Vamos tomar as redeas da situação

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Olho para o relógio do meu celular e constato que meu acompanhante está atrasado, mas tudo bem, afinal, não seria o Fabiano se não houvesse um atrasinho no cronograma, por isso cheguei adiantada.

Estou numa cafeteria perto da estação de metrô que eu usava para chegar a minha faculdade algumas vezes por semana, o ar aqui cheira a café e canela e é deveras acolhedor, principalmente com o temporal lá de fora. Meu look é composto por uma blusinha laranja com rodelas de limão e alcinhas, meio abaloada, calças jeans skinny e sapatilhas; optei por um batom nude e delineador estilo gatinho para realçar meus cílios, além de um perfume forte que ganhei de presente de alguém que já não me lembro mais.

Certo, Bianca, hora de focar no objetivo de hoje. Estou aqui nesse lugar movimentado para conseguir informações, eu propositalmente marquei para me encontrar com o Sr. Caçador de Monstros num local comum para prevenir que ele vá sacar uma pistola a qualquer momento e me obrigar a seguir suas regras. Pelo contrário, a partir de agora sou eu quem vai ditar as regras aqui nessa porra e quem não gostou que vá dar meia hora de cu.

- Cheguei, princesa - ouço sua voz subir pela minha espinha e encaro as esferas verdejantes do Fabiano mais uma vez.

Por um momento incômodo, revivo o que senti vendo aquela pistola apontada para o meio da minha fuça, o medo e o sentimento de impossibilidade me acorrentando lentamente até me sufocarem; eu prendi o ar e meu coração pareceu parar de bater por um segundo até que finalmente acordei dos meus pensamentos e forcei um sorriso sarcástico no rosto para ocultar o pânico que rastejava por debaixo da minha pele.

- Você está atrasado - digo -, como sempre.

- Muito trânsito - ele ri de forma forçada e sei que está se sentindo incomodado naquele momento.

Fabiano detesta multidões, por alguma razão, e isso era exatamente com o que eu estava contando quando decidi nosso ponto de encontro. As múltiplas vozes e informações vinham nadando até nos como numa enchente, todos pareciam falar alto e isso, por algum motivo, deixava o Fabiano afoito, eu podia definir tal coisa apenas vendo como ele parecia respirar mais profundamente.

- Bom dia, já vão pedir? - pergunta a garçonete, simpaticamente.

Eu peço um cappuccino e Fabiano pede um café expresso; aos olhos do público, éramos apenas mais um casal normal tendo um encontro normal num dia chuvoso normal. Isso até eu fazer a primeira pergunta.

- Como você conseguiu descobrir que eu tinha sido atacada por um vampiro?

Fabiano sobe o olhar do guardanapo que lhe havia parecido tão interessante de alguns segundos para cá. Ele parece um cachorro quando faz alguma merda, com um olhar de falsa inocência.

- Experiência - diz ele, por fim - Você estava com cheiro de vampiro, é como o cheiro do sangue, porém mais impregnante. Esse cheiro só costuma sair depois de alguns dias que o vampiro mordeu alguém, mas não é todo o caçador que consegue decifrar isso logo de cara, porém você também tinha esse curativo no seu pescoço e coisa assim...

Em resumo, ficou óbvio para ele que eu estava escondendo algo. Certo, próxima questão.

- O que há sobre o contrato que eu fiz? Qual é o problema?

- O contrato é muito vago para ambos os lados. Vampiros levam coisas como contratos e tradições bem a sério e o fato de estar tudo tão vago só dá margem de erro para o seu lado.

- O que acontece se uma das partes quebrar o contrato?

- Se você quebrá-lo, nada de especial... - ele se cala momentaneamente quando nossos pedidos chegam e então retoma: - Isto é, se você quebrar o contrato, o vampiro vai te matar, só isso, mas se ele quebrar sua parte no acordo, ele morre.

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