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Depois do desfecho daquela noite, Lunna chega em casa ainda muito alterada. Joga a bolsa sobre o sofá e arranca os saltos pensando nas palavras de Jota: "Eu ainda te amo." Só de lembrar já sente um nó na garganta.

Droga! Por que ele não disse isso antes?

Suspira fundo, entra no quarto e acende as luzes. Precisa tirar a maquiagem antes de se deitar, que aliás, até essa altura, as lágrimas já devem ter lavado a metade.

— Lunna? Até que enfim você chegou! — Juan aparentemente já estava acordado na cama. Rapidamente se levanta e pega o relógio de pulso em cima da cômoda, incomodado. — Por que demorou tanto? Olha que horas são!

— O show terminou tarde. — Responde, já preparando o desmaquilante diante do espelho.

— E essa cara toda borrada? Você chorou?

— Sim, foi bem emocionante. Você sabe, sou bem sensível e choro por qualquer coisa. Acho que deveria usar maquiagens a prova d'água. — Ela tenta disfarçar, mas o ciúmes do marido é mais forte do que qualquer desculpa.

— Ninguém chora depois de um show de música e você nunca chegou tão tarde. Explique melhor o que aconteceu.

Ela olha para trás já com o cenho franzido e o vê sentado sobre a cama, usando somente cueca, encarando-a.

— Sempre tem a primeira vez para tudo. — Responde, já percebe que o marido está sem paciência. — Você deveria confiar mais em mim, ou pelo menos ir me buscar já que não gosta que eu chegue tarde. — E continua com a higienização da pele.

— Onde estava na verdade? Você estava com alguém?

— Juan, volte a dormir e me deixe em paz!

Ele se levanta da cama, aproxima-se, agarra o braço dela violentamente e puxa para olhar nos olhos, assustando-a.

— Quer me responder direito? — Altera o tom de voz.

— Você está me assustando! Largue meu braço, está doendo! — Com os olhos arregalados, ela encara o rosto dele e percebe que seu marido bebeu, por conta do mal hálito. — Você bebeu?

— Um pouco. — Sem graça, ele larga o braço dela devagar e sai do quarto. Ela então percebe que Juan foi ao banheiro, tranca a porta do quarto e continua com a limpeza. Segundos depois, ele volta.

— Lunna abra a porta!

Ela não responde, troca de roupa e deita-se enquanto ele insiste batendo na porta.

— Eu não vou te agredir, desculpa amor!

Juan insiste por um longo tempo, mas sua esposa o ignora todas as vezes, até que ele desiste e tudo fica em silêncio. Mesmo assim, ela demora para pegar no sono e as lágrimas não param de escorrer por conta de tudo o que aconteceu nas últimas horas. A bailarina não consegue se conformar com a situação amorosa que vive.

De manhã, ela acorda com o sol batendo em seus olhos, pois se esqueceram de fechar a cortina da janela. Imediatamente, Lunna lembra-se de Jota, só depois do marido.

Bom, ele mereceu dormir do lado de fora hoje e é melhor que vá se acostumando ficar longe de mim, pois eu irei pedir divórcio o quanto antes.

Senta-se então na cama para tentar escutar algum barulho de Juan pela casa e percebe que tudo está um completo silêncio. Levanta-se, calça sua pantufa de urso e abre a porta lentamente e aparentemente ele não está.

Deita-se no sofá para ver televisão, mas não consegue se concentrar em mais nenhum outro pensamento a não ser Jota. De repente, Juan chega portando várias sacolas de padaria e usando as roupas amassadas que estavam penduradas no varal.

Entre sapatilhas e coturnosOnde histórias criam vida. Descubra agora