Como sempre, Élodie acordou logo após o seu pesadelo. Dessa vez, no entanto, Bernard não disse as palavras de costume.
Em vez de dizer "alguma coisa ruim aconteceu", ele disse "alguma coisa ruim vai acontecer", e isso a assustou ainda mais.
A princesa sabia qual era o "algo ruim" a qual seu irmão se referia. No entanto, naquela noite foi como se ele pressentisse o futuro.
E o futuro era incerto.
Élodie respirou fundo e olhou para a cama. O quarto ainda estava iluminado, pois os castiçais estavam acesos.
Dois livros estavam abertos ao seu lado. Um era uma obra famosa, escrita no idioma oficial do Reino, o outro era de anotações sobre o primeiro livro, mas no dialeto de Laon.
Ela desejou saber por que livros como aquele permaneciam ali, já que Oto queimara todos os registros pessoais do povo - os que não estavam escritos na língua oficial.
Foi um período de extrema repressão, já que o idioma oficial de Asteria não era o mesmo de Nova Aurora - esse último era um dialeto isolado na região de Asteria, e, para tentar facilitar as coisas, Oto exigiu que todos aprendessem a língua de Nova Aurora.
No entanto, ele nunca conseguiu conter os dialetos, e, ao que parecia, começou a desistir da ideia de extinguir todos eles, mantendo como única regra a de falar apenas no idioma oficial em público — o que também tinha as suas falhas.
Élodie se concentrou nos furos estratégicos do rei para tentar se livrar do medo que o pesadelo causara.
Seria um aviso?
Talvez a sua intuição estivesse tentando usar o seu falecido irmão para alertá-la.
Não, pensou, chacoalhando a cabeça para se livrar dos pensamentos.
A princesa não queria voltar a pensar em intuição e se ela existia ou não.
Mas era curioso ouvir a frase "alguma coisa ruim vai acontecer" na noite em que decidira visitar o quarto do homem de Asteria.
Élodie não era tola a ponto de acreditar que Timothée não tinha interesses políticos que o levariam a prejudicá-la, caso tivesse a oportunidade. Por outro lado, desde o dia anterior, quando perguntara a ele sobre qual seria a sua comemoração ideal, ela tinha certeza de que ambos não estavam pensando em política, muito menos em vingança.
Mesmo que Timothée a provocasse dizendo que ela deveria fazer melhor que Janelle, a princesa cogitava ir até o quarto dele porque assim desejava, não porque precisava provar alguma coisa.
Eu sou melhor que ela, pensou, encarando as próprias unhas.
Ainda pensava em como parte daquelas feridas no corpo dele eram de responsabilidade da rainha.
Se Janelle fizera aquilo com ele, era provável que Timothée não fosse a primeira vítima.
A rainha seria capaz de matar alguém?
Não se eu matá-la primeiro.
A princesa se levantou e começou a caminhar pelo quarto, em um exercício para se livrar de todas aquelas preocupações.
Decidira, mais cedo, que deixaria tudo aquilo para depois, e cumpriria com a própria palavra.
Timothée deveria estar à sua espera naquele momento, e ela iria.
Alguma coisa ruim vai acontecer, ela ouviu novamente, como se Bernard estivesse ao seu lado.
— Hoje? Em quanto tempo?
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REBEL || Timothée Chalamet
FanfictionInício: 24/12/2022 Quando a princesa Élodie decidiu ajudar um rebelde escravizado, ela não fazia ideia de que ele seria a sua ruína. "Em meu coração, alteza, não existe prioridade acima da causa rebelde" Capa by @amsamora