CAPÍTULO 10

924 76 33
                                    


Terceira Segunda semana de março, Rio de Janeiro.

J U L I A

O resto da semana passou voando que eu nem vi quando a segunda-feira chegou e com ela o retorno das aulas na universidade. E o fato que finalmente vou começar o penúltimo período agora. Ainda nem comecei e já estou pensando na pausa do meio do ano. Porque estou completamente exausta.

Quando me formei na escola com 17 anos, já havia escolhido a mesma profissão que a minha mãe há muito tempo, comecei na universidade com 18 anos e irei me formar com 22 anos, cedo o bastante para continuar com meus projetos paras as ONGs.

Arrumo-me sem pressa alguma, tomo o meu café da manhã enquanto respondo as mensagens que ignorei na noite passada e vejo que meu pai Frederico marcou a próxima sessão de fotos de sua nova coleção de roupas para esse fim de semana. Todo o dinheiro que ele irá receber pelas vendas de suas novas roupas será doado para os orfanatos do país.

No momento em que estou trancando a porta do meu apartamento, sinto o perfume marcante do meu vizinho inundar os meus pulmões. Não que eu esteja obcecada por ele, no entanto, sou boa em memorizar perfumes e o de Miguel é um daqueles impossíveis de esquecer.

 — Bom dia, morena. — ouço sua voz antes de qualquer coisa. Viro-me para ficar de frente como ele enquanto guardo a minha chave dentro da bolsa. — Adorei os óculos.

O sorriso em seus lábios me deixa hipnotizada por alguns segundos, e caramba, é meio difícil não sorrir de volta quando ele me analisa da cabeça aos pés como se estivesse vendo a coisa mais interessante do seu dia.

Com a ponta do meu dedo, posiciono meus óculos no lugar enquanto o encaro. Por mais que eu adore usar lentes de contato, é muito trabalhoso mantê-las sempre higienizadas, então os óculos são a opção mais apropriada para a loucura que está minha vida profissional e acadêmica agora que terei que me dividir em duas para não perder a cabeça com tantos trabalhos.

— Bom dia, vizingato — respondo, quando ele me acompanha até o elevador. — Vai rolar carona?

O meu ponto de movimento na semana passada e agora foi a minha aproximação espontânea com o Miguel, nos esbarramos quase que sempre no corredor ou no elevador e quando ele me ofereceu carona na quinta-feira passada, tê-lo como um amigo de carona foi meio que natural. Acabou não rolando mais nada entre nós dois, como se o beijo fosse coisa daquele momento.

— Já vai me escravizar, dona Julia? — brinca, e eu balanço a cabeça em concordância, ele olha para o relógio em seu pulso esquerdo e depois para mim. — Ainda nem é oito horas.

— Engraçadinho. — Rolo os olhos e entro no elevador quando a porta se abre.

— Pra tua sorte, eu sou um vizinho muito legal e vou te dar essa carona.

Aperto o botão para o térreo e continuo a responder as mensagens no WhatsApp. Estou tão concentrada no celular que mal percebo Miguel cantar baixinho ao meu lado, ele está completamente alheio ao que estou fazendo. É tão impossível ouvi-lo cantar porque no passado eu não tinha qualquer nível de intimidade para isso, e agora com ele se sentindo livre o suficiente para cantar comigo perto, é simplesmente excitante ouvir sua voz.

E talvez eu esteja um pouco apaixonada pela voz dele, não que eu vá dizer isso em voz alta, porque convenhamos, o ego do vizingato já é do tamanho do nosso edifício.

A porta do elevado abre e eu saio, sendo seguida por Miguel até a entrada do prédio, onde seu carro já está estacionado, entro nele e o espero dar a volta e entrar também. O percurso até a faculdade foi tranquilo, tirando o fato da nossa pequena briga sobre que tipo de música iríamos ouvir, claro que eu venci e acabei colocando Marilia Mendonça e o MG pode até não admitir em voz alta, mas ele também gostou, eu sei disso.

CINCO DA MANHÃ | COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora