Onde os mundos se colidem

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HANNAH

[Terça, 28 de junho, 3 dias antes da apresentação]

Após o término da célula, decidi descansar um pouco no deck de madeira da lagoa que ficava atrás da minha Igreja.

— Oi, está fazendo o que? — interrompeu Kael chegando depois de uns dez minutos.

— Nada, só pensando, gosto daqui porque me acalma.

— Posso ficar ou prefere que eu vá embora? — perguntou ele já se sentando ao meu lado.

— Sabe que sempre é bem-vindo em qualquer momento da minha vida. — respondi.

Ele sorriu.

— Feliz em te ver assim, Hannah.

— Assim como?

— Com esse brilho nos olhos quando falamos sobre Jesus, com essa paixão pelo Evangelho, entende? Quero dizer, alguns anos atrás você estava distante, fria, triste e ninguém sabia o motivo. Mas agora já até ora as pessoas e elas são curadas. — explicou ele enquanto gesticulava.

Soltei um sorriso, foi automático.

— Sabe, por esses dias eu estava fazendo meu devocional, até que parei em um blog cristão que dizia algo bem interessante de falar sobre e falar de.

— Falar sobre e falar de?

— Veja, quando alguém fala sobre Deus, fala de fora já que nunca o experimentou, porém quando alguém fala de Deus, fala de dentro para fora, simplesmente porque já viveu aquilo.

— É tão óbvio, mas quando paramos para pensar, começa a fazer sentido sobre o fato das pessoas, ou melhor dos cristãos, quererem falar do Evangelho de Cristo para outras pessoas, mas eles próprios tão pouco viveram isso. A gente insiste em falar sobre algo, a gente se esforça, só que é preciso experimentar de dentro para fora, pois somente assim iremos impactar essa geração. — completei.

Kael ficou em silêncio por alguns segundos.

— Nossa, eu nunca tinha pensado dessa forma. Será que passei a vida toda apenas falando sobre Deus e não de Deus? — questionou ele.

— Basta analisar a situação e refletir: será que consegui impactar alguém?

— Bom, dois amigos meus aceitaram a Jesus como Salvador e se batizaram alguns meses depois.

— Então, você falou de Deus e eles viram que você estava falando de dentro para fora e não apenas superficialmente. — respondi, dando um leve toque no ombro dele como um sinal de ok, está tudo bem, você se saiu bem nessa missão.

— Como eu disse, você de fato mudou, Hannah Miller e como seu irmão mais novo, quero que saiba que estou muito orgulhoso. — e me olhou fixamente com um sorriso no rosto.

— Valeu. É o único que sempre foi compreensivo sobre absolutamente tudo.

— Compreensão é o meu forte, mas me conta, como é que ficou naquela noite entre você e a Theresa?

Suspirei ao relembrar.

— Ah, não foi uma noite totalmente ruim, o jantar estava ótimo até porque Thesa sempre cozinhou muito bem, obrigada. Só que ela não acreditou muito em mim quando deixei claro sobre o fato de que eu não me relaciono mais com mulheres. — falei.

— Bem, o que eu poderia esperar de uma agnóstica, não é mesmo? Até que ela me beijou.

— Te beijou assim do nada? — disse surpreso.

Os Quatro Mundos de Hannah Miller (REVISADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora