017# Antes da chuva cair

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Era 13 de novembro, o dia do aniversário de Rebecca e eu tinha finalmente comprado a aliança de noivado, tinha escondido dentro de uma rosa solitária.

Estava atravessando um cruzamento quando vi um senhor, demorando para para atravessar e estava na reta de uma moto que vinha acelerada. Cheguei a tempo de o salvar, mas não de me salvar. Morri e tudo pareceu perder a cor.

Onde estava predestinado a ter uma morte, sempre a terá.

Eu nunca poderia entregar o anel a Rebecca e tinha acabado com toda possibilidade de seus sorrisos em seu aniversário. Implorei aos céus enquanto via o meu corpo no chão, que pudesse fazer qualquer coisa por ela e em resposta,  ganhei um par de asas.

Eu seria o anjo da guarda dela, estaria sempre a protegendo, pagaria meus pecados sem poder ter a aquela que mais queria.

Uma pesada chuva caiu sobre o meu corpo, com a rosa e a aliança alí próximos de mim. Me abaixei para pegar em vão, pois passei direto. Passos ecoava em minha mente e quando olhei para cima, pude ver ela correndo com o celular na mão.  Quando me viu, caiu de joelhos ao chão chorando desesperada.

Assim sob uma pesada chuva a cena mais dramática que um dia poderia imaginar aconteceu. De um lado, estava eu, com longas asas para a proteger do mal, meu corpo morto, uma aliança de casamento cheio de promessas de um futuro que não aconteceria e ela chorando uma dor que eu não poderia fazer nada para a consolar, pois era a mesma que me consumia por dentro.

A benção e maldição, o amor e a dor... Emoções igualmente avassaladoras em um tom acinzentado cruel do destino.

Caminhei até ela e me abaixei. A protegi entre meus braços, enquanto minhas próprias lágrimas pareciam queimar.

Roguei a Deus novamente, que fizesse essa chuva lavar as memórias dela sobre mim. Pois ao menos assim, ela poderia ser feliz. Fechei os olhos a abraçando forte, mesmo que ela não pudesse sentir.

Para a minha surpresa, quando abri os olhos, me vi frente a floricultura com a caixa da aliança em uma mão e a flor na outra... E corri em direção aquela rua, impedir que o senhor atravessasse, mas não tinha nenhum quando cheguei ao cruzamento.

Nenhuma morte aconteceria, meu celular tocou, atendi. Era Rebecca. Meu coração batia descompensado no peito, perguntei onde ela estava e ela disse: Olhe para frente.

Do outro lado da rua, com o celular em mãos a vi com um largo sorriso. Assim que o sinal de pedestres abriu, corri em sua direção e a envolvi em um abraço forte, agradecendo a Deus pela segunda chance. E ali mesmo, naquela rua, a pedi em casamento sem dar voltas sem poder esperar mais um segundo.

Antes que aquela chuva triste voltasse a cair.

By Mellody Ryu

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