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O caos se espalhara pelas ruas, assim como o rumor de que a princesa sobrevivente de Nova Aurora estava em Laon, ferida e inconsciente.

Os relatos da chegada de uma carruagem da nobreza contribuíram para que o boato, que era verdadeiro, se fortalecesse.

Sabendo disso, Timothée decidiu acrescentar uma informação falsa aos burburinhos: a princesa fora ferida por um dos guardas.

Ao ouvir isso, o povo, já inflamado, concluiu que Élodie estava do lado dos rebeldes e, por isso, fora atingida.

Uma figura tão importante como aliada era o que o povo precisava, e não demorou muito para que Plutarch começasse a atualizar o número de homens do rei mortos por rebeldes.

Timothée desejou saber o que Élodie pensaria daquilo, afinal, era parte do seu plano.

Dos planos que faziam quando estavam juntos no castelo.

Quando ela esbanjava saúde.

Incapaz de assistir ao corpo da princesa murchando a cada dia, sem que ela estivesse consciente do próprio estado, ele parou de visitá-la.

Sabia que era um covarde, e o olhar no rosto de Amélie, quando o homem anunciou que não voltaria, mostrou que ele não era o único a ter aquela opinião.

Mas parecia injusto, incoerente. Alguém como Élodie não podia morrer aos poucos.

Alguém como ele não podia se apaixonar por alguém com os dias contados.

Ele se recusou a ouvir as palavras de esperança ditas por Alyah — que conhecia alguém que poderia fazer alguma coisa —,  nem as atualizações de Amélie.

Ele não queria saber.

Duas semanas se passaram sem que Timothée tivesse coragem de perguntar como ela estava. No entanto, em todos esses dias a sua mente e o seu coração não o deixaram em paz.

Ela estava lá, o tempo todo, desde o momento em que se levantava — porque não havia como acordar, se não conseguia dormir —,  até o momento em que se deitava. E no intervalo entre ambos, quando se remexia na tentativa de descansar os olhos, Élodie permanecia lá.

Às vezes aparecia em lembranças, outras, em cenários que ele gostaria de ter vivido com ela. E, para o seu desespero, também aparecia morta, em uma imagem que o lembrava do dia em que, após ouvir as confissões dele, Élodie apagara, como se estivesse morrendo.

Foi depois daquele dia que ele decidiu que não a veria morrer.

Enquanto sua mente vagava por cenários fúnebres e devastadores, uma voz o chamou. Embora parecesse distante a princípio, Timothée descobriu que quem o chamava estava próximo.

Era Rainere, o irmão de Alyah e responsável por atirar a adaga em Élodie.

Ele e Timothée não tinham muito em comum, tendo se unido apenas pelo desejo de libertar o povo do rei tirano. Além das diferenças, o homem de Asteria não conseguia evitar os pensamentos acusatórios, afinal, fora ele quem arremessara a adaga.

— Se os reforços vierem do sul, teremos soldados aqui em menos de vinte e quatro horas — disse, ignorando o estado taciturno de Timothée. — Alguns fugiram nos últimos dias, e com certeza anunciaram o que está acontecendo aqui.

— Quanto tempo até o próprio exército do rei estar aqui?

— Não creio que o rei leve esse levante a sério. A não ser...

Ele encarou Rainere quando o homem não continuou a falar, mas não foram necessárias mais palavras para que entendesse o que ele pretendia dizer.

A não ser que Oto descobrisse que Élodie estava ali.

REBEL || Timothée Chalamet Onde histórias criam vida. Descubra agora