CAPÍTULO 04

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 Final de agosto, Rio de Janeiro

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Final de agosto, Rio de Janeiro.

 
J U L I A

 
Eu posso dizer que a praia é a minha segunda casa, o lugar que procuro quando tudo fica é complicado demais, o som das ondas batendo no mar revolto me tranquiliza de uma maneira que nem mesmo os remédios que tomo é capaz de fazer.
 
Mamãe costumava dizer que eu era uma filha do mar, por isso minha paixão pela praia. Ainda uso religiosamente a pulseira de miçangas com conchinhas e estrelas do mar artesanal que ela mesma fez para mim como presente de aniversário de quatro anos, o mesmo que nós duas comemoramos pela última vez. Ela porque sua vida foi tirada da forma mais cruel e sangrenta possível, eu porque assisti ela perder o brilho de vida dos seus olhos enquanto era atacada até a morte e não vejo mais sentido comemorar sem ela ao meu lado.
 
Aos cinco anos de idade, fui diagnosticada com o que os médicos chamam de TEPT, faço terapia e tomo os remédios para o tratamento, mas há momentos, como agora, que nem mesmo os remédios fazem efeito. São poucas as pessoas que sabem disso, além dos meus médicos, apenas os meus amigos mais íntimos e meus pais conhecem uma parte dos meus traumas. E por isso sai da empresa e pedi um Uber para me trazer até a praia.
 
Com meus saltos na mão, ando pela praia até parar ao ver meu vizinho, Miguel, sentado na areia, seu paletó no ombro e sua camisa com os primeiros botões abertos, as mangas arregaçadas até os cotovelos, revelando algumas de suas inúmeras tatuagens, as mesmas que olhei de perto na noite passada. Ele olha para a lua como se ela fosse à guardiã de seus sonhos e segredos mais ocultos, aqueles que ele guarda apenas para ele e me vejo querendo saber quais são.
 
Meus pés seguem em sua direção antes mesmo que eu possa pensar no que fazer, aparentemente, meu corpo parece adorar ficar perto do dele. Desde ontem à noite, quando passei alguns minutos com ele no terraço, comecei a me questionar o motivo de querer saber mais sobre Miguel.

Sei que ele é lindo, pelo amor do menino Jesus, Miguel é dono de uma beleza de tirar o fôlego, seu rosto parece que foi esculpido, assim como seus olhos exibem um tom de verde único, misturado com pingos castanhos e violetas que tornam seus olhos além de especiais. Mesmo sendo um pouco duro, arrogante até, existe esse brilho em seu olhar que transmite uma tristeza e solidão que dói em meu peito.
 
Sento-me ao seu lado, de perto posso ver sua barba e sinto seu perfume, e não demora muito para ele perceber que não está mais sozinho, quer dizer, a praia está movimentada como sempre para uma quinta à noite, no entanto, a área em que estamos é um pouco mais afastada.
 
— Oi vizingato — digo, e ele finalmente percebe que não está mais sozinho.
 
— Oi Julia. — A maneira que meu nome sai de sua boca me deixa nervosa, sua voz carrega tanto sentimento que me sinto trémula.
 
Sem saber, pela primeira vez em toda a minha vida, como puxar assunto com alguém, deito-me na areia sem me importar se sujarei ou não os meus cabelos. Depois de sobreviver a um dia caótico e cansativo, ter areia em meus cabelos não é absolutamente nada, ao contrário dos meus problemas, a sujeira poderia sumir com um simples banho.
 
Observo a lua iluminar o céu e solto um suspiro que nem sabia que segurava quando Miguel deitou ao meu lado, e pelo canto de olho noto que ele olha para a lua também. O movimento de subir e descer de seu peito me fez entender que eu não sou a única com problemas. 
 
— O que corrói sua mente, vizingato? — observo cuidadosamente cada pequeno detalhe que compõem o rosto de Miguel, de seus profundos e sedutores olhos verdes a seus lábios carnudos que me parecem tão convidativos.
 
— Acho que não posso mais ficar aqui, Julia. — Sua resposta sai tão baixa que mais parece uma confissão secreta. Assinto em silencio, esperando que ele coloque para fora o que corrói sua mente, e com isso, talvez me faça entender um pouco o que se passa em sua cabeça. — Não me sinto em casa como antigamente, quando deixei a Itália e decidi que estava na hora de voltar para casa, imaginei que estaria tirando um peso de minhas costas, mas me enganei, depois de quase cinco anos aqui, sinto como se estivesse carregando o mundo em meus ombros.
 
Miguel volta a encarar a lua e eu faço o mesmo.
 
— Acho que se aqui não é mais o que você precisa, deve ir para onde se sinto livre de qualquer peso em seus ombros. O mundo é grande demais para não aproveitar o que existe nele, há tantas pessoas e culturas para conhecer, se nada mais te mantem aqui, deixe que o mar te diga o que fazer.
 
A sombra de um sorriso surge em sua boca quando termino de falar, não sei se ele entendeu o que eu quis dizer ou se eu disse a coisa certa.

CINCO DA MANHÃ | COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora