008# Nero

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QUENTE E SUAVE, COM SABOR DE DOR.
Preenche-me e aquece, toma e me invade,

me tem tanto, quanto o tenho.
Este doce sabor que necessito,
me dá tudo que preciso,
me faz viver não mais um dia,
como mais uma noite.

Você quem o me dá assim de tão bom grado
e com um sorriso me recebe,
me beija, me abraça e me ama.
Me aceita. Justo eu, aquela que não
merece amor, carinho, compreensão
ou qualquer coisa vinda de você.
Aquela que te tira mais do que suspiros,
aquela que te tira a vida.

• • •
 
 

    Era fria a madrugada, meus passos ecoam em sons opacos dos meus saltos, contra o chão de pedra. Você está aqui? Não posso te ver, não posso mais te sentir, vieram outros calores após o seu. Mas sei que está aqui.

          Os pássaros dormiam, assim como todos os outros vivos, somente você e eu caminhando pelo mundo, perdidos através do tempo. Caminhando e cantando a música que nunca conseguirei esquecer.

          “ Sangue, Sangue... Sangue... Minhas presas pedem por seu sangue...”

          Você quem me cantou baixinho, docemente para mim, me dando um sorriso. Ah! Se não era o meu menino bonito de profundos olhos negros. – Sangue, Sangue, sangue...— sigo cantarolando. Ele não era um vampiro, nem mais tão menino assim. Está comigo quando ninguém mais está, é o sorriso entre a noite escura que me trás a vida. É a solução quando tudo estava perdido. É o motivo e o sussurro dos meus lamentos.

          — Nero, aonde está você?! — Pergunto, não recebendo resposta alguma da noite fria. — Nero, preciso do seu calor!

          Nenhuma resposta, não é mais uma novidade. Já faz tempo que não o ouço mais, acredito que me deixou. Como todos os outros, mas ele era diferente. Me viu quando ninguém mais me via. Ele está aqui, não pode mais falar, eu sei. O sinto. Somos um!

          — Ah! Nero! Sinto sua falta! — Lamento, enquanto ainda caminho. — Sei que aqui está, mas é tão vazio sem o seu calor.

Pecados - Escritos à sangue.Onde histórias criam vida. Descubra agora