16. Noite de tédio - parte II

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Heather P.O.V

Johnny me conduz para dentro do clube, onde logo a música calma e o som de falas controladas me invadem. Há cerca de cem pessoas ou mais aqui, todas vestidas a caráter e com ar de superioridade. Noto que há poucas pessoas da minha idade, salvo os garçons, o resto ou são crianças ou adultos e idosos.

— Ei, olha uma coisa.

Johnny se aproxima de um garçom pelas costas e cutuca o seu ombro direito. O garçom vira o rosto nessa direção enquanto Johnny retira uma taça de vinho no lado esquerdo. Eles conversam um momento e logo Johnny retorna com uma taça entre os dedos.

— Isso é pra você.

— Eu não bebo, Johnny.

— Hoje você tá precisando. Só um pouco...pra relaxar.

Eu reluto por um momento, mas decido aceitar. É uma noite apenas, não há porque ter tantas prisões em minha mente. Tomo apenas um gole. Até que é gostoso apesar do álcool fluir quente em minha boca. Ofereço para ele, que recusa.

— Eu trouxe algo mais forte. — mostra o interior do terno, onde há uma pequena garrafinha prateada no bolso. — Vamos sentar ali com minha mãe.

Caminhamos entre as mesas do clube tão esplêndido que há lustres com cerca de cinquenta luzes em cada, bem como mesas cujas toalhas de seda bege realçam tanto a ponto de me deixarem um pouco zonza. Ou será o vinho?

Sento ao lado de Johnny e a frente de Laura, que está tão deslumbrante como da última vez que a vi. Hoje, ela usa um vestido púrpura com drapeados em prata e uma leve amarração na cintura. Seus cabelos ondulados estão presos em um coque baixo e sua maquiagem leve realça ainda mais a sua beleza. Quando me vê, ela sorri.

— Boa noite, Heather. Que bom tê-la hoje conosco.

— Obrigada, senhora Lawrence...ahm...Laura. É bom vê-la outra vez, em melhores condições. — aponto ao vestido e ela ri rapidamente.

— Oh, querida, não se preocupe com isso. Eu que peço desculpas pelo comportamento de meu marido naquele dia.

— Sem ressentimentos.

— Por falar no diabo... — Johnny informa irônico.

Observo que o sr. Weinberg se aproxima da mesa portando um terno branco do mais fino linho e um charuto entre os dedos gordos. Ao sentar, ele ordena que Johnny acenda o seu charuto, o que ele o faz com uma expressão entediada. Então, Sid percebe a minha presença.

— Onde está Hannah? — indaga após dar uma lufada.

— No Caribe com os pais. — Johnny responde sem vontade.

— Ah, agora entendi porque ela está aqui.

— Ela tem um nome, Sid.

— Não há porque eu aprender o nome dela. Daqui a algumas semanas você já estará com outra.

— Sid, querido! — Laura chama a sua atenção. — Por favor, seja mais gentil.

— Ok. — ele me olha e dá outra lufada. — Em que seus pais trabalham, querida?

— Minha mãe é recepcionista de um hospital. E meu pai...faleceu há alguns anos. Ele servia ao exército americano.

Johnny me fita surpreso e comovido. Outro detalhe sobre mim que eu ainda não havia o contado.

— Huh, como eu havia pensado, uma família de pobres. Eu saberei o seu nome quando tiver ao menos seis dígitos na conta bancária.

Percebo que Johnny cerra os punhos sobre a mesa, bem como a sua respiração se torna descompassada. Eu entendo a sua revolta porque eu também me sinto assim por ser humilhada dessa forma. Mas não posso deixar que esse senhor deselegante — para não dizer coisa pior — pense que me afetou. Então, eu digo:

— Sem problemas, daqui a alguns anos serei eu quem não lembrará o nome do senhor. — tomo outro gole do meu vinho sem me importar se vou ser repreendida por não ter idade pra tal. — Johnny, poderia me levar pra dançar?

Observo os olhos furiosos do sr. Weinberg, as orbes penosas da senhora Laura e o olhar surpreso junto a um sorriso discreto nos lábios de Johnny. Ele acena com a cabeça em confirmação e se levanta, me tirando para dançar perto do palco com banda ao vivo. Após alguns segundos de silêncio, ele diz sorridente:

— Eu nunca vi o Sid daquele jeito. Acho que dava pra acender um charuto com as fumaças que saiam de suas orelhas.

— Desculpe por causar isso na sua família. Eu só não poderia ficar calada ao ser humilhada daquela forma.

— Não precisa se desculpar. Se você não tivesse se defendido, eu provavelmente teria acertado a fuça dele.

Eu rio e observo o padrasto de Johnny nos observando de longe com um olhar reprovador. Então, eu tenho uma ideia.

— Quer fazer seu padrasto ficar louco? — indago maliciosa.

— Faço de tudo pra sair desse tédio. Olha essa música? Parece que estamos em um velório!

Tomo o seu comentário como aprovação e me afasto dele alguns instantes para chamar a atenção do vocalista da banda. Ele solta uma risada abafada e concorda com o meu pedido. A banda para de tocar alguns instantes a fim de se preparar para a nova música parecendo mais empolgados em tocar. Observo que todos olham ao palco em confusão.

Então, o som da bateria inicia, logo o baixo e a guitarra e meus pés já dão a marca do ritmo. Fito Johnny que me devolve incrédulo com uma risada surgindo. Eu começo alguns passos sozinha para ele me acompanhar depois meio receoso.

"Eu tenho trabalhado tão duro
Estou socando o meu cartão
8 horas para o que?
Diga-me o que eu tenho
Eu tenho esse sentimento
Esse tempo está apenas me segurando
Eu vou explodir ou então farei essa cidade em pedaços

Hoje à noite eu tenho que me soltar, sem compromissos
Tire os seus sapatos de domingo
Por favor, Louise, me tire de meus joelhos
Jack, volte
Vamos lá antes de quebrar
Deixe sua apatia, todo mundo sem regras"

Eu e Johnny dançamos um country coordenado enquanto os convidados ilustres nos olham com incredulidade. Ele dá alguns passos sozinho, que me fazem rir, já que Johnny não leva muito jeito pra dança, mas o acompanho com mais passos.

Contagiados por nossa dança e o ritmo alguns convidados se aproximam tentando nos acompanhar. Logo, quase todos deixam suas mesas e vem para próximo ao palco dançando divertidamente. Eu solto várias risadas durante o número devido ao olhar furioso de Sid e o quanto me divirto com magnatas retirando seus ternos para dançar ao ritmo de Kenny Loggins.

Johnny me busca pela cintura e dançamos com as testas coladas enquanto sorrisos não deixam nossos lábios. Vejo o suor escorrer por seu pescoço e sei que o meu não está diferente. Ele me afasta de si com um empurrão, me fazendo rodopiar como um peão e me segura novamente. Dessa vez, ficamos tão próximos que nossos narizes se tocam e sinto a sua respiração acelerada e quente.

Encerramos a música ofegantes e sorridentes. Não apenas eu e Johnny, mas o resto dos convidados que aceitaram entrar no lado simples da vida. Exceto, é claro, Sid Weinberg, que continua com a expressão raivosa tão vermelha que cogito a sua explosão a qualquer momento.

Então, a banda segue tocando músicas mais ritmadas, alegrando os convidados. Eu e Johnny continuamos dançando juntos, nos divertindo tanto que tento lembrar de algum momento parecido com esse em minha vida. Ele segura em minha cintura e me ergue aos céus como um prêmio pelo qual ele batalhou por muito tempo para conseguir. Ao me por novamente no chão, diz sem fôlego:

— Mais uma coisa que você não me disse. Você é uma ótima dançarina!

— Bem, você nunca perguntou. — sorrio. — Você também não é tão mal assim.

— Está mentindo, sou terrível! Pisei no seu pé muitas vezes.

— Eu sou a sua tutora, posso resolver isso.

📝
Olha só a evolução desses dois 😯. Espero que estejam gostando, gente! Agradeço muito mesmo por todo o carinho que estou recebendo com a história e por vocês estarem sempre presentes nas atualizações! Sério, amoooo!
Próxima semana tem mais capítulos desses dois maluquinhos, com a continuação dessa noite inusitada 😏. Bjs de luz! 😘✨

No One Like You - Johnny Lawrence 80s [√]Onde histórias criam vida. Descubra agora