Alfred tem razão, Tim – Bruce completa – Pode pedir qualquer coisa, o importante é você comer.

- Deixem-no – O garoto ao meu lado resmunga. Noto seu prato e parece que comeu tanto quanto eu – Ainda está se acostumando, precisam deixar ele respirar.

- Você também deveria comer o que está no seu prato, Jason – Sei que tem alguma coisa acontecendo nessa casa, principalmente entre os dois. Desde que eu cheguei, todas as vezes que um ficou perto do outro, estavam estranhos – Alfred me disse que não quis comer nada o dia inteiro.

The Wayne familyOnde histórias criam vida. Descubra agora