O começo...

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Os olhos de Midoriya pesavam como chumbo quando acordou no dia seguinte. Não estava cedo, muito menos escuro quando resolveu sair da cama, mas sentia cada fibra de seu corpo reclamar com o mínimo movimento que fazia e no banho, chorou por tempo suficiente até sentir que já tinha enrugado a superfície de sua pele.

Shigaraki não estava em casa naquele momento e uma parte de si teve a ideia de fugir, mas ainda havia Eri e nunca sequer pensaria em abandoná-la.

Sentou-se no sofá e seu corpo reclamou em muitas partes, principalmente em seu ombro machucado. O lugar latejava conforme o sangue pulsava em suas veias, ele sentia a mordida tão profundamente em sua pele que não queria ver, não queria sentir que a ligação já estava se formando, não queria ter aquele homem como seu alfa nem em uma próxima vida. Estava começando a ficar desesperado, se a ligação alfa-ômega fosse concluída, Midoriya não teria mais saída exceto à morte, mas ele, de novo, não faria isto com Eri e nem com ele mesmo; a desgraça que Shigaraki trazia a sua vida não era culpa sua, não tinha culpa no que seu agressor fazia.

Fez um curativo breve onde doía e encarou o relógio do microondas no balcão da cozinha, ia dar quinze horas da tarde e deveria estar às dezoito na boate. Como trabalhava somente meio período, talvez devesse conversar mais uma vez com Shigaraki, se conseguisse pegar ele mais ou menos de bom humor, ou pelo menos dissesse o porquê exatamente trabalhava naquele lugar, ele lhe desse uma chance.

Midoriya esperava que sim.

Com as mãos trêmulas, levou-as à boca, encarou a mesinha de centro da sala e levantou-se, indo atrás de sua bolsa após decidir que deveria fazer algo, contou o dinheiro da passagem e pegou um casaco para sair. Trancou a porta e, silenciosamente, foi descendo os degraus do pequeno conjunto de apartamentos que morava, pegou um ônibus e rumou à farmácia que geralmente ia.

A viagem não demorou muito, não havia trânsito naquele horário e depois de alguns passos, ao descer do ônibus, conseguiu ver o logo grande da farmácia.

— Bem-vindo! — Ele sorriu para Mina assim que entrou, ela estava atrás do balcão onde havia diversos remédios em suas costas, acenou e aproximou-se dela. — Em que posso ajudá-lo hoje, Midoriya-kun?

— Olá, Mina-san, será que consegue um supressor para mim? Meu inibidor não está funcionando muito bem. — Não era mentira, mas também não era de fato verdade, seus inibidores ainda funcionavam, não com tanto efeito como no início, mas funcionavam.

— Supressor? — Ela ficou séria de um segundo a outro. — Tem certeza, Midoriya-kun? Sabe dos efeitos colaterais? Não é muito seguro tomar às cegas. Não é melhor passar no médico antes para ele receitar um inibidor mais forte? — Mina apoiou os cotovelos no balcão novamente, aproximando-se do amigo, fungou um pouquinho e Midoriya corou. — Nem consigo sentir algo em você.

— N-Não faça isso! — Deu dois passos para trás, envergonhado. — Aconteceram algumas coisas e somente por isso eu preciso do supressor. Por favor, eu prometo que não vou tomar a vida inteira, é só por alguns dias — suplicou.

— É disso que estou falando, Midoriya. O efeito pode ser permanente, independentemente da quantidade ingerida. Claro que se for por um período curto, o efeito pode ser mais leve ou até mesmo passageiro, mas há casos de séria infertilidade em ômegas por uso indevido.

Midoriya fez uma careta com a explicação completa dela, não queria ficar infértil, mas droga, qual era a outra opção?

A ligação só era feita de forma efetiva se o alfa mordesse no auge do período reprodutivo do ômega, ou seja, no terceiro dia desde o início do cio. Morder na semana antes era como um ritual de acasalamento, meio antiquado, mas era uma forma de cortejo entre os parceiros, uma forma de seus corpos entrarem em sincronia para a real ligação alfa-ômega que somente seria quebrada com a morte de um dos lados. Midoriya não queria morrer, também não queria acabar com sua vida tendo que matar Shigaraki, na verdade, não tinha força para isso, muito menos cabeça para cometer tal atrocidade — por mais que ele merecesse e pior, então, a única forma sensata que lhe veio à mente foi:

Over Me [BakuDeku (ABO)]Onde histórias criam vida. Descubra agora