Os balões e os peixes

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HANNAH

Eu ainda não havia me acostumado com aquele lugar então foi estranho acordar ali outra vez no segundo dia. Ao me levantar, puxei uma cadeira da escrivaninha e me sentei de frente para o espelho a fim de pentear os meus cabelos.

— Hannah, está acordada? Posso entrar? — perguntou Agnus batendo na porta.

— Entre.

— Pensei que ainda estivesse descansando, dormiu bem? — disse Ele.

— É, acho que sim.

— E está melhor? Digo, sobre o que aconteceu ontem, fiquei preocupado com você. — e cruzou os braços.

— Ainda não entendi por que me fez dizer aquilo em voz alta. — respondi.

— Mas vai entender. — falou se aproximando de mim.

— Sabe o que eu acho mais extraordinário? — Agnus estava bem ali ao meu lado olhando-se também naquele espelho.

— Não, o que?

— O fato de você ser tão parecida comigo em cada traço do seu rosto.

— Bom, eu estarei lhe esperando lá embaixo e após o café da manhã, quero lhe mostrar uma coisa. — prosseguiu deixando o quarto em seguida.

Aquela frase me atingiu intensamente por dentro. Ali, sentada e ainda olhando o meu reflexo, não conseguia entender o porquê Agnus havia dito aquilo, afinal, eu sou Hannah Miller, será que tudo o que fiz, vivi e falei não importa para Ele? Logo notei que quanto mais eu o rejeitava, mais Ele demonstrava o contrário e, na mesma proporção em que eu me afastava, mais Ele parecia interessado em mim, interessado em me conhecer melhor, e no exato momento em que ouvi que éramos parecidos, soltei um sorriso bobo, como aqueles indícios que demonstramos quando percebemos que estamos gostando de alguém.

Depois da refeição matinal, Agnus me convidou para dar um passeio pois segundo Ele, queria me ensinar algo. Deixamos o castelo, atravessamos a ponte e caminhamos até o jardim, mas meus olhos não puderam acreditar pois nada em minha mente conseguia se recordar de ter visto alguma vez paisagem tão espetacular como aquela. Próximo dali, havia algumas árvores e um rio com a mesma água que cercava o baluarte, a mesma água límpida a qual jamais contemplei em minha vida.

— Preparei uma brincadeira lúdica para nós dois. — disse Ele após colocar um rádio entre as flores, contudo, ainda parecia esconder algo atrás das costas.

— Não vai me dizer que é barro com água de novo. — resmunguei.

— Dessa vez eu acho que você vai gostar, pronta? — e me entregou um balão vazio em mãos enquanto ficava com o outro.

— Primeira tarefa, vamos encher esse balão e quando terminar, explico como vai ser. — falou.

E assim eu fiz e quando acabamos, Ele me deu um pequeno alfinete.

— Aproxime vagarosamente o material pontiagudo do balão, mas não o estoure. Agora vamos lá, quero que preste bastante atenção Hannah, temos balões diferentes, certo? E temos esses alfinetes, qualquer um de nós dois que guardar o balão até o final, será o vencedor da brincadeira. — completou.

— Espera, é para eu correr ou tentar estourar o seu balão? — perguntei enquanto dava passos para trás.

Ele deu de ombros e em seguida, colocou uma música para tocar no rádio que trouxera.

Ao som de A Million Miles Away, Hawk Nelson, abracei o meu balão e corri em meio as flores. Agnus, vindo logo atrás de mim, protegia o balão dEle no mesmo instante que também tentava pegar o meu.

Os Quatro Mundos de Hannah Miller (REVISADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora