Arruinar a Magic Shop para Kitty não seria tão difícil. Bastava colocar fogo sem ninguém dentro que possivelmente daria tudo certo. Era esse o plano, isso que ele iria fazer. Jungkook teria altos prejuízos, todo seu material e casa estariam destruídos, e até reerguer tudo iria levar tempo, talvez o suficiente para Taehyung reconquistar sua clientela, caso fosse inteligente o suficiente para tal ato.
Jimin descobriu que Jeon e o filho que ele também já sabia o nome — Yoongi —, não estariam em casa nesse dia. Foram para um jantar em um restaurante com um nobre que o contratou para apresentar seus shows de mágica para os convidados. Como? Simples. Todo mundo tinha seu preço e com Irene não foi diferente. Bastou seduzi-la e dar boas jóias que ela lhe passou ótimas informações sobre os dois.
Como combinaram, a mulher estava perto do lugar em que exercia seu serviço, trajando roupas como os homens se vestiam na época. Ela odiava vestidos.
Kitty apareceu diante dela, sério e calmo, como um homem misterioso.
— Estava à sua espera — ela disse e sorriu para ele, provocante. Porém, apesar de ser bela, não atraía o alfa.
— Trouxe a cópia da chave? — indagou num sussurro.
— Sim. — Ela tirou o objeto do bolso do sobretudo e mostrou para ele, colocando na frente do rosto bonito enquanto o balançava.
Quando ele ia pegar a chave, Irene afastou.
— Dê-me o que prometeu primeiro.
Kitty exibiu um sorriso de canto. Ela era esperta. Já tinha em mãos um saco que continha jóias, entregou a Irene e ela segurou no mesmo momento que entregou a chave ao alfa.
Após tirar o laço que mantinha o saco fechado, Irene ofegou e seus olhos abriram-se mais.
— Nossa... São muitas — afirmou, impressionada. Na ocasião que fosse vendê-las, receberia um bom dinheiro. Para Kitty não faria diferença, se obtivesse sucesso em seu plano, ganharia muito mais de Kim Taehyung.
— Elas são o suficiente para você ir embora e curtir muitas viagens. Aproveite o mundo, querida Irene.
A mulher abriu um sorriso largo.
— Ah, sim! Com toda certeza, vou aproveitar, alfa. — Chegou perto de Kitty e deu um selar no canto da boca dele, desejando no fundo, beijar os lábios carnudos, e em seguida, andou até uma carruagem que a esperava na outra rua.
Iria embora de Paris.
Com as chaves em mãos, Jimin foi até o beco escuro onde deixou o galão de álcool escondido. Andou até o estabelecimento do Jeon, destrancou a porta dupla e entrou. Logo depois, trancou-a outra vez.
Sem demora, iniciou o derramamento do líquido por todos os cantos. Precisava ser rápido e prático. Despejou álcool nos móveis, sobre o palco, pelo chão de madeira…
Como tinha uma lamparina acesa, Kitty poderia usá-la para iniciar o fogo no ambiente, no entanto o que parecia ser fácil demais na mente do criminoso, transformou-se em um problema. Apareceu uma testemunha que entrou facilmente na Magic Shop. Era Yoongi, que antes mesmo de entrar, farejou um forte cheiro de álcool vindo dentro do estabelecimento e, no instante que adentrou, enxergou um homem segurando um galão praticamente vazio.
Jimin paralisou onde estava e seu coração falhou batidas, não era para ninguém ter aparecido e muito menos ele.
Yoongi arregalou os olhos e respirou com dificuldade. Foi se afastando em passos lentos para fugir dali, precisava de ajuda. Correu para a rua e começou a gritar pedidos de socorro, mas Kitty largou o galão e o seguiu sendo rápido. Alcançou Yoongi e o segurou por trás, rodeando um braço pela cintura fina e com a destra, tapou a boca dele.
Por mais que não fosse a ocasião certa, Kitty sentiu pelo olfato a essência de tangerina, deixando-o enfeitiçado e atiçando seus instintos lupinos.
Yoongi tentou se soltar, gritar, debateu-se contra o corpo do alfa e começou a chorar no momento em que notou que não iria conseguir se livrar das garras dele. Ele o segurava forte demais e o mantinha preso.
O ômega estava com medo, seu corpo estava tendo calafrios gelados. Não esperava ver o que viu. Havia ido com seu pai para uma comemoração de um homem muito rico e, como iria demorar para ser encerrado, o cocheiro do nobre o deixou próximo de sua casa. Seu pai iria continuar lá, pois foi pago para fazer seus números de mágica.
Jimin exalou seu cheiro de hortelã, precisava acalmar o ômega, pois sentiu o desespero dele.
A essência adentrou as narinas de Yoongi e o lobo interior dele sentiu. Se antes se encontrava agitado, ele se acalmou, pois o cheiro leve e refrescante do desconhecido acabou o dominando.
Kitty ouviu passos e vozes próximo de onde se situava com o ômega. Era provável que ouviram os berros do jovem loiro. Então, saiu da rua, arrastando Yoongi consigo para um canto escuro.
Uma das pessoas curiosas que apareceu, indagou-se sobre o que acontecia na vizinhança. Olhou a porta aberta da casa de Jungkook, sentiu o cheiro ruim vindo de lá e refletiu que tentaram sabotar a Magic Shop.
Yoongi tentou se soltar uma última vez do alfa quando o cheiro dele parou de entorpece-lo, porém Kitty fez o ômega desmaiar quando provocou uma lesão na nuca dele.
Horas depois, Yoongi se sentia zonzo, sua cabeça doía assim como a área que Jimin atacou. Ele estava deitado em uma cama confortável, lençóis de seda escuro cobriam sua silhueta. Piscou as pálpebras até que sua visão se tornasse nítida o suficiente para ver o teto abobadado.
Ergueu seu corpo, sentando-se no colchão e abriu mais os olhos quando sua consciência recordou do que aconteceu consigo.
Não estava no seu quarto simples, estava em um quarto luxuoso com paredes em tom escuro, os móveis eram de luxo e requintados nas cores preto e cinza, havia umas duas estátuas de pedra, uma em cada canto, o ladrilho era da tonalidade bege, a cor mais clara do aposento que possuía um estilo gótico.
Só podia estar na residência do homem que o sequestrou e isso era apavorante para Yoongi.
E infelizmente, não era só o ômega que se sentia dessa forma, além de sentir pavor, Jungkook estava desesperado com o sumiço do filho.
Quando regressou de seu trabalho na madrugada, o alfa viu os moradores reunidos perto de sua casa, e suas caras não pareciam boas, algo havia acontecido. Eles estavam fofocando sobre a tentativa de atentado contra a Magic Shop e sobre os gritos de Yoongi antes dele dissipar, principalmente a mulher que foi a primeira a notar o que ocorreu.
A reação de Jungkook foi ficar em estado de negação e angústia intensa, causando um embrulho no estômago e um aperto forte em seu coração, mais por Yoongi estar desaparecido e nas mãos de alguém que nem sabia quem era e o que poderia fazer com seu filho do que pela tentativa de destruição da sua casa. Yoongi era mais importante do que qualquer bem material para Jungkook.
Não conseguiu dormir no restante da noite, seus olhos se mantiveram abertos o tempo inteiro, estando no quarto de Yoongi enquanto seus orbes lacrimejaram, até o sol surgir e clarear Paris.
Logo cedo, desceu para o primeiro andar do prédio.
Duas mulheres apareceram, que eram vizinhas, para limpar o local, tirando o álcool do chão e dos móveis. Os tecidos e outros objetos teriam que ser trocados depois.
A polícia surgiu também, falou com os vizinhos com a intenção de obter informações, porém o que eles responderam não valeria de muita coisa. Não viram quem entrou na Magic Shop e nem o indivíduo que levou Yoongi.
