Da criança que acreditou primeiro para a mulher que deixou de crer

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THERESA

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THERESA

Minha história começa na Califórnia, no bairro de Cheviot Hills, Los Angeles, onde cresci entre vários deuses diferentes, porém nunca soube ao certo qual deles era real, afinal, são tantos que me lembro perfeitamente de alguns me causarem medo quando eu era criança, ao folhear os livros de estudo do meu pai ou Christopher Walter Evans como era conhecido. Por ser historiador e estar em plena pós-graduação sobre história da religião, meu pai possuía uma biblioteca gigantesca e fazia questão de me ensinar sobre seus aprendizados, mas não se engane pois era apenas isso, já que meus pais tinham como base de vida o ateísmo e nunca sequer acreditaram em nada. E minha infância foi assim, frequentando as melhores escolas e cursos e sempre repleta de muito estudo que quase não me sobrava tempo para brincar e então, aos cinco anos iniciei no balé, mas também estudava espanhol nas horas vagas e não demorou muito para que eu tivesse aula de música com a minha mãe, a qual era extremamente rígida. Lilian Elizabeth Evans, professora de música e dança, e a melhor pianista nos tempos dela logo, eu deveria fazer o mesmo: ser a filha exemplar e estudiosa para me encaixar na família, e assim permaneci, nesse ritmo sufocante e exaustivo pois aos seis anos, além do jazz e do espanhol, iniciei no francês, já que segundo os meus pais, passaríamos um tempo na França no ano seguinte e era necessário que eu soubesse ao menos o básico do idioma daquele país.

E aconteceu, dos sete aos dez anos, morei em Paris, num bairro muito chique, porém difícil de pronunciar, chamado 7ème arrondissement no apartamento Paris 7ème Champ-de-Mars, Ecole Militaire, mas você deve estar se perguntando: como ainda me lembro desse nome se eu tinha apenas sete anos de idade? Aconteceu que dias antes minha mãe havia me dito uma frase enquanto eu arrumava as malas e recordo-me bem dessa cena, quando ela veio até o meu quarto com papel e caneta nas mãos, me colocou na mesinha próxima a janela e me obrigou a escrever o nome do bairro e do apartamento no qual iríamos morar. Bem, foram mais de cem linhas escritas naquele dia com a voz insuportavelmente irritante da minha mãe soando em meus ouvidos sem parar: Não se atreva a olhar para mim desse jeito, quem você pensa que é, garota? Eu sou sua mãe então vai fazer o que eu mando, entendeu? O seu pai tem reputação como historiador, não queira estragar isso sendo a filha burra da família. Aquilo me atingiu em cheio e me questionei: o que mais eu precisava fazer para minha mãe me amar? Seria eu um erro? Por que diabos era tudo culpa minha? Naquele instante, mesmo ainda criança, eu havia tomado uma decisão, que era de sempre dar o meu melhor independentemente da situação ou do lugar em que eu estivesse, comecei a dizer para mim mesma que quando fosse adulta, teria a profissão dos sonhos e seria uma pessoa bem-sucedida em todos os quesitos, porque se havia um parâmetro para a perfeição, eu estava disposta a alcançá-lo só para me encaixar na família Evans.

***

(OS) DEUS(ES)

A primeira religião que me foi introduzida aos sete anos através do meu pai foi o espiritismo e me lembro de ter lido inúmeros livros sobre Allan Kardec, ter visto alguns filmes, documentários sobre o assunto e ainda de ter tido a oportunidade de visitar uma sessão espírita com meus pais nessa mesma idade, onde aprendi sobre o tal do passe, o que era, para que ele servia e como era feito. Descobri também que era possível falar com os mortos e que eles respondiam de volta, algo que jamais ousei pensar ser real e que tudo não passasse de uma ficção de cinema logo, aos oito anos, ganhei o meu primeiro tabuleiro Ouija com intuito de praticar o que eu havia aprendido no espiritismo. E bem, assim eu fiz, invoquei os mortos por assim dizer e tentei conversar com uma prima que já havia falecido dois anos atrás, mas que eu ainda me lembrava dela com muito carinho, portanto, entre incensos e velas acesas, coloquei ao lado uma boneca que ela tinha me presenteado quando eu era menor (exatamente como me ensinaram) e esperei.

Os Quatro Mundos de Hannah Miller (REVISADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora