6- Saindo da toca

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Lily me leva pra caminhar pela praia, o sol já estava se pondo quando Lily se vira mim animada e diz:

– Vamos nadar ou só ficaremos andando aqui?

– Eu não sei nadar

– Sério? Mesmo assim, olhe para o mar, ele está calmo e qualquer coisa eu te salvo.

Lily pega na minha mão e vamos em direção à beira do mar mesmo que contra minha vontade.

– Eu não vou soltar tua mão nem por um segundo lá então não tem o que temer, e caso ainda tenha suas dúvidas se eu tiver mentindo que um raio caia sobre a minha cabeça agora

– Ei pera, na sua cabeça não senão morre eu e você

Lily para no meio do caminho e diz:

– Eu não tinha parado para pensar nisso, que seja na Amandinha então - e então volta a caminhar

– Coitada de Amandinha - Começo a rir e Lily começa a rir juntamente a mim

– Antes ela do que nós duas, você não acha? Ou prefere ficar pela eternidade sem comer bolos de laranjas?

– Acho que Amandinha dá conta então.

– Sorte que eu não estou mentindo. Acho que nem ela aguentaria um raio - ri enquanto finalmente a água chega na altura dos nossos joelhos.

– Eu vinha para cá quase sempre com meus pais quando eles estavam livres do trabalho mas agora só venho às vezes mesmo. - ela diz com um semblante de saudades e um leve sorriso

– E onde eles estão agora?

– Bem, em alguma cidade que eu não sei direito. Eles são músicos e tem uma banda e mesmo assim ainda ajudam muito minha avó com o Gato-café nas finanças.

Saber daquilo me deixou sem palavras então apenas fico quieta olhando o sol se pondo e sentindo as ondas vindo na nossa direção. Lily percebe meu silêncio e complementa:

– Não precisa ficar sem falar nada, conversamos quase todos os dias Bianca e ainda de vez em quando nas férias consigo ver seus shows, que sempre são incríveis e acho que você iria adorar ver algum dia

– Pensei que fosse algo super triste mas na verdade eles parecem ser bem legais. O meu pai ficou em Rio Claro depois que decidiu se separar de mamãe para ficar com uma loira qualquer - digo isso fazendo careta ainda lembrando da primeira vez que vi Andréia, minha madrasta.

Por alguma razão Lily começa a rir e percebo que deixei transparecer demais o que penso sobre a minha madrasta.

– Que sorte que você não me odeia, acho que ficaria muito evidente pelo jeito - ri enquanto me puxa para mais perto do mar

Fico apenas calada já que a água me distraiu, estava fria mas estava bom.

– Bem, quer tentar nadar ou ir para mais fundo? Dizem que sou uma ótima professora

Apesar de me sentir segura segurando na mão de Lily eu nego com a cabeça e minha cara já dizia um belo não explícito.

– Certo, então vamos ficar por aqui. A água está só na nossa cintura então sem perigos.

Ficamos andando pela água até o momento em que cansamos e voltamos para onde estava as nossas coisas.

– Nenhum raio nem nada, cumpri minha promessa.

É impossível não rir daquilo e apenas complemento:

– Acho ótimo já que Amandinha vai ter que levar a gente para casa, não? - digo enquanto sento para descansar um pouco e Lily aproveita para arrumar as coisas e colocar seus shorts

A ajudo com as demais coisas e começamos a voltar para casa na bicicleta amarela que já chamo carinhosamente de Amandinha

– Quando você morava em Rio Claro você ia para lugares assim?

Penso um pouco no que vivi em Rio Claro e de longe posso dizer que tive uma vida calma comparada à Nova Fortuna

– Eu nunca fui o tipo de pessoa que saía de casa ou tinha muitos amigos para passear e coisas do tipo, eu apenas saía para lutar ou ia com a minha melhor amiga para alguns lugares diferentes mas sempre era no shopping ou coisa assim.

– Pelo menos você tem sua melhor amiga lá e agora tem a mim para te levar para alguns lugares. Você vai fazer bons amigos por aqui, confie na minha intuição

– Acho que sua intuição está quebrada

Lily olha rapidamente para mim e faz uma careta de indignação como se estivesse imensamente ofendida com aquilo, que me faz rir e a deixa levemente corada - depois de alguns minutos chegamos na entrada da minha casa.

Mamãe estava na entrada de casa varrendo a calçada. Ela nota a nossa chegada e diz:

– Bem-vindas, se divertiram na praia? -diz com um sorriso simpático

– Sim, claro senhora! - diz Lily, já cansada porém ainda animada com o dia.

– Oras por favor me chame apenas de Lúcia, quer entrar e comer alguma coisa? - oferece e continua: –é um verdadeiro milagre você ter conseguido tirar Bianca da toca dela em um sábado.

Toca? Sério mãe? Aquilo me deixa constrangida mas Lily parece bem à vontade e nem percebe que estou morrendo de vergonha com isso.

– Agradeço mas preciso voltar para casa, só vim entregar Bianca de volta à toca - ela diz rindo falando as últimas palavras e antes que Lily dê meia-volta ela me entrega algumas conchas e diz:

– Percebi que você tinha gostado das conchas e pensei em pegar isso para você. Agora realmente preciso ir - diz enquanto me entrega algumas conchas nas minhas mãos que me deixa com o rosto corado e com o coração descompassado e então Lily começava a pedalar de volta para casa.

Subo para meu quarto para ligar para Lia e enquanto conto sobre a praia e tudo, a vejo surtando por conta disso e conta:

[E você ainda duvidava das minhas previsões do futuro e agora tá aí com essa Lily]

[Está com ciúmes de Lily?] - Digo tentando irritar Lia

[Claro que não, onde posso agradecer aos seres divinos por terem feito isso?]

[Exagerada, eu nem gosto da Lily dessa forma]

[Sim, sei] - termina em tom irônico e prossegue:

[Mas mudando de assunto, acho que nas férias consigo ir para Nova Fortuna passar uns dias por aí]

Aquela notícia me fez perceber que os dias passaram e eu nem percebi, daqui um tempo começará as férias e mal podia esperar para aquilo agora. Damos gritinhos em comemoração e depois disso começamos a falar sobre assuntos aleatórios até o momento que Lia precisa desligar para fazer algo importante.

Definitivamente o melhor dia de todos.

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