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"Tal como em um dia de verão, as ondas se formam, se desequilibram e arrebentam; se formam e arrebentam; e o mundo todo parece estar dizendo 'isso é tudo', de modo cada vez mais grave, até que mesmo o coração pulsando no corpo estendido na praia sob o sol também diz: isso é tudo."

- Virginia Woolf.

1 ano e meio antes do acidente

O alarme soa estridente demais para meus ouvidos que se mantiveram acostumados apenas com o silêncio durante toda noite. Ele toca pela segunda vez, como se eu não tivesse acordado na primeira.

Mas a questão é que eu não dormi...

3. 2. 1.

- Bom dia Haz. - Meu pai abre a porta do quarto. No mesmo horário de sempre, é uma rotina que ele adquiriu desde que eu tinha 7 anos e fingia estar doente para não ir à escola. - Como foi sua noite?

- Bom dia pai, nem notei passar. - mostro um sorriso sem dentes e preguiçoso a ele. Ele assente sem dizer nada a respeito.

Desde que me formei tudo tem sido estranho em casa. Meus pais, mesmo não percebendo, me pressionam a todo momento para que arranje logo um bom emprego. Às vezes sinto que isso não é só por quererem que eu seja um advogado bem sucedido, mas por ganância.

Sinto um enjôo forte só de pensar nisso e aperto meu estômago por baixo dos cobertores.

- Vou preparar o café, desça em alguns minutos, sim? - faço que sim com a cabeça e ele fecha a porta.

Finalmente me levanto da cama e vou até o banheiro do meu quarto fazer a rotina diária que estou acostumado, tomo um banho e me visto apropriadamente para a reunião que terei em um dos melhores escritórios de direito da cidade de Londres.

Obviamente ninguém sabe sobre a reunião, só Gemma. Não poderia guardar esse segredo de minha irmã, jamais me perdoaria por fazê-lo.

Se meus pais soubessem que farei uma entrevista de estágio na law firm surtariam de uma forma constrangedora e desagradável, coisa que eu realmente não desejo ter de lidar logo pela manhã, já estou nervoso o suficiente.

Encaro meu reflexo pálido no espelho do banheiro por minutos a fio, tentando me convencer de que me sairei bem e a vaga será minha. No entanto, minha mente parece não concordar. Meus pensamentos ecoam a todo instante que provavelmente terá alguém melhor, mais apresentável e muito, muito mais preparado para a vaga.

Pisco diversas vezes tentando dispersar os pensamentos e me focar no que preparei para a entrevista. Estou assustado, nervoso. Mas sei que se mantiver a calma, conseguirei chegar ao fim deste dia sem chorar ou gritar com alguém.

- Gemma vai te dar uma carona? - minha mãe pergunta levando a caneca de café a boca. Ela está sentada em uma das cadeiras próximas à mesa onde sempre nos sentamos para as refeições, sua postura é impecável e sua voz soa doce, mas ao mesmo tempo curiosa.

Eles acham que estou indo para uma aula extra na universidade. Bom, pelo menos foi o que eu disse que faria, e eles parecem ter caído nesta mentira deslavada.

- Vou ir andando hoje, tenho que sair mais cedo. - sirvo um pouco de chá em uma xícara e me encosto ao balcão, sem postura alguma.

- Harry... Eu sei que não está sendo fácil para você, mas saiba que nós estamos aqui, para o que precisar. - meu pai começa o mesmo diálogo que têm feito durante a semana, coisa que não quero ouvir por hoje.

Em toda e qualquer oportunidade, ele faz questão de tocar no assunto de eu não ter conseguido um emprego logo após me formar, como a maioria das pessoas da minha turma. Já estou de saco cheio disso.

We'll Be Alright [☆ls fanfiction☆] ⚠️EM HIATUS⚠️Onde histórias criam vida. Descubra agora