Jungkook se encontrava sentado no palco, olhando fixamente para o chão, suas escleras estavam vermelhas e não escondia seu sofrimento. Não tinha razões para isso, seu peito ainda queimava em angústia. Era ruim e aterrorizante ao mesmo tempo. Não iria suportar aguentar se algo de ruim acontecesse com seu Yoongi. Ele era sua principal alegria além da mágica, estava sempre consigo em todas as situações e ainda o queria por perto, antes que ele tivesse seu próprio rumo.
Seja lá onde seu filho estivesse e com que tipo de pessoa, só queria que ele estivesse bem.
De repente, um policial investigador ficou rente à Jungkook.
Jeon levantou sua face para cima e deu de cara com um homem alto e robusto que soltou um suspiro pesado.
— Senhor Jeon, infelizmente será difícil achar seu filho. Os vizinhos não sabem de quase nada, seus relatos são inúteis, digamos assim. E sua assistente pode estar envolvida, mandei que um policial fosse até a casa dela, mas… ela já pode estar longe.
Jungkook passou a mão por seus fios negros bagunçados.
— Isso não importa. Façam o trabalho de vocês. Eu quero que achem o meu filho e prendam quem o levou... — afirmou com a voz rouca e embargada.
O homem asquieceu e continuou:
— Suspeita de alguém? Alguma pessoa o ameaçou recentemente? Falou com o senhor de uma maneira que o fizesse ficar em alerta?
Jungkook abaixou o olhar, desviando-o dos olhos atentos do investigador. Ele tinha um suspeito sim e poderia até dizer, mas naquela ocasião preferiu ficar calado. Acusar Taehyung seria um grande problema.
— Não... não tenho nenhum suspeito. — Foi suas palavras finais para o investigador. Mas omitir não significava que deixaria Taehyung infernizar sua vida.
No período da noite, no maior teatro da capital, Taehyung estava andando pelos corredores com Namjoon e Seokjin, após terem assistido uma apresentação de ópera, até que suas írises castanhas olharam o mágico Jeon andando em passos apressados até si.
Os cabelos encaracolados do mágico caiam por seu rosto, seus olhos estavam com olheiras, suas íris em vez de escuras estavam douradas e seu lobo interior em estado de completa fúria.
Taehyung paralisou, não teve tempo de reagir e muito menos seu irmão e o marido dele impediram. Jungkook meteu um soco em sua mandíbula, o que o fez cair no chão em um baque, sentindo uma dor forte no local agredido e ficando zonzo.
Seokjin gritou e foi abraçado por Namjoon.
A mão do mágico formigou e os ossos dos seus dedos doeram, mas isso não importava, era prazeroso ver o Kim cuspindo sangue da boca, caindo resquícios pelo queixo dele e com uma expressão facial de dor.
Taehyung pôs a mão na mandíbula e tinha certeza que um dente seu foi quebrado. Tossiu sangue mais uma vez, manchando suas vestes caras. E quando Jungkook iria para cima novamente, pronto para lhe dar outro soco, Namjoon o segurou.
Com os olhos esbugalhados e o coração acelerado, Seokjin se abaixou para ajudar o irmão e o ergueu.
— Por que fez isso, SEU TOLO! — Taehyung berrou.
— Isso não vai ficar assim, Kim Taehyung! — Tentou se soltar das mãos do outro alfa que segurava seus cotovelos. Ofegava enquanto seu coração só faltava sair pela boca. Estava furioso e ansiava bater mais no Kim.
— Eu não estou entendendo... — Limpou o sangue dos lábios, sentindo o gosto de ferrugem na língua. — O que você quer dizer, Jeon?
Jungkook gargalhou.
— Oh! Eu sei que você sabe, e sabe muito bem... Mas eu sei também que não vai dizer que tem culpa... No entanto, eu te digo, na frente deles dois que estão te protegendo. — Encarou o casal Kim brevemente. — Se algo acontecer com Yoongi... eu juro pela minha alma que acabo contigo, nem que eu vá para o inferno seu maldito. — E com força, se soltou das mãos de Namjoon. — Apareça amanhã na Magic Shop. E não ouse faltar.
Dando uma última olhada em Taehyung, saiu dali com pressa.
— Irmão… — Seokjin o chamou num timbre baixo.
— O que foi? — Soltou-se do ômega e se encostou na parede próxima, massageando o local atingido e respirando profundamente.
— Você mandou fazer algo contra o filho dele?
Taehyung hesitou por um instante.
— Não! Não mandei fazer nada contra ele.
— Então… — Seokjin engoliu em seco. — Porque o mágico está furioso e te acusando? O que aconteceu com o filho dele?
Kim suspirou e fechou os olhos. A dor na mandíbula era violenta. O outro alfa tinha as mãos tão fortes.
— O outro plano deu errado... Kitty não passa de um inútil… Aii! — Fechou os olhos ao sentir uma pontada de dor. — E agora está com o filho dele.
Seokjin balançou a cabeça em negação. Tudo o que seu irmão queria não estava dando certo e ele sabia que isso poderia acontecer. Ele só arranjava mais problemas, tudo por sua falta de aceitar que não podia ser o melhor e maior em tudo.
Por que os alfas tinham que ser tão competitivos?
— Isso está indo longe demais. — Seokjin sentiu Namjoon abraçá-lo outra vez. — Se algo acontecer com esse jovem, você será o culpado... — Suspirando, ele olhou para o marido que se manteve calado. Mesmo que Namjoon tenha dado o contato de Jimin para o Kim, os planos que ambos tinham não eram da conta dele. Só lidava com seus problemas e não com os dos outros.
— Vamos, querido. Você precisa descansar — Namjoon falou, acariciando a barriga de Seokjin. Ele estava esperando um bebê.
— Claro, meu amor! — disse para o marido e fitou o irmão pela última vez nesse dia. — Pense bem se quer continuar com isso, Tae — avisou antes de se afastar.
Taehyung observou os dois irem embora e fechou os olhos, inspirando e expirando devagar. No fundo, sabia que teria que parar com isso, mas o problema seria ceder e no final acabar não ganhando nada, afinal seria tudo em vão.
***
Depois de Yoongi ter acordado, Kitty apareceu no quarto em que deixou o ômega, segurando uma bandeja de prata recheada com diversas comidas: frutas, chá, leite, bolo e biscoitos.
— Dormiu bem? — o alfa perguntou e o ômega não respondeu, apenas o observou.
Kitty usava apenas uma calça preta, camisa de linho e colete preto, um broche verde enfeitava o nó do laço no pescoço. Era bonito, tinha a voz sedutora mesmo que não fizesse nenhum esforço para isso e era um alfa, mas apesar dessas qualidades, Yoongi enxergava o lado ruim dele, visto que ele queria destruir sua casa e ainda o sequestrou.
— Meu nome é Kitty! — disse sem receios seu nome de "profissão", encarando o jovem loiro todo o tempo. Como o silêncio ainda se fazia presente, ele prosseguiu: — Não precisa sentir medo de mim, ômega… Não farei mal a você. — Aproximou-se da cama.
Yoongi quase gargalhou, desacreditado no alfa.
Kitty deixou a bandeja em cima da cama.
— Coma! Tu precisa se alimentar — alegou vendo Yoongi direcionar seus olhos sem brilho para a bandeja.
O ômega não sentiu fome, era como se tivesse um embrulho em seu estômago que tirasse sua vontade de comer.
Kitty não insistiu e nem mandou ele sair do quarto. Respirou fundo e saiu sem dizer mais nada, apesar de ansiar em permanecer no ambiente que agora possuía a essência de tangerina que fazia bem a seu lobo.
Yoongi ficou o restante do dia dentro do aposento. Não teve vontade alguma de sair. Preferiu ficar pensando no pai e no que aconteceria consigo nos próximos tempos.
À tarde, o ômega comeu um pedaço de bolo, não podia manter seu estômago vazio, isso o deixaria fraco e precisava se manter firme para caso acontecesse algo de ruim.
Jimin só apareceu outra vez à noite para chamá-lo para jantar. Foi então que Yoongi decidiu sair do cômodo. Quem sabe assim, poderia conseguir arrumar um jeito de fugir da mansão. Só que na hora que olhou do lado de fora, através das enormes janelas da sala de arquitetura gótica, viu que a área em que se encontrava era afastada da cidade, pois só viu floresta diante de seus orbes assustados.
Sentados à mesa quadrada de madeira, Jimin comia um delicioso bife que ele mesmo preparou. A mansão em que ele morava possuía poucos criados e que poderiam ficar na cozinha preparando refeições, mas para se distrair, gostava de preparar ele mesmo.
Passou o dia inteiro esperando que o ômega saísse do quarto e ficou satisfeito quando Yoongi decidiu jantar consigo. No entanto, Yoongi não comia nada, só mexia o talher no alimento como se brincasse com ela.
— Não está envenenada — Kitty pronunciou e cortou um pedaço de bife, pondo dentro da boca em seguida. — Pode comer, ou ficará fraco.
— Não estou com fome —o ômega afirmou sem olhar para o alfa.
— Está sim, eu sei que está… Mesmo que esteja angustiado por estar longe de casa, eu sei que seu corpo implora por comida — Kitty assegurou num tom suave. Queria passar confiança para ele.
Yoongi sorriu nasalado e começou a soluçar. Seus olhos arderam e não conseguiu controlar as lágrimas que queriam sair.
— Se sabe que estou sofrendo então porque não me deixa ir embora? E-eu não vou dizer sobre você, não vou dizer sobre esse lugar…
— E se disser... — Ergueu a sobrancelha direita, de maneira rápida. Sentiu uma pontada no peito ao ver o sofrimento do ômega.
— Não vou... eu... eu prometo — balbuciou desesperado.
O alfa fez silêncio, um silêncio que durou minutos e que para o ômega pareceu durar horas.
Kitty respirou fundo.
— Tome um banho. Não lavou seu corpo o dia inteiro.
Yoongi engoliu em seco e limpou as lágrimas do rosto. Permaneceu em silêncio por poucos minutos olhando para suas mãos no colo. O alfa não o deixaria ir e pensar nisso causou calafrios em sua espinha.
— Tudo bem... Onde posso me lavar? — indagou num tom baixo.
— Suba as escadas, entre no quarto em que está. Lá tem uma porta que o leva para o toalete. — Bebericou um pouco de vinho.
Yoongi arrastou a cadeira para trás e saiu da sala de banquete.
No toalete, removeu toda a sua vestimenta e se lavou na banheira de porcelana. Sentia falta de sua casa, de seu pai, de ter seus dedos sobre as teclas do instrumento que era sua paixão. E ao mesmo tempo, notou que seu lobo não ficou mais angustiado e Yoongi estranhou. Poderia ser que o cheiro de hortelã o mantivesse calmo.
Aproximadamente, quinze minutos depois, Yoongi saiu do toalete com seus trajes na mão e nu. Estava sozinho no aposento, então não pensou em usar sua roupa. Quando chegou perto da cama, viu uma peça de roupa em cima. Era um robe cinza de algodão.
Ele deixou suas vestes sobre a cama, pegou o robe macio, colocando sobre sua silhueta esbelta e se cobriu.
Jimin não tinha o costume de bater na porta dentro de seu próprio lar, e na ocasião em que entrou no quarto, viu o ômega usando um único traje.
Yoongi arfou assustado e sobressaltou-se, ficando de frente ao alfa.
As írises de Kitty brilharam com ânsia ao ver a perfeição diante de seus orbes, os cabelos âmbar molhados do ômega lhe davam um charme encantador, algumas gotas transparentes escorriam por sua derme da face, descendo pela mandíbula e pescoço, sumindo pelo decote em V do robe, o que deixava a mostra o colo atraente do jovem.
Os dedos do Park coçaram, seus olhos mudaram de um azul para um negro exorbitante e seu lobo interior vibrou pelo ômega.
Yoongi apertou suas longas mãos no robe e desviou o olhar dele, corando forte, o chão parecia muito melhor de se ver. Jimin o analisava com fome e nunca viu um olhar assim em si e nem ficou dessa forma diante de outro alfa.
— Vim trazer roupas limpas para que você vista. Ficarão bem em ti. — Kitty chegou perto dele devagar e as deixou sobre o baú ao pé da cama.
O alfa não resistiu em observar o pescoço nu dele. Para Jimin era lindo demais… e uma gargantilha banhada a ouro com diamantes cairia muito bem nele. E para deixar o outro mais confortável, saiu dali com a mente cheia de devaneios pecaminosos.
***
No instante em que Taehyung atravessou a porta dupla e entrou na casa de shows de mágica, sentiu o cheiro de laranja no ar, o que o deixou com as pernas bambas sem avisos.
Um alfa afetar outro alfa dessa forma não era comum. Alfas são para ômegas, assim como ômegas são para alfas, ter noção de que Jungkook mexia com seu lobo era bem excêntrico e ficava no limite entre duas oposições: o bom e o ruim.
Bom porque o lobo de Taehyung se sentia bem.
Ruim porque o outro lobo, além de ser alfa, era seu inimigo. E foi ele mesmo que iniciou essa desavença.
Jungkook já esperava pela chegada do Kim, sentado em uma das banquetas no bar e bebendo cerveja. Precisavam resolver esse problema que tinham, antes que acontecesse uma tragédia no fim.
Taehyung se aproximou dele e sentou em uma banqueta também.
— O que você quer para devolver meu filho? — Jungkook questionou num murmúrio rouco, parecia não ter mais força para falar. Taehyung engoliu em seco. Seu lobo uivou dolorido. Talvez, pelo tom triste do outro alfa. — Quer a Magic Shop para você? Eu dou? — continuou e tomou mais um gole de cerveja.
Taehyung ficou em silêncio por quase dois minutos, pensando na proposta de Jungkook, antes de proferir:
— Me entregar a Magic Shop poderia ser uma boa troca... Se eu não fosse atacado por seus fãs, claro — disse e entortou os lábios.
Jungkook riu soprado.
— Você queria destruí-la, Kim, porque não querê-la? — Direcionou seus olhos para ele.
— São duas situações diferentes. Na primeira eu não seria afetado, agora em relação a segunda, só daria certo se você continuasse nela... O que não adiantaria de nada meus esforços — alegou, confessando indiretamente que realmente teve a ver com o ataque e o sequestro de Yoongi.
De qualquer forma, Jungkook já sabia.
— O que você quer então?
Taehyung pegou a garrafa de cerveja e um copo de uma bandeja de prata que havia no balcão. Depois, despejou um pouco no recipiente.
— Trabalhe para mim em meu teatro, Jeon.
Jungkook ficou paralisado, fechou os olhos e expirou, refletindo sobre a resposta dele. Nunca mais pensou em trabalhar para outra pessoa, estava acostumado a ser seu próprio patrão. Porém, poderia aceitar… seria por Yoongi.
Abriu as pálpebras, fixando seus olhos escuros — com resquícios de cor amarelada — nos olhos já um pouco avermelhados de Taehyung, e esse estava observando o Jeon na ocasião em que ele ponderava.
O lobo do mágico remexeu-se em seu interior e Jeon não conseguia domar o ato instintivo por causa do olhar do Kim em si.
— Devolva Yoongi e te darei minha resposta — Jungkook retrucou e desviou seus orbes do dele, voltando a beber silenciosamente, Taehyung o acompanhou.
Estarem pertos um do outro não estava causando aversão.
Após tomar várias doses de cerveja, Taehyung saiu da banqueta, ajeitando seu casaco preto.
— Tem algum telefone por aqui, Jeon?
Jungkook assentiu e convidou ele para ir até o segundo andar. Poucas pessoas possuíam um telefone nessa época. Além de caro, era produzido em pouca quantidade, até porque era uma invenção nova e recentemente que Jungkook adquiriu essa tecnologia.
A casa do Jeon era em tons mais claros, tanto a parede quanto os móveis, bonita e com poucos luxos. O lustre no teto iluminava a sala e um piano branco estava em um espaço da sala, deixando o cômodo mais sofisticado, na opinião de Taehyung.
Jungkook mostrou o telefone para o Kim e foi até o piano de Yoongi para limpá-lo com um tecido adequado que pegou da gaveta da escrivaninha. Estava um pouco empoeirado em cima já que a pessoa que fazia a limpeza não podia ir até sua casa devido a uma doença que a abateu.
Taehyung ligou para Jimin e esperou um tempo até que o outro alfa atendeu.
— Diga, Kim!
— Preciso que leve o filho do Jeon ao teatro o mais rápido que puder — alertou sem rodeios.
Jimin manteve silêncio, no tempo em que o Kim esperava ansioso para que ele respondesse.
— Espere mais alguns dias — afirmou simplesmente.
— HÃ? — Taehyung vociferou, surpreso. — Não pode estar falando sério. — Riu sem humor.
— Estou falando seríssimo. Espere mais alguns dias, Kim. Não lhe custará nada.
Taehyung bufou e rosnou baixo. Kitty só pode estar brincando comigo.
— Por qual motivo?
Jimin não respondeu e desligou o telefone.
Taehyung arregalou os olhos e encarava o fone incrédulo, teria que falar para Jungkook que teria que esperar para ter seu filho novamente e ele poderia reagir de várias formas.
Colocou o fone de volta no lugar e fitou o outro homem.
Jungkook esperou que o alfa dissesse o que falaram para ele, mas como o Kim ficou calado, decidiu falar primeiro.
— E então... O que a pessoa disse para você? — Jungkook deixou o tecido sobre o instrumento e seguiu até o alfa.
Taehyung pigarreou, endireitando o tronco.
— Ele disse que em breve você terá Yoongi.
Os olhos do Jeon se tornaram mais frios e suas mãos se fecharam em punhos.
— Quando? — perguntou com a voz arrastada.
— Ele não disse, mas não vai demorar, não se preocupe. Talvez... Talvez ele esteja ocupado fazendo outros serviços — afirmou um pouco nervoso, gesticulando as mãos.
Jungkook soltou um riso sarcástico e caminhou até a porta. Segurou a maçaneta, olhou para Taehyung e fez sinal com a mão para que ele o seguisse para saírem da casa.
Taehyung o acompanhou.
— Que não esteja acontecendo nada com ele — Jungkook suspirou.
— Ele não vai fazer mal a seu filho... Isso eu te garanto. Não era isso o que eu queria, não era.
Jungkook ficou em silêncio. Terminaram de descer as escadas completamente calados e isso se manteve até Jungkook deixar Taehyung na porta da Magic Shop.
Ficaram de frente um para o outro.
— Só... espere mais um pouco — Taehyung voltou a falar e, por impulso, tocou na mão do Jeon, sentindo um tremor por todo seu corpo, como se o alfa fosse uma fonte de energia e ele estivesse espalhando-a por todo o seu íntimo, além de seu sangue quente ter iniciado uma circulação desesperadora por suas veias.
Jungkook prendeu a respiração e lançou suas írises para o contato que o outro fazia em sua tez e, em seguida, na mesma velocidade lançou seus orbes para o Kim. Afastou sua mão dos dedos dele, antes que o outro notasse os pelos de sua pele arrepiados.
