Au Revoir

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Na residência dos Dashwood sempre houve uma diferença gritante entre as personalidades das irmãs. Nada que o pai delas não notasse, óbvio. Ele costumava pensar que elas eram como polos opostos, Emma e Anne nas pontas extremas e Jane no centro. Sendo um equilíbrio entre o pavio curto de Emma e o jeito calmo de Anne. Não só ele perpetuava essa ideia, pelo visto.

Ter que dar essa notícia à Emma e Jane seria uma tarefa difícil, não esperava que elas fossem ficar tranquilas. As duas tinham motivos para ficarem perplexas, pois ainda estavam sensíveis com o fato de seu irmão ter ido embora no dia anterior e, agora, teriam que lidar com mais uma partida. Juntou-se com as duas na sala de desjejum, fez questão de que ambas se sentissem confortável e não notasse o nervosismo vindo de Sir Dashwood.

- Qual o motivo desse encontro, papai? - perguntou Jane, com o tom de voz instável. Será que ele havia descoberto sobre sua mentira? Não poderia ser isso, pois ele chamou sua irmã, então Jane se acalmou um pouco.

Sir Dashwood não a respondeu, estava se recordando sobre as palavras ditas por sua irmã na noite anterior. Tentando formular o seu discurso. O diálogo se reprisava em sua mente como uma peça de teatro recém assistida.

- Se não se importa, minha querida irmã, poderia me averiguar sobre o motivo da sua decisão - ele pediu. - Me parece algo óbvio para você, mas para mim não é.

A sra. March se afastou da porta e foi se sentar à sua frente. Resolveu ter uma conversa sincera com seu irmão, como não haviam tido há anos:

- Andrew, se está interessado em saber qual foi a minha opinião final em torno dos dias que estive hospedada em Meryton, é só avisar - confiante, sra. March acendeu o seu cigarro e prosseguiu: - Vamos reformular essa história desde o começo. Eu estava em Paris, maravilhosamente vivendo minha vida, indo aos eventos que era convidada e sendo a perfeita esposa de Hobbes March, querida por todos. Meu marido ficou doente, tenho certeza que foi por causa do inverno que tivemos que enfrentar na Irlanda, mas, o que poderíamos fazer? Ele tinha um concerto importante para apresentar, preferia morrer do que ficar fora dos palcos. Bom, ele ficou doente... por meses. Nesse tempo, o verão voltou, eu fiquei sozinha, Hobbes pedia para eu não ficar trancafiada em casa, não faria bem para a minha sanidade mental. Resolvi deixar minha agenda de compromissos abertos, e o que não faltaram foi convites, fui para bailes, jantares e concertos, porém, mesmo assim estava faltando alguma coisa. Lidar com aquelas pessoas com classe era algo que eu estava acostumada desde que saí da Inglaterra, então tudo aquilo não tinha mais graça, nem encanto - ela tomou uma pausa para baforar.

Sir Dashwood notava como os caminhos deles dois tomaram se diferem. Ambos se casaram por amor, mas Alexandra não pode ter o que toda mulher almeja: uma família e um lar. Sempre viajando por países, sem se estabilizar por um lugar completamente, sempre indo para onde o seu esposo era chamado, ela devia sentir um vazio imenso. Um vazio que nenhuma fama poderia agregar para que ela pudesse se sentir em paz.

- Você queria um filho - disse o homem. - Mas, é infertil.

Aquelas palavras certeiras fizeram os olhos dela parecerem perdidos. Ela deu um suspiro profundo e escondeu o rosto com a mão livre do cigarro. Era um assunto delicado para ela, mas, mesmo estando com uma pessoa confiável, a sra. March não iria desmoronar.

- Impressionante como nós dois nos amamos, porém ao mesmo tempo nós invejamos - sibilou Sir Dashwood. Alexandra deu um riso fraco.

- Você queria ter meu dinheiro, e eu a sua família - falou. - O ser humano é falho e nunca está satisfeito com o que tem. Eu só queria, pelo menos, um filho, e vem você, com quatro crianças saudáveis. Mas, você falhou com elas, Andrew.

- O que está insinuando?

- Desde que cheguei aqui, percebi que você tinha uma afeição maior pela a mais velha, Jane, ela é o seu bem mais precioso, não tem como negar. Entretanto, o falecimento de Eleanor deixou um buraco nessa casa que você não pode preencher sozinho. Os seus filhos cresceram sem uma figura materna, Andrew, eles são perdidos.

Desejo e ReparaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora