Desamparo

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Há momentos devastadores em que você, por estar com os nervos à flor da pele, sente como se o seu corpo estivesse em chamas. Outros em que você está tão apaixonado que você consegue escutar seu coração batendo forte, quando não para de pensar no seu estimado. Mas, também há a situação onde você não tem ideia do que está sentindo, onde parece que o mundo lhe jogou um balde de água fria e não dá para processar o que está acontecendo. Emma Dashwood se sentia assim.

Em Hartfield Hall, residência que fica localizada no abastado condado de Rosings, estavam presentes na sala de refeições: Emma, sr., sra. e srta. Charlotte Fairfax e, é claro, os irmãos Knightley, Fitzwilliam e Gerald.

Emma ainda estava em pé no canto da sala da casa de Charlotte, sem ter sido vista pelos outros. Os familiares estavam propondo um brinde para os novos noivos assumidos. A morena estava sentindo que o mundo não estava mais segurando ela, era como se tudo estivesse em lento, não sentia os movimentos de seu corpo.

Um brinde aos nossos noivos. Charlotte Fairfax e Gerald Knightley! Isso era real? Como poderia estar acontecendo assim do nada?

Fitzwilliam se encontrava atrás de Emma, já não segurava mais seu braço. Ele havia tentado a impedir de visitar Hartfield Hall essa tarde, maldita hora que a jovem resolveu ser teimosa. Emma estava tão estagnada que não se lembrava da presença dele, sentia enjoo, precisava de ar puro. Deu um passo para trás mas acabou pisando nos pés dele, que com o instinto acabou recuando e batendo na porta. Todos os que estavam na mesa se viraram para os dois. O Gerald sorridente se tornou Gerald branco como a parede:

- Srta. Dashwood? Você veio! - comemorou Charlotte, ainda com a sua taça em suas mãos, mas sem dar um único gole. - O que os dois estão fazendo aí em pé parados? Venham se sentar imediatamente. Estamos no fim da refeição, mas guardei um pedaço de torta para a srta. Dashwood, sabia que ela iria chegar - ela diz sorrindo para os pais, que ainda tentavam reconhecer quem era a morena de cabelos ondulados que parecia estar vendo uma assombração em sua frente.

- Ah... Não precisa. Eu... eu estou de saída - gaguejou Emma, tentando se virar para a saída, porém Fitzwilliam ainda estava na frente da porta.

- Mas, já? Isso não faz nenhum sentido. Acabou de chegar - respondeu a mãe de Charlotte secamente. Tinha os mesmos cabelos ruivos cor de fogo da filha e o rosto delicado como um dente-de-leão.

Emma encarou Fitzwilliam, e ele tinha um olhar que dizia que não ia adiantar inventar uma desculpa nessa altura da cena. A morena engoliu seco e deu um falso sorriso, não estava se sentindo nada bem e não queria tentar fingir que estava. Era como se tivesse um vazio que se expandia em seu peito cada vez que ela olhava para Gerald ou Charlotte, fazendo ela desviar o seu olhar para o chão brilhante. Era muita informação que corria na sua cabeça, muitas memórias. Pensava que nada poderia piorar, mas, no primeiro passo dado, Emma cambaleou e quase tropeçou no seu próprio pé.

Fitzwilliam para assegurar que a dama não tropeçasse novamente e evitar causar mais uma cena para ser discutida quando ela fosse embora, se apressou e colocou a mão de Emma em volta do seu braço, para guiá-la até a sua cadeira sem cair. Os dois sentaram juntos, ela queria implorar para que ele a ajudasse a ir embora, já ele queria lhe dizer um honesto e impiedoso: Eu lhe avisei.

A sala ficou silenciosa, Emma não ousava abrir a boca para falar nada, apenas para comer aquela torta de chocolate o mais rápido possível. Charlotte parecia desnorteada com o comportamento dela, de Fitzwilliam e Gerald, suas bocas viraram graves.

- Ah... Hm... Srta. Dashwood, nos diga, por que chegou tão atrasada? - Emma conseguiu ver no olhar da srta. Fairfax o desespero para que esse clima silencioso horrível não arruine o seu dia especial. - Foi por pouco que não saiu daqui de estômago vazio.

Desejo e ReparaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora