CAPÍTULO 09

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Segunda semana de março, Rio de Janeiro.

M I G U E L

Eu não faço ideia do porquê ter beijado a Julia. Ok, eu faço sim, mas não sei como tive coragem para fazer tal coisa. Tudo o que eu sei é que desde que ela havia entrado no meu carro, senti uma vontade quase enlouquecedora de sentir os lábios dela nos meus, para que talvez isso diminuísse a vontade que sinto por ela.

Uma grande ilusão, já a porra do beijo ficou na minha mente durante a noite toda.
Acordo na quinta-feira com o meu celular tocando alto pra caralho. Tomei um banho rápido e passei reto pela cozinha com o pensamento de comer alguma coisa na padaria, que fica a duas ruas da empresa. No momento em que tranco a porta do meu apartamento, dou de cara com Julia, ela me analisa da cabeça aos pés e sorri.

— Bom dia, vizingato.

O sorriso em seus lábios de coração é radiante, pelo menos um de nós conseguiu dormir bem.

— Bom dia, Jujubinha — respondo, com uma normalidade inexistente.

Ela anda ao meu lado até o elevador.
Pela dor de cabeça que sinto, permaneço de boca fechada, coloco meus óculos escuros e aperto o botão do elevador para o estacionamento no instante em que entro e encosto-me à parede. Julia ignora a minha presença, aperta o botão para o térreo e coloca seus fones de ouvido, encostando-se do outro lado do elevador.

Fecho meus olhos e os abro quando meu celular começa a vibrar no bolso da minha calça. O nome de Selina brilha na tela e pondero sobre atender ou não, a ligação cai no segundo em que o peguei para atender, guardo o aparelho de volta e Julia sorri mais uma vez para mim e sai do elevador quando a porta se abre.

Quando a porta do elevador abre outra vez, saio e caminho até onde estacionei o meu carro, verifico se o banco ainda está molhado e o encontro seco, sento nele e coloco o sinto de segurança, ligando o carro em seguida.

Depois de parar na padaria e tomar um café da manhã reforçado, chego à empresa com 20 minutos de sobra para me preparar para a primeira reunião do dia. Como ainda tenho essa semana de folga antes do retorno das aulas na faculdade, passo o dia inteiro trabalhando e adiantando todas as papeladas do mês.

Reviso os últimos relatórios e sigo para a sala de reuniões, meu tio Davi já está esperando os outros engenheiros para dar início a falação.

— Bom dia a todos, acredito que já de conhecimento geral que em breve iremos ficar responsáveis pela nova produção do Parque do Salvador — Davi começa a falar e eu só fico atento.

No fim do ano passado, o Davi conseguiu pegar o projeto do parque, foram quase quatro meses de negociações com a prefeitura do Rio, mas deu tudo certo no final, a construção está marcada para o início do mês de maio.

— Eu, junto dos acionistas da empresa, fizemos a seleção de engenheiros que ficarão para a supervisão do parque — continua a falar.

Mesmo tendo a minha mãe como presidente do grupo, eu só sei o que me é repassado nas reuniões, mas sei que alguns funcionários da empresa acham que por ser sobrinho do Davi, eu ganho "privilégios". Antes fosse, eu trabalho como se fosse qualquer outro daqui da empresa, tem dias que até esqueço de comer só para terminar os relatórios na hora marcada.

— Quantos engenheiros ficarão com esse projeto? — Renato, um engenheiro do terceiro andar pergunta.

São praticamente 38 engenheiros contratados pela empresa, tendo mais quatro empresas pelo país, uma em São Paulo, outra em Santa Catarina, uma no Distrito Federal e outra em Manaus. Todas foram fundadas pelo meu falecido avô materno, Miguel. Ele faleceu um ano antes do meu nascimento, por isso eu também me chamo Miguel.

CINCO DA MANHÃ | COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora