Fourteen

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Aviso: este capítulo contém cenas que talvez possam ser gatilho, com falas homofóbicas e desrespeitosas. Por favor, não leia se isso for causar algo ruim à você. Fiquem bem!

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Estas alegrias violentas têm fins violentos. Falecendo no triunfo, como fogo e pólvora, que num beijo se consomem.

Romeu e Julieta - William Shakespeare.


A calmaria antes da tempestade...

Ela é pacífica, tem gosto de brisa no verão. Cheiro de grama molhada. Aparência de cerejeira florida.

Ela engana. Nos faz pensar que tudo está bem. Que podemos nos deitar e apreciar a vista, sem preocupações e desespero.

Ela é tão serena, tão contagiante, que prende nossos corpos e pensamentos. Transporta corpo e alma até um limbo onde qualquer problema se dissipa no ar.

Ela dá a falsa sensação de proteção e liberdade. De paz, serenidade e prosperidade. Escondendo que logo após sua passagem, uma terrível tempestade, cheia de raios e trovões vem em nossa direção.

A tempestade em seu encalço, vem silenciosa e fria, como uma cobra. Rastejando pelo trajeto. Astuta, perspicaz e poderosa. Ela se mantém calma e fria em seus planos, esperando que assim consiga chegar mais longe e que com a surpresa de sua chegada, o estrago seja ainda maior do que qualquer um poderia prever...

Quando eu tinha 7 anos, passava todos os fins de semana na casa da minha avó materna. Nós íamos ao parque da pequena cidade onde ela morava, íamos à pizzaria no fim da rua. Fazíamos uma noite de filmes com minha tia Mary e minha irmã Gemma. Fazíamos tudo o que poderia parecer legal para duas crianças.

Quando nos sentávamos para jantar no sábado a noite, ela sempre contava uma história diferente antes de podermos nos servir. Sempre nos contava histórias de sua adolescência, contos de fadas, histórias sobre heróis...

Uma noite, talvez a última que tivemos juntos antes de sua morte, nos sentamos em volta da mesa de jantar. Esperamos por longos minutos, até que ela enfim começasse sua história. Eu me lembro de estar faminto, por ter passado o dia todo brincando no jardim e correndo com tia Mary e minha irmã. Me lembro de pensar "por que ela não conta logo essa história e nos deixa comer de uma vez?". Acho que uma criança nunca tem noção do que está realmente acontecendo ao seu redor, nunca vemos o que está diante de nossos olhos e embaixo de nossos narizes.

Eu ainda não sabia que minha avó estava doente, não sabia que ela estava morrendo, com dificuldade para sequer ficar de pé ou falar. Não fazia ideia de nada. Não passou pela minha cabeça que seus longos cochilos a tarde ou sua falta de ar fossem um aviso de que a perderia em breve. Não vi os sinais que estavam estampados em uma bandeira vermelha na minha cara o tempo todo.

As crianças podem ser tolas e ingênuas, podem não conseguir distinguir os acontecimentos e visualizar corretamente os sinais. Mas eu seria um grande mentiroso se dissesse que isso mudou depois que cresci...

Mais uma vez eu não vi o que estava diante de meus olhos, não entendi o que acontecia debaixo do teto da minha própria casa. Eu simplesmente fechei os olhos inconscientemente para a merda que era varrida para baixo dos tapetes todos os dias entre aquelas paredes.

Tudo o que eu consegui sentir no instante em que a porta se abriu, foi pavor. Não sabia o motivo de tal sentimento, nem como controlá-lo. Eu só... Senti.

Senti como se tudo estivesse perdido, como se não tivesse mais conserto. Afinal, um band-aid não pode cobrir uma rachadura tão grande.

Tudo aconteceu tão rápido que minha mente demorou para raciocinar e reagir. Fui empurrado para o lado e caí no chão da varanda, batendo minhas costas no pequeno banco ao lado da porta com tanta força que ouvi o barulho ecoar dentro do meu corpo e a dor se espalhar rápido.

We'll Be Alright [☆ls fanfiction☆] ⚠️EM HIATUS⚠️Onde histórias criam vida. Descubra agora