Entre sapatilhas e coturnos

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No jardim de uma casa feita de pedras, Lunna está parada esperando uma pessoa. As roseiras brancas se misturam com ipês amarelos, formando um lindo jardim. Várias pessoas, nas quais ela não as conhece, aproximam-se aos poucos perguntando o que ela faz parada ali ou dizendo que ele não virá, mas a garota tem certeza de que ele virá sim.

Está tudo claro como se o sol estivesse presente no quintal. Lá adiante, surge o rapaz que tanto espera: Jota. Ele usa uma camisa amarela que se destaca e sorri olhando diretamente para ela enquanto se aproxima devagar. Lunna não sabe o que fazer ou o que dizer, a não ser esperar ele vir ao seu encontro.

No entanto, outro homem surge primeiro sem que ninguém perceba para falar com Lunna, o desconhecido tira completamente o sorriso de Jota e o faz parar no caminho, em seguida, se retira e desaparece no meio das roseiras.

Neste momento, tudo desaparece e ela abre os olhos, todo o quarto está escuro e escuta somente o ronco de Juan.

Já é pelo menos a 5ª vez que sonho com o Jota. Que sonho era esse? O que significa? Isso tudo é tão estranho! Faz anos que não temos mais contato. Será talvez porque nunca consegui tirá-lo do meu coração? E que diferença isso faz? Pensa, enquanto vira-se para outro lado da cama, inconformada.

Ela sequer imagina que, à quilômetros de distância, Jota não consegue tirá-la da cabeça desde o dia que viu o vídeo clipe no qual ela participou, está acordado neste exato momento com insônia pensando nela e espera passar a mesma música na televisão todos os dias para vê-la.

Lunna e o marido finalmente chegam em uma decisão em qual criança escolher, é uma menina chamada Luisa, tem 2 anos de idade e cabelos castanhos lisos e finos. O casal passa então por uma espécie de processo seletivo e também a frequentar o local para interagir com a criança e ganhar confiança da diretora. A futura mãe também faz uma mega faxina e arrumação em casa para impressionar os avaliadores que a visitarão em breve.

Certo dia, Juan chega com um caixa enorme em casa que mal consegue carregar.

— Amor me ajude aqui, ou então irei derrubar tudo! — Diz andando em direção a mesa da cozinha.

— Meu Deus, o que é isso? — Ela corre para ajudá-lo a carregar e colocar sobre a mesa. — É algo relacionado a adoção? — Abre um sorriso enorme, enquanto observa a caixa.

— Hã? Não, nada a ver com adoção. É algo super legal e quase ninguém tem.

— O que é? — Pergunta mega ansiosa, enquanto ele começa a abrir a caixa com uma faca, depois começa a tirar vários isopores e plásticos bolhas. Logo Lunna descobre que é um computador de tubo. Quando ele levanta o monitor, a boca dela se abre instantaneamente, nunca pensou que teria um desse em casa.

— Gostou? — Ele sorri para ela enquanto coloca o objeto sobre a mesa.

— Adorei!

— Bom, de certa forma, essa coisinha tem a ver sim com a adoção, pois irá impressionar tanto os avaliadores, que irão nos entregar a Luisa na hora!

— Você acha? — Pergunta olhando o gabinete dentro da caixa.

— Com certeza!

Depois desse dia, o casal aprende a mexer na máquina, se divertem juntos e até criam um perfil numa rede social, na qual está cada vez mais popular.

Enquanto isso no Brasil, Jota faz todas essas coisas e muito mais utilizando o computador de seu trabalho e em casa. Há algum tempo, decidiu procurar por Lunna naquela mesma rede social, porém, ele já está quase desistindo pelo tamanho da dificuldade que é encontrar alguém na internet e por achar que ela sequer tem acesso a rede.