Se num instante se nasce e num instante se morre, um instante é o bastante pra vida inteira. — Cecília Meireles.
A felicidade é um sentimento temporário, mas não é um sentimento limitado. Ela vai embora, mas sempre faz seu retorno. E é justamente sua efemeridade que a torna tão preciosa. Ela não é um estado constante, e sim uma série de pequenos momentos que formam lembranças confortáveis. Apesar de Sirius Black saber muito bem disso, ele nunca seria capaz de descrever aqueles anos como nada além de uma constante imersão em êxtase, por mais distante da realidade que pudesse soar. Por mais infantil que um período de tempo tão longo de contentamento parecesse, ele sempre se lembraria dos momentos divinos que preencheram aquele tempo, como se fosse uma época protegida por um campo dourado, intocável aos horrores do mundo real. Como um conto de fadas particular.
Ele não se recordava qual dos dois tinha trazido o assunto à tona, mas tinha bastante certeza de que a ideia havia surgido simultaneamente em seus cérebros, em uma operação de alma gêmeas (o que eles inegavelmente eram, afinal). De início, Sirius reprimiu a ideia. Era estúpido demais para ao menos considerar. Uma loucura! Fugir no meio de uma guerra, desistir de lutar por aquilo que acreditavam… Logo eles, os grifinórios, os soldados que curariam o mundo de toda a supremacia de sangue ridícula. O traidor de sangue e o lobisomem; suas meras existências eram uma forma de luta, eles não iriam simplesmente deixar tudo para trás. Era tão absurdo que virou motivo de riso entre os dois, sendo jogado aleatoriamente nos almoços como uma velha piada interna.
— Moony, eu fugiria com você só para que a gente possa comer o seu bolo de chocolate longe de todo mundo para sempre — Sirius diria enquanto saboreava qualquer sobremesa de chocolate que seu namorado ridiculamente talentoso preparava.
— Eu fugiria com você só para passar meses em casa lendo! Como eu sinto falta de um pouco de paz — Moony diria depois de alguma batalha muito difícil com comensais da morte. — Se bem que, se eu quiser paz, teria que te deixar para trás, o que desviaria um pouco do ponto…
E os dois riam destes comentários inocentes. Eles tinham dezenove anos de idade. Eram jovens e despreocupados. Haviam saído de Hogwarts há pouco tempo e ainda acreditavam que o mundo lhes pertencia. As batalhas com os comensais, as reuniões com a Ordem, tudo parecia incrível. Eles eram os heróis dentro de uma guerra. Fadados a sair vitoriosos, com todos aqueles que amavam bem aos seus lados. Nessa época, a realidade da guerra em que viviam ainda não tinha atingido nenhum dos dois.
James se casou logo depois de Lily descobrir que estava grávida. Os dois se amavam muito e não queriam esperar um único dia para construir uma família. Sirius podia entender o sentimento. Na cerimônia, ele e Moony foram padrinhos de casamento, e enquanto segurava a mão de seu namorado e assistia os sorrisos felizes que Prongs e Lily trocavam, como se fossem o universo um do outro, ele sonhou com o seu futuro casamento.
O nascimento de Harry foi somente combustível para colocá-los ainda mais nas nuvens. Era estúpido, mas a perspectiva de que qualquer coisa ruim acontecesse concomitante a um milagre tão divino quanto a chegada de seu afilhado era absurda demais. Era como se eles vivessem em uma bolha de proteção do meio do completo caos. Sirius achou que essa bolha era mágica e resistente, mas na verdade era tênue, e foi só uma questão de tempo para que eles começassem a perceber. Poucos meses de felicidade até que a bolha estourasse e eles se encontrassem desprotegidos no meio de uma guerra.
A primeira bomba chegou em uma manhã qualquer. Sirius sempre se levantava primeiro. Era um costume que ele conservava desde criança e não era capaz de se livrar na vida adulta, por mais que tentasse, seu corpo só dormia determinada quantidade durante a noite. Então, quando ele abriu os olhos e se virou para o outro lado da cama para encontrar um espaço vazio onde seu Moony deveria estar, ele se assustou.
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On the run | Wolfstar
FanficUm universo alternativo no qual Remus e Sirius fugiram juntos no início da primeira guerra bruxa. Sirius nunca foi o guardião do segredo dos Potter, nem foi mandado à Azkaban; Remus não passou doze anos sozinho; eles nunca desconfiaram um do outro;...