Aos olhos da saudade, como o mundo é pequeno. — Charles Baudelaire.
As primeiras semanas foram tranquilas, mas um tanto estranhas. Era uma grande mudança repentinamente ter uma criança na casa, e tanto Sirius quanto Remus não se sentiam muito prontos para a paternidade. Eles estavam fazendo o que podiam por Harry, ainda que nem sempre acertassem.
A grande sorte é que Harry era uma criança fácil de lidar. Ele aparentava estar encantado em receber tanta atenção de uma vez e parecia impossível errar com o menino.
Mas Sirius não era bobo. Ele sabia reconhecer melhor do que ninguém os sinais de um lar abusivo. Nos pedidos de desculpas muito profusos, quando o menino acidentalmente quebrava alguma coisa; no costume de se oferecer para ajudar com a limpeza e na cozinha; na hesitação em pedir o que queria ou fazer perguntas e por fim, o mais visceral: na forma como ele sempre parecia terrivelmente arrependido quando apresentava alguma magia acidental, como se fosse sua culpa e ele pudesse evitar.
Sirius reconhecia todos esses sinais porque eles eram muito similares aos que ele mesmo apresentava na infância, quando ainda estava sob o controle de seus pais. Ele tinha sido uma criança abusada e conseguia se ver em Harry de tantas formas que por vezes o sentimento até o oprimia.
Era terrível que justamente o filho de James Potter, aquele que o tinha oferecido gentileza e amizade em um momento que ele nem conhecia esses conceitos, tenha passado por algo tão ruim. Era errado demais e Sirius estava decidido a fazer tudo que podia para ser para Harry o que James tinha sido para ele anos atrás: uma saída segura do passado. Um recomeço limpo e repleto de amor.
Não foi difícil conversar com Harry. Ele confiava muito em Sirius e passava um bom tempo com ele. Depois de descobrir que seu padrinho era capaz de se transformar em um cachorro, o garotinho pareceu ainda mais encantado. Ele havia aquecido muito com Remus e Mary, mas Sirius era inegavelmente seu porto seguro.
De início, ele fez algumas perguntas simples, como quais eram as atividades favoritas de Harry na casa de sua tia. Ou pelo menos ele pensou que eram perguntas simples, o que não se provou verdadeiro, uma vez que Harry parecia não ter respostas para essas questões. Tudo que envolvia o que ele gostava sobre morar com Petunia era devolvido com silêncio, um espaço em branco.
Em uma abordagem diferente, Sirius perguntou sobre o primo de Harry, e foi quando ele chegou a algum lugar. Harry contou que Petunia não gostava que eles brincassem juntos e sempre ficava muito brava quando Harry incomodava Dudley. Sua tia brava resultava em punições. Foi nesse momento que ele contou a respeito do armário sob as escadas.
Por alguns instantes, Sirius nem acreditou no que estava ouvindo. Ele pensou que tinha entendido errado, mas não. Petunia estava fazendo seu sobrinho dormir dentro de um armário. Ela não havia se dado ao trabalho nem de fornecer um lugar seguro para ele ficar. A informação fez o seu sangue ferver.
Seu desejo primário foi voltar imediatamente para aquela casa na Rua dos Alfeneiros e dar uma boa lição naquele casal desalmado, incapaz de mostrar qualquer compaixão para uma criança que havia perdido os pais — uma criança, que, no caso de Petunia, compartilhava o mesmo sangue que ela. Ele estava borbulhando de raiva, pronto para esfregar umas boas verdades na cara da mulher, deixar claro que Lily nunca faria aquilo com seu filho… Mas ele não fez nada disso.
Ele respirou fundo e não deixou que Harry percebesse o quão bravo ele estava com a situação. Deixou seu afilhado falar, para que ele nunca tivesse qualquer problema em confiar seus pensamentos a Sirius, independente de quais fossem.
Mais tarde, quando Harry já estava na cama, ele abordou o assunto com Remus. Não foi fácil controlar seus instintos impulsivos e fazer alguma besteira com os trouxas. Mas ele estava tentando muito ser alguém que Harry poderia contar de verdade e uma briga com a família de Lily certamente não seria bem-vista. Ele não podia arriscar perder Harry para o seu temperamento. Então simplesmente falar com Remus, como na maior parte das vezes, foi a resposta.
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On the run | Wolfstar
Fiksi PenggemarUm universo alternativo no qual Remus e Sirius fugiram juntos no início da primeira guerra bruxa. Sirius nunca foi o guardião do segredo dos Potter, nem foi mandado à Azkaban; Remus não passou doze anos sozinho; eles nunca desconfiaram um do outro;...