Plantas e flores têm sua própria linguagem.
Não que Felix saiba sobre, mas conviver a maior parte dos dias com a voz do Han em seu ouvido, por vezes tagarelando sobre o significado único e as particularidades de cada espécime, o fez aprender ao menos esse pequeno fato isolado.
A flora comunica sutilmente e sem palavras, assim como as pessoas são capazes de comunicar-se pela expressão, olhar, toque... Felix não sabia muito sobre essa linguagem também, para ser honesto.
Anos preso entre o estado de hiperalerta à qualquer perigo inimaginável – e na maiorias das vezes apenas imaginário- e o estado de dissociação faziam isso com qualquer um, ele suponha, tornavam-o insensível às mais pequenas e triviais formas de linguagem humana. Droga, até mesmo uma planta teria percebido com maior rapidez a mudança no olhar subitamente gélido de seu irmão ao escutá-lo chamar de "detetive" o rapaz que, anteriormente, Felix tinha casualmente contado ter conhecido.
Felix desfez os punhos fechados com um profundo suspiro. A raiva latente ainda queimava dentro de seu tórax, mas nem mesmo isso apagava o alívio de ter visto o rosto do seu irmão novamente depois de tanto tempo sem poder.
O garoto, todavia, não era estúpido. Embora normalmente alheio às pequenas formas de comunicação não verbal, ele reconhecia facilmente os olhares quase perplexos dos oficiais que retornavam às suas mesas, após saírem do que a assistente administrativa do andar havia lhe dito ser a reunião matinal.
Observando dois policiais que eram de outra divisão irem embora, Felix retornou o olhar preguiçoso para os rostos familiares dos detetives e do estagiário, franzindo levemente as sobrancelhas ao sentir que algo faltava naquela imagem, mas incapaz de apontar exatamente o quê.
— Felix? — Chan quebrou o breve silêncio, seu nome rolando dos lábios do detetive como uma dúvida, piscando para a visão do Emissário sentado demasiado confortável na cadeira vaga ao lado da sua mesa como se fosse uma imagem impossível.
E Felix riria da cara deles, se o mau humor de uma manhã que deu errado ainda não perdurasse.
— Bom dia, Detetive — cumprimentou, ao invés disso, dando deliberadamente um sorriso e, então, seu cérebro abruptamente percebeu a pequena figura que faltava. — Ué? Cadê o Tenente Anão?
Parece ter sido o suficiente para quebrar o olhar de surpresa no rosto do Detetive Lee e do pequeno estagiário, ambos irrompendo em risadas enquanto Bang Chan ia até sua mesa com a risada reprimida em um sorriso sutil, sua cabeça balançando suavemente denunciando seu divertimento reprovador.
— Ele ficou de tocaia há dias, tá dormindo no sofá da sala de descanso. — Seungmin apontou entre risos para a sala silenciosa de porta levemente encostada.
— Pra sua sorte, porque se ele tivesse te escutado o chamando assim você estaria tão morto. — Minho alertou com um sorriso quase sádico, deixando seu peso corporal cair sobre sua cadeira, espreguiçando demoradamente enquanto observava o loiro. — Se não fosse pelo seu comentário maldoso sobre a estatura do Tenente Seo, eu diria que você deve ser o irmão gêmeo do bem.
Felix olhou para si mesmo, entendendo parcialmente o motivo do olhar abismado dos rapazes. Bem, suas roupas em tons claros eram totalmente o oposto das roupas pretas e funcionais que usava como Emissário. Consciente da ausência das luvas cobrindo parcialmente suas mãos, puxou as mangas de seu suéter lilás para cobri-las.
— Desculpa, sem gêmeo. Eu faço sozinho os dois papéis. — brincou, piscando para Minho. — Essas são minhas roupas quando estou de férias da função de Emissário... Férias obrigatórias, mas cá entre nós, esse é o jeito da Ajumma punir de forma subentendida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Solivagant • chanlix
Fanfiction[EM REVISÃO] ❝O departamento de crimes violentos de Incheon era mais enfadonho do que o nome fazia parecer. Bang Chan não se importava, sendo isto um indício de que a taxa de homicídios da cidade estava mais baixa do que já esteve no passado que tod...