11. Você tá bêbado

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Heather P.O.V

Ao chegarmos em casa, ajudo Kyle a deitar na sua cama e procuro uma bolsa de gelo na cozinha. Subo as escadas novamente para vê-lo em pé ensaiando os movimentos que vimos no dojo.

— O que está fazendo? — pergunto exaltada.

— Tô praticando. Como posso ser um Cobra Kai sem treinar?

— Você não vai voltar lá, Kyle.

— Por que não? Eu gostei.

— Você gostou?! — indago incrédula no que meus ouvidos escutam.

— Sim. Eu quero ser como eles. Igual ao Johnny.

— Ele só pode ter te batido com muita força mesmo... já está delirando.

— Não! Eu quero saber fazer o que ele faz, quero uma faixa preta daquelas, e ter confiança. Aqueles garotos na escola nunca mais vão me bater se eu for igual a ele. — confessa a última frase em mágoa.

— Você tá maluco se pensa que a mamãe vai te deixar ir lá de novo.

— Eu não vou contar. — dá de ombros.

— Mas eu vou! Johnny não tinha o direito de...

— Para de ser chata, Heather! — me repreende e eu me surpreendo. — Ele só fez o que o sensei mandou. É assim que as coisas funcionam. Sem compaixão.

Ele continua socando o ar e eu permaneço aqui por mais alguns minutos refletindo sobre o que eu ouvi. Não acredito que meu irmão tem o Johnny Lawrence como modelo. Aposto que nem ele mesmo se vê assim.

Deixo o seu quarto e vou ao meu tomar um banho. Visto uma camiseta branca, shorts azul com listras e seco o meu cabelo, que claramente não fica bom como em todos os dias. Tento ler um pouco e estudar, mas minha mente está flutuando. Sinto meus batimentos mais acelerados e uma ansiedade crescer em mim, como se algo ruim estivesse pra acontecer.

Pego o meu walkman e o ponho para tocar enquanto vou a varanda levar um pouco de ar fresco. A noite já se avança e a brisa fica cada vez mais gelada, beijando o meu rosto. Consigo me acalmar um pouco.

Todavia, quando me preparo para fechar a janela percebo uma movimentação na grama lá embaixo, mais precisamente no caramanchão abaixo da varanda. Em meio a escuridão consigo enxergar uma cabeleira loira e por instinto posso imaginar de quem seja.

Johnny escala o caramanchão ficando a menos de um metro abaixo da minha varanda e já penso em colocá-lo para correr, mas noto seus olhos fundos e vermelhos, assim como suas mãos trêmulas e sangrentas. O que houve?

— Eu sei que... você tá me odiando...mas, por favor...eu não tenho para onde ir. — suplica erguendo sua mão em minha direção.

— E os seus amigos? — engulo em seco, visto o estado calamitoso dele.

— Eles não sabem.

Reflito um instante sobre a situação. Eu deveria mandá-lo embora, minha mente diz que ele merece ficar sozinho depois de todo mal que fez com muita gente, inclusive com pessoas como eu. Porém...meu coração não aguenta ver alguém com olhos suplicando por ajuda.

Eu estendo minha mão até a dele e o ajudo a subir até a minha varanda. Ele se desequilibra um pouco ao pôr os pés e eu o seguro contra a grade com o meu próprio corpo.

— Você tá bêbado.

— Não.... não tô. Eu só tomei..algumas cervejas...

— Afff... você tá com um bafo...vem, vamos entrar.

No One Like You - Johnny Lawrence 80s [√]Onde histórias criam vida. Descubra agora