17

560 94 70
                                    

Transparecendo uma calma que não condizia com o que estava sentindo, Élodie afastou-se lentamente de Timothée. A princesa encarou o guarda, que os observava com um olhar impassível que, não fosse pelos lábios comprimidos, esconderia sua verdadeira reação à cena que presenciara.

— Plutarch...

Ela pronunciou o nome com uma casualidade que destoava do contexto no qual se encontravam: a princesa flagrada aos beijos com um escravo.

Timothée não gostou do aperto em seu peito, motivado não apenas pelo medo da morte — porque tinha certeza de que aquele guarda, que sempre olhava para Élodie com devoção, o mataria na primeira oportunidade —, mas também pelo sentimento de impotência.

Sua vida estava, naquele momento, nas mãos da princesa e da sua capacidade de persuasão.

Até aquele momento, ela conseguira convencer o rei a tirá-lo da prisão horrenda na qual vivia e, ainda mais surpreendente, liberar a sua saída do castelo.

No entanto, Timothée tinha certeza de que nada daquilo seria possível, mesmo com a astúcia de Élodie, se o rei soubesse que os dois se encontravam em segredo.

— Alteza.

— Não é educado entrar sem anunciar — disse, sorrindo.

— Estou aqui para garantir a sua segurança, alteza.

Ao dizer isso, o guarda olhou rapidamente na direção de Timothée, que permaneceu de cabeça erguida, mesmo ciente do perigo.

— Uma nobre missão, evidentemente — murmurou, antes de caminhar, sem olhar para trás, em direção ao guarda. — Acompanhe-me.

Plutarch obedeceu, e os dois saíram.

Totalmente ignorado e imerso em um lamaçal de frustração, Timothée jurou a si mesmo que, se escapasse vivo daquela enrascada, não deixaria que sua vida — e a sua fragilidade — ficasse nas mãos de Élodie.

Não mais.

Naquele momento, certamente a princesa usaria seus encantos para impedir que o guarda denunciasse o que vira ao rei. Talvez ela o tocasse como fizera com ele.

Timothée quis rir de si mesmo ao lembrar que, minutos antes, perdera a calma ao imaginá-la com outro homem.

Um tolo, pensou. Fui um tolo.

Ela sempre usaria suas artimanhas para conseguir o que queria, e ninguém poderia culpá-la, sobretudo ele, que tivera a pele salva por consequência dos planos dela.

À princesa sobrevivente de Nova Aurora, ele teria gratidão para sempre. Mas o seu coração jamais deveria ser dela.

Não se ele quisesse cumprir o que prometera diante dos corpos sem vida de seus irmãos.

***

Élodie folheava um livro empoeirado enquanto Plutarch a observava. Sua mente não estava nas palavras escritas; em vez disso, trabalhava para fazer com que tudo parecesse normal, quando ambos sabiam que não era verdade.

— Diga — ela ordenou, de repente.

— Perdão, alteza?

— Diga o que quer dizer.

O homem pigarreou, incomodado.

— Eu não me atreveria, alteza.

Ela sorriu.

— Então você tem algo a dizer.

Dessa vez, o incômodo do guarda transpareceu no suor que começou a brotar na sua testa.

— Alteza...

Élodie suspirou, parecendo entendiada.

— Tudo bem, não falaremos disso. Mas o silêncio pode ser entediante, não acha?

— Decerto que sim, alteza.

— É esse o motivo de falarem tanto pelos cantos do castelo, não acha?

— Decerto que sim, alteza.

— Mais cedo, após deixar a presença do rei, ouvi que um dos guardas foi morto. Você sabe algo sobre isso?

Plutarch tentou, em vão, permanecer impassível antes de responder:

— Antoine investiu contra uma das concubinas do rei, alteza. Esse é... Eu não devia falar sobre isso com a senhorita.

— Estamos falando sobre o Antoine que o denunciou ao rei?

Élodie sabia que, após ter dito a Oto que os guardas desrespeitavam a sua autoridade, o rei os punira. Plutarch não seria estúpido a ponto de pensar que ela acreditaria em tamanha coincidência — mesmo que ele não soubesse que Antoine nunca traíra sua própria classe.

— Sim, alteza.

Ela riu, como se tivesse acabado de assistir à melhor apresentação de comédia de sua vida — algo que não acontecia desde que Oto, após tomar o trono, proibira manifestações artísticas no castelo.

— Será que ele, assim como o rei, não se contentou apenas com a rainha?

— Alteza...

O guarda parecia em choque, afinal, Élodie nunca demonstrara seu desprezo em voz alta. No entanto, a princesa reconhecia que chegara o momento de fazer movimentos mais ousados, se não quisesse permanecer na inércia.

Ela se levantou, aproximando-se dele.

— Eu o entendo, Plutarch. Às vezes é necessário tomar medidas drásticas para eliminar um inimigo. Ou para fazer com que o aliado de um inimigo mude de lado. Não é verdade?

— Decerto que sim, alteza.

— Então, se você concorda, é porque estamos em sintonia. Correto?

— Decerto que sim, alteza.

— Se estamos jogando o mesmo jogo, você não gostaria de me ter como uma inimiga.

— Decerto que não, alteza.

Ela sorriu, ciente de que estava prestes a vencer mais uma vez.

— Então não há por que questionarmos nossos métodos, nem denunciá-los a ouvidos que estão fadados a não nos compreender.

Quando o guarda murmurou o último — mas não menos irritante — "decerto que sim, alteza", Élodie sentiu-se invencível.

Invencível, mas não imune. No entanto, ela jamais admitiria que o envolvimento com o homem de Asteria não era apenas uma mera estratégia.

***

Janelle respirou fundo enquanto observava o jardim.

O calor a irritava, mas não mais que a sensação de que perdera o controle.

O desprezo do rei, evidente para todos no reino, sempre fora o combustível do qual precisava para agir. No entanto, a maldita sobrevivente não era mais uma criança, e a rainha se culpou por não ter dado a ela a devida importância.

Mas Élodie jamais seria uma rival à altura, pensou, sorrindo para o horizonte.

— Jamais — murmurou.

— Perdão, majestade?

Ela se virou em direção à dama de companhia.

— Faça com que uma carta minha chegue àquela ala do castelo — disse, apontando para a área na qual Oto mantinha a princesa protegida.

Não seria difícil furar aquele bloqueio. Oto era, acima de tudo, um tolo. Se a maldita permanecia intacta, Janelle estava certa de que não era por mérito do rei.

Estava claro que a princesa fizera aliados. Todavia, a rainha sabia que era impossível consegui-los sem criar inimigos pelo caminho.

Contaria com isso.

Sorriu, determinada, e começou a caminhar de volta para o castelo.

Pela sua mente passeavam diversas maneiras de começar a carta.

Talvez investisse no clichê.

"Querido Timothée"...

REBEL || Timothée Chalamet Onde histórias criam vida. Descubra agora