019# A gaiola

19 2 0
                                    

Toc

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Toc...

Toc...

Toc..

Era o som dos passos do homem que se vestia de anjo, mas se assemelha mais ao demônio. Um dia, tola como era. Acreditava que homens podiam ser bons, mesmo com cada aviso de minha mãe. Ela dizia "Rosa, os homens são bestas animalescas sem coração. Te pegarão, despedacarão e te descastarão quando não mais tiverem interesse em ti. "

Mas... Eu não acreditei. Vi crianças, brincando, dia após dia. Elas eram doces, gentis, com corações tão puros que não imaginei, que poderiam de fato se transformar em tal odiosa criatura. Tomei a forma humana, me juntei a eles, me apaixonei por um deles e até onde sabia, era retribuída.

No entanto, o tempo passou e algo mudou, uma jovem, muito bonita surgiu. Mas meu amado, vestido de branco, não desejava abrir mão de mim. Ganancioso como era, jogou-me em um calabouço. Mandou que fizessem em seu porão, uma gaiola de ouro. Assim que pronta, lá me trancou e se casou com a outra mulher.

Não importava se chorava, se sangrava ou não. Contanto que estivesse viva, ao homem seria suficiente. Já que noite após noite, em meio a madrugada, após desfrutar de sua esposa, insaciável tomava meu corpo, mas sem douçura, sem cuidado, com violência e mais tratos. Ao encontrar o que queria, sorria e me fazia cantar para ele.

De alguma forma, ele soube, soube que não era humana. Soube que era uma criatura da natureza. Meu canto, o purificava, enquanto me matava. Mas ele não sabia disto, e nem desejava que soubesse. ANSIAVA pela morte tão veemente quanto por um pouco de alegria e felicidade a tanto tempo perdido.

Mas a vida, parecia não deixar o meu corpo como deveria. Nem sequer sabia, quanto tempo ali ainda estava, mas via o homem que um dia foi jovem, mais velho, e também mais louco.

Cansada da espera pela morte, lutei ferozmente contra o homem que um dia amei. Fui espancada, e na beira da morte, nos últimos suspiros de vida... Vendi minha alma de fato só demônio, em troca da promessa que aquele homem e toda sua linhagem amaldiçoada sofresse de todas as dores que vivi, até que ansiasem a morte assim como eu.

No entanto, por algum motivo, o demônio não tomou minha alma... Na verdade, tomou-me em seus braços, beijou-me e com um sorriso disse:

— Minha querida, tomarei mais do que sua alma. Pois desejo seu coração... Contudo, não serei eu a realizar a sua vingança. Levante e ande, tome sua espada e mate cada um dos teus inimigos.

Por algum motivo, senti meu corpo curado, a força restaurada e a porta da gaiola estava aberta. O demônio entregou-me a espada.

— Não se preocupe, tomarei a culpa. Os humanos sempre me culparam pelos seus atos, de longe, a sua ação, não é nada mais que justa, pequenina. E quando terminar sua chacina.  Levarei seu corpo e alma comigo.

— Por que?

— Porque sempre foi minha, se recorda. Quando tomou a forma humana, havia mais de uma criança. Te desejei, mas você o escolheu. Deixei que vivesse vossa consequência, e então, interferi no seu destino.

— Diz que sou sua, mas me abandonou? — questinou mirando a espada em sua garganta.

— Sou um demônio, mas meu coração também se parte, você escolheu o homem. Me julgue apenas depois que se colocar em meu lugar.

Ao menos ele foi sincero, pensei.

Toc...

Toc...

Toc...

Os passos estavam mais perto e faria que está seria a última vez que os escutaria. Marchei em sua direção, determinada a fazê-lo sofrer da dor que senti...

E se me casei com o demônio? Sim.

Ele não mentiu quando poderia mentir. Além disso, ao final da minha vingança, não me tornei sequer a sombra do que um dia já fui. Tornei-me semelhante a ele, ao ponto de deixá-lo viver a consequência de ter me deixado sofrer por dezenas de anos, fazendo-o sofrer em um inferno semelhante ao meu, por centenas de anos. Peso no mundo das ilusões a minha procura, antes que o libertasse e sela-se a nossa união.

•••

Obrigada por ler

Nota da autora: Lembrando, esses textos são feitos por impulso como escape criativo, enquanto estou caindo de sono.

Pecados - Escritos à sangue.Onde histórias criam vida. Descubra agora