[ 15 ] dentro das leis

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Fora desperta logo cedo, quando olhou para a pequena janela que tinha na cela viu que o sol ainda nem sequer havia nascido. Mas no presídio tudo já estava aos caos ouvia gritos, apitos, e risadas.

Levantou-se da cama esfregando seus olhos, Selma já não estava mais no quarto, Polly e Yolanda ainda dormiam. Desceu num pulo, ainda adormecida não sabia ao certo o que estava fazendo. Pegou suas coisas para cuidar de sua higiene.

Saindo de sua cela percebera as detentas reunidas e debruçadas nos corrimãos. Havia algo acontecendo na parte de baixo.

Aproximou-se da beira da escada e viu de longe que era Nicky envolvida em alguma briga. Naquele momento Tiffany quis ela mesma surrar a cara da jovem, mas apenas revirou os olhos e decidiu ignorar. Não estava disposta a se arriscar por mais ninguém em sua vida.

Desceu as escadas e caminhou para o banheiro. Entre os corredores observava as detentas em suas atividades semanais, começou a pensar que talvez fosse a hora de procurar alguma para fazer além de ler todos os livros da biblioteca. Aceitar a realidade de verdade.

Dentro do banheiro estava pouco movimento, ainda era cedo demais. Haviam duas detentas aos risos uma a outra, Tiffany deduziu que tinham algo entre elas e pelo reflexo do espelho vira ambas comendo maconha. Franziu suas sobrancelhas pensando em quão esquisito eram os millenials.

Enquanto escovava os dentes sua mente lhe trouxe Nica e sentiu seu coração acelerar em pensar em qual poderia ter sido a reação dela ao ler sua carta, se Antônio já tinha entregue a carta para Nica. Desejou ser uma mosquinha naquele momento para saber a reação da morena.

Cuspiu o excesso de espuma da pasta e lavou a boca. Encarou-se pelo reflexo do espelho e se deixou levar pelos pensamentos do que poderia acontecer depois da carta. Tinha medo de que estivesse acreditando nisso sozinha, ainda mais depois que Antônio dissera que Nica estava se preparando para casar. Era assustador pensar que Nica já podia ter virado a folha desse livro, ao quão ainda parecia estar escrevendo juntas para Tiffany. Suspirou.

— Seja como for, se não for... Eu ficarei bem. E entendo. Entendo. E entendo. Ficarei bem. Eu ficarei.

Reafirmou para si pelo seu reflexo. Não sabia exatamente se afirmações positivas realmente eram algo poderoso como os esoteristas diziam, mas precisava acreditar em algo para não alcançar o pico de sua loucura.

Deixou o banheiro e decidiu ligar para Antônio, precisava de notícias e não iria saber esperar até que o dia de fato amanhecesse. Deduziu que fosse cinco da manhã, quase seis e essa hora Antônio já estava de pé para abrir seu armazém.

Passou pelos corredores, os olhos das detentas sempre direcionados a ela, entre uma mistura de olhares de desejo com olhares que pareciam querer cortar sua garganta fora. Havia também os olhares dos guardas e policiais, parecia que quanto mais jovem fosse, mais tinham essa tara repugnante por Tiffany. Ela detestava ver o olhar dos guardas sobre ela.

Depois de seu relacionamento com Charles, tinha um pavor que não conhecia bem em relação a esses olhares masculinos porque qualquer olhar lembrava-a do mesmo olhar com qual ele costumava a olhá-la, como um grande pedaço de carne e ele um lobo faminto. A verdade que mesmo após anos distantes do homem ela ainda tinha milhares de trauma que não conseguia lidar.

Passou dezessete anos de sua vida ao lado de Charles, houveram grandes momentos juntos, no começo. Eram adolescentes quando começaram a namorar.

Conheceram-se numa boate, e depois viveram juntos até então. Entretanto, só realmente matava alguém quando ambos estavam juntos. Era como um momento especial entre eles. Mas tornou-se realmente uma compulsão para Tiffany quando seu relacionamento com Charles desceu ladeira a baixo, quando o homem começou a agir de forma abusiva.

Para Morrer de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora