Capítulo 2- Más notícias

197 19 4
                                    

Tudo o que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar. — Guimarães Rosa.

Poderia ter sido somente mais um dia comum. Remus estava resfriado e Sirius tinha saído para fazer compras. Ele estava completamente habituado à rotina tranquila que os dois tinham. Nutriam uma relação amigável com os vizinhos da região e aproveitavam o anonimato e isolamento da guerra que ainda acontecia no que parecia ser praticamente outra dimensão. Ele estava trocando uma conversa estimulante com uma senhora que vivia por perto enquanto escolhia alguns legumes no pequeno mercado de rua da região.

Em seu francês sofisticado, a mulher estava aconselhando Sirius sobre o tipo de sopa que ele devia preparar para o seu marido se sentir melhor rapidamente. Sirius apreciava as dicas, mas sabia que nada no mundo fazia seu Moony melhorar com mais eficiência do que seu chocolate favorito, que Sirius encomendava em uma lojinha bruxa da região. O vendedor já até sabia qual era o seu pedido sem que ele precisasse dizer uma única palavra. Mas umas dicas extras não fariam mal algum, é claro.

Alors, je fais cuire les carottes et les pommes de terre ensemble ? — perguntou Sirius. (Então, eu cozinho as cenouras e batatas juntas?)

Oui, exactement. Vous ne pouvez pas la rater ! C’est la recette de ma grand-mère ! (Exatamente. Não tem como errar! É a receita da minha avó!)

Très bien alors ! Merci beaucoup, madame Legrand ! (Certo, então! Muito obrigado, senhora Legrand!)

De rien ! (De nada!)

Quando ele estava prestes a deixar o mercado e voltar para casa, uma voz que Sirius não ouvia há quase quatro anos o chamou. Por alguns instantes, ele paralisou, olhando ao seu redor, como se estivesse preocupado com a possibilidade de estar ouvindo coisas. Então seus olhos finalmente alcançaram a figura do outro lado da rua. Era impossível não reconhecer o cabelo crespo e volumoso, a pele escura e lisa repleta de sardas e os olhos pretos como jabuticabas. Mary.

Sirius automaticamente abriu um sorriso; a felicidade de ver sua amiga após tantos anos quase opressora em seu peito. Mas para sua surpresa, ela não sorriu de volta. Pelo contrário, seu semblante parecia triste e Sirius sentiu um frio percorrer sua espinha.

Mary aproximou-se em largos passos e se jogou nos braços de Sirius, agarrando seu pescoço com força, como se nunca mais quisesse soltá-lo.

— Eu finalmente encontrei vocês! — ela disse, o rosto afundado no ombro de Sirius de modo que ele podia sentir seu perfume floral tão familiar e ao mesmo tempo distante, como uma memória que estava começando a desbotar. — Merlin, como eu senti sua falta, seu grande idiota!

— Eu senti sua falta também — foi tudo que Sirius conseguiu responder, ainda perdido no inesperado reencontro. — Mas o que você quer dizer com “finalmente conseguiu nos encontrar”?

Mary encarou-o como se ele tivesse crescido uma segunda cabeça. Ou como se ele fosse um imbecil, o que era um olhar que ele recebia com frequência no passado.

— Vocês sumiram. Eu estou atrás de vocês dois há anos — ela disse. — A guerra acabou.

— O quê? — ele balbuciou, surpreso. — Não… Isso não é possível. Nós saberíamos. James tem o espelho. Eu disse para ele entrar em contato caso algo acontecesse. Ele nunca me chamou.

O semblante de sua amiga repentinamente caiu. Quando ela o encarou, Sirius reparou que seus olhos estavam repletos de lágrimas não derramadas.

— Siri, eu sinto muito, mas eu tenho notícias terríveis.

Então, o mundo perfeitamente arquitetado de Sirius Black desmoronou por completo, como se alguém puxasse uma carta da base de um castelo de cartas. Em um instante, tão imponente e bonito, e no outro, nada, revelando sua verdadeira natureza frágil. 

On the run | WolfstarOnde histórias criam vida. Descubra agora