O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime, ou não existe. Quando existe, existe para todo o sempre e aumenta cada vez mais. — Honoré De Balzac.
O natal de 1984 foi o primeiro que Remus e Sirius passaram de luto pelos Potter. Ainda que a morte de seus amigos tivesse ocorrido propriamente anos atrás, para eles era uma ferida recente e delicada. Então, o casal estava preso em um conflito: comemorar a data como se não houvesse nada de errado, para que Harry aproveitasse o primeiro natal em Ornans com eles, ou não fazer nada naquele ano, esperando que a ferida no peito dos dois diminuísse antes de comemorar uma data que essencialmente celebrava a família.
Na metade do mês de dezembro, Remus estava agindo de maneira muito esquisita, o que tornava o clima ainda pior. De início, Sirius confundiu o comportamento mais silencioso de seu marido como consequência da lua cheia que fora no começo do mês. Às vezes Moony ficava desse jeito depois de suas transformações, com uma melancolia insistente que o rodeava por uns bons dias.
Mas não podia ser isso, porque mesmo Harry não estava mudando seu humor, e ambos sabiam que o garotinho era o melhor antídoto para todas as dores emocionais. Nenhum deles conseguia não se sentir amado com o afilhado por perto. No entanto, desta vez, mesmo com Harry, Remus estava distante.
A pior parte é que Sirius não podia armar uma confusão e reclamar de seu marido, porque Remus não os estava destratando. Ele só estava longe. A distância emocional era terrível e Sirius não sabia bem se devia deixar as coisas se resolverem sozinhas ou interferir, correr o risco de parecer muito intrometido. Ele queria respeitar o espaço de Moony, mas também estava muito preocupado.
Sirius pensou em conversar com Mary sobre o assunto, já que a mulher sempre parecia ter os melhores conselhos, mas para o seu alívio, antes que seu plano de intervenção se tornasse algo concreto, o próprio Remus se aproximou para conversar.
— Vamos levar Harry para um piquenique — ele disse. — Tem um assunto que precisamos discutir.
Harry gostava muito de estar ao ar livre. E depois que Sirius comprou uma nova vassoura infantil para ele, o garotinho parecia viver no jardim da casa, voando por todos os cantos e fazendo manobras complicadas demais para alguém que nem se lembrava do que era uma vassoura de corrida há poucos meses atrás. Eles acomodaram-se na grama em cima de uma toalha e observaram o menino voar em silêncio durante alguns minutos.
— Você está bem? — Sirius finalmente perguntou.
— Sim — Remus disse. Ele então se inclinou e agarrou a mão de Sirius, entrelaçando seus dedos carinhosamente. Sirius sorriu com o gesto.
— O que está em sua mente?
— Eu acho que quero visitar o túmulo de James e Lily.
— Oh — Sirius respondeu, pego de surpresa. Era bobo não esperar por aquilo, mas visitar o túmulo de seus amigos nem havia passado pela sua cabeça. Talvez porque a perspectiva de ver o lugar que eles haviam sido enterrados tornava tudo muito mais real, e Sirius ainda encontrava conforto nos momentos que conseguia se esquecer de toda a tragédia.
— Você não precisa vir, se não quiser — Remus apressou-se em dizer. — Eu só me sinto pronto para isso e não consigo parar de pensar sobre o assunto. O natal está chegando e penso neles o tempo todo… Não sei, só me parece o momento ideal…
— Tudo bem, amor — assegurou Sirius. — Eu honestamente não pensei muito sobre isso, mas acho que também gostaria de ir.
— Só se você tiver certeza. Não precisa se apressar.
— Me dê alguns dias pra absorver a ideia e te dou uma resposta — ele pediu, não querendo mentir a respeito de um assunto tão importante.
— É claro. Nós não precisamos ir os dois agora. Cada um de nós tem o seu momento. Eu só sinto que meu coração está falando comigo, dizendo que eu devia ir.
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On the run | Wolfstar
FanficUm universo alternativo no qual Remus e Sirius fugiram juntos no início da primeira guerra bruxa. Sirius nunca foi o guardião do segredo dos Potter, nem foi mandado à Azkaban; Remus não passou doze anos sozinho; eles nunca desconfiaram um do outro;...