Transparecendo uma calma que não condizia com o que estava sentindo, Élodie afastou-se lentamente de Timothée. A princesa encarou o guarda, que os observava com um olhar impassível que, não fosse pelos lábios comprimidos, esconderia sua verdadeira reação à cena que presenciara.
— Plutarch...
Ela pronunciou o nome com uma casualidade que destoava do contexto no qual se encontravam: a princesa flagrada aos beijos com um escravo.
Timothée não gostou do aperto em seu peito, motivado não apenas pelo medo da morte — porque tinha certeza de que aquele guarda, que sempre olhava para Élodie com devoção, o mataria na primeira oportunidade —, mas também pelo sentimento de impotência.
Sua vida estava, naquele momento, nas mãos da princesa e da sua capacidade de persuasão.
Até aquele momento, ela conseguira convencer o rei a tirá-lo da prisão horrenda na qual vivia e, ainda mais surpreendente, liberar a sua saída do castelo.
No entanto, Timothée tinha certeza de que nada daquilo seria possível, mesmo com a astúcia de Élodie, se o rei soubesse que os dois se encontravam em segredo.
— Alteza.
— Não é educado entrar sem anunciar — disse, sorrindo.
— Estou aqui para garantir a sua segurança, alteza.
Ao dizer isso, o guarda olhou rapidamente na direção de Timothée, que permaneceu de cabeça erguida, mesmo ciente do perigo.
— Uma nobre missão, evidentemente — murmurou, antes de caminhar, sem olhar para trás, em direção ao guarda. — Acompanhe-me.
Plutarch obedeceu, e os dois saíram.
Totalmente ignorado e imerso em um lamaçal de frustração, Timothée jurou a si mesmo que, se escapasse vivo daquela enrascada, não deixaria que sua vida — e a sua fragilidade — ficasse nas mãos de Élodie.
Não mais.
Naquele momento, certamente a princesa usaria seus encantos para impedir que o guarda denunciasse o que vira ao rei. Talvez ela o tocasse como fizera com ele.
Timothée quis rir de si mesmo ao lembrar que, minutos antes, perdera a calma ao imaginá-la com outro homem.
Um tolo, pensou. Fui um tolo.
Ela sempre usaria suas artimanhas para conseguir o que queria, e ninguém poderia culpá-la, sobretudo ele, que tivera a pele salva por consequência dos planos dela.
À princesa sobrevivente de Nova Aurora, ele teria gratidão para sempre. Mas o seu coração jamais deveria ser dela.
Não se ele quisesse cumprir o que prometera diante dos corpos sem vida de seus irmãos.
***
Élodie folheava um livro empoeirado enquanto Plutarch a observava. Sua mente não estava nas palavras escritas; em vez disso, trabalhava para fazer com que tudo parecesse normal, quando ambos sabiam que não era verdade.
— Diga — ela ordenou, de repente.
— Perdão, alteza?
— Diga o que quer dizer.
O homem pigarreou, incomodado.
— Eu não me atreveria, alteza.
Ela sorriu.
— Então você tem algo a dizer.
Dessa vez, o incômodo do guarda transpareceu no suor que começou a brotar na sua testa.
— Alteza...
Élodie suspirou, parecendo entendiada.
— Tudo bem, não falaremos disso. Mas o silêncio pode ser entediante, não acha?
— Decerto que sim, alteza.
— É esse o motivo de falarem tanto pelos cantos do castelo, não acha?
— Decerto que sim, alteza.
— Mais cedo, após deixar a presença do rei, ouvi que um dos guardas foi morto. Você sabe algo sobre isso?
Plutarch tentou, em vão, permanecer impassível antes de responder:
— Antoine investiu contra uma das concubinas do rei, alteza. Esse é... Eu não devia falar sobre isso com a senhorita.
— Estamos falando sobre o Antoine que o denunciou ao rei?
Élodie sabia que, após ter dito a Oto que os guardas desrespeitavam a sua autoridade, o rei os punira. Plutarch não seria estúpido a ponto de pensar que ela acreditaria em tamanha coincidência — mesmo que ele não soubesse que Antoine nunca traíra sua própria classe.
— Sim, alteza.
Ela riu, como se tivesse acabado de assistir à melhor apresentação de comédia de sua vida — algo que não acontecia desde que Oto, após tomar o trono, proibira manifestações artísticas no castelo.
— Será que ele, assim como o rei, não se contentou apenas com a rainha?
— Alteza...
O guarda parecia em choque, afinal, Élodie nunca demonstrara seu desprezo em voz alta. No entanto, a princesa reconhecia que chegara o momento de fazer movimentos mais ousados, se não quisesse permanecer na inércia.
Ela se levantou, aproximando-se dele.
— Eu o entendo, Plutarch. Às vezes é necessário tomar medidas drásticas para eliminar um inimigo. Ou para fazer com que o aliado de um inimigo mude de lado. Não é verdade?
— Decerto que sim, alteza.
— Então, se você concorda, é porque estamos em sintonia. Correto?
— Decerto que sim, alteza.
— Se estamos jogando o mesmo jogo, você não gostaria de me ter como uma inimiga.
— Decerto que não, alteza.
Ela sorriu, ciente de que estava prestes a vencer mais uma vez.
— Então não há por que questionarmos nossos métodos, nem denunciá-los a ouvidos que estão fadados a não nos compreender.
Quando o guarda murmurou o último — mas não menos irritante — "decerto que sim, alteza", Élodie sentiu-se invencível.
Invencível, mas não imune. No entanto, ela jamais admitiria que o envolvimento com o homem de Asteria não era apenas uma mera estratégia.
***
Janelle respirou fundo enquanto observava o jardim.
O calor a irritava, mas não mais que a sensação de que perdera o controle.
O desprezo do rei, evidente para todos no reino, sempre fora o combustível do qual precisava para agir. No entanto, a maldita sobrevivente não era mais uma criança, e a rainha se culpou por não ter dado a ela a devida importância.
Mas Élodie jamais seria uma rival à altura, pensou, sorrindo para o horizonte.
— Jamais — murmurou.
— Perdão, majestade?
Ela se virou em direção à dama de companhia.
— Faça com que uma carta minha chegue àquela ala do castelo — disse, apontando para a área na qual Oto mantinha a princesa protegida.
Não seria difícil furar aquele bloqueio. Oto era, acima de tudo, um tolo. Se a maldita permanecia intacta, Janelle estava certa de que não era por mérito do rei.
Estava claro que a princesa fizera aliados. Todavia, a rainha sabia que era impossível consegui-los sem criar inimigos pelo caminho.
Contaria com isso.
Sorriu, determinada, e começou a caminhar de volta para o castelo.
Pela sua mente passeavam diversas maneiras de começar a carta.
Talvez investisse no clichê.
"Querido Timothée"...
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REBEL || Timothée Chalamet
FanfictionInício: 24/12/2022 Quando a princesa Élodie decidiu ajudar um rebelde escravizado, ela não fazia ideia de que ele seria a sua ruína. "Em meu coração, alteza, não existe prioridade acima da causa rebelde" Capa by @amsamora