Jungkook se distanciou com pressa e entrou no estabelecimento, confuso por seu corpo ter sido tão fraco com um simples contato de alguém que quis sua morte e que lhe trouxe problemas.
Taehyung ficou parado como se seus pés estivessem presos no chão. Sua mente ficou uma bagunça, atônito por sua ação e por ter experienciado sensações que Jungkook provocou em si, um homem que desejou que morresse por causa de seu ego ferido.
Perguntou-se o porquê seu corpo reagiu instantaneamente por um alfa, sendo que alfas não podem ficar com alfas.
Enquanto ele refletia sobre o que ocorreu, em outro lugar um pouco afastado da cidade parisiense, perto da floresta, onde havia uma mansão estilo gótica, estava Jimin na sala junto com Yoongi. Não dialogavam, preferindo o silêncio.
Kitty pôs o fone no suporte do telefone e olhou para o ômega. Yoongi tomava um chá morno de canela com mel, pois gostava. Sentindo o olhar do alfa em si, fitou os olhos azuis alheio com seus olhos cor de mel.
— Até quando ficarei aqui em sua casa? — Yoongi inquiriu.
Silêncio.
Jimin não retrucou a indagação do jovem.
— Toque piano para mim — pediu.
Yoongi arregalou levemente os orbes. Seus dedos formigaram. Sentia tanta falta de tocar. Foi por isso que não exitou em realizar o pedido do alfa e deixou a xícara na pequena mesa ao lado da poltrona onde estava acomodado e se levantou.
— Onde está o piano?
Jimin se ergueu também e começou a caminhar em direção ao salão de música, sendo seguido pelo ômega.
Yoongi ouvia as batidas de seu coração disparadas, ansioso demais, sem saber realmente se era pelas saudades de tocar ou se era porque iria tocar para o alfa.
No salão espaçoso havia um piano marrom no centro. Os lábios finos de Yoongi esticaram sutilmente em um sorriso ao ver o instrumento.
Jimin seguiu até o divã e deitou sobre a mobília preta com o corpo de lado, apoiando sua cabeça na palma da mão. Sua respiração estava pesada, afinal aguardava com ansiedade qual música o outro iria tocar.
Yoongi, um pouco tímido, andou até o piano e sentou no banco almofadado. As teclas estavam em sua visão e as acarinhou como se estivesse tocando em algo precioso e delicado como uma porcelana. Depois de alguns minutos, em que ficou conhecendo o piano, iniciou uma canção leve, calma e nostálgica...
Jimin cerrou as pálpebras e seu coração bateu mais forte.
Essa música era conhecida por ele e o fazia lembrar de um passado distante em que seu pai tocava músicas no piano para si e para sua mãe, em um tempo em que foi verdadeiramente feliz antes de perder sua família para um assassino, e desde então ficou sozinho, tendo que roubar para se sustentar e sobreviver, enquanto seu senso de fazer justiça pelas próprias mãos crescia em seu peito.
E no tempo em que foi crescendo, tornou-se um assassino frio depois de cometer seu primeiro assassinato, matando o homem que matou seus pais.
Jimin deixou uma lágrima quente e dolorosa escorrer por sua pele facial.
Yoongi tirou suas írises das teclas do instrumento, sem parar de tocar, e viu o momento em que Kitty passou seus dedos nos olhos, limpando a água que saiu de lá e se perguntou as razões para o alfa fazer isso.
Jimin ainda sentia falta dos pais, entretanto não podia fazer nada para tê-los outra vez e seguia sua vida sozinho, continuando a cometer os crimes que fazia, porque era assim que ele preferia viver.
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Magic Shop | Taekook αβΩ
FanfictionTERMINADA Magic Shop é uma casa onde acontecem shows de mágica do ilusionista Jeon Jungkook. Os shows do alfa Jeon se tornam populares e crescem na capital francesa, recebendo sempre muitos clientes, inclusive, aqueles que costumavam frequentar o ma...