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A simples curiosidade em saber o que a minha mãe tanto queria comigo me fez ceder em ouvi-la

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A simples curiosidade em saber o que a minha mãe tanto queria comigo me fez ceder em ouvi-la. Não pude deixar de notar quebseus olhos estavam bem menos julgadores do que já estiveram bem qualquer um dos momentos em que os direcionou para mim.

Parecia até que ela estava sem jeito. Assim que os meninos entraram no elevador e as portas se fecharam, Marry respirou fundo e apertou ainda mais a alça de
sua bolsa, como que para conter a tensão. Ela não olhava muito tempo para mim, sempre procurava um outro ponto seja nas paredes ou no chão.

— É melhor você dizer logo. — falei mostrando a minha impaciência.

— Eu vi a sua coletiva de imprensa. É, S/n, você é tudo o que eu disse que você jamais seria. — ela me deu uma breve olhada de cima a baixo. — Voltou a ficar encorpada.

— Ah, pelo amor de Deus! — revirei os olhos, já prestes a desistir daquela conversa.

— Não, não estou criticando. Parece bem mais saudável agora. Como anda o tratamento da bulimia? — se eu não a conhecesse, diria que estava mesmo preocupada.

— Logicamente, eu ainda não estou curada, isso leva tempo, ainda posso ter recaídas. Mas nunca estive tão melhor quanto agora.

— Isso é muito bom. — sorriu. — Bem... — engoliu em seco. — Sobre quando você disse que foi abusada... — olhou para os próprios pés, procurando as palavras. — Na época, eu não quis acreditar em você porque isso destruiria a imagem que eu tinha do meu irmão e eu me neguei a permitir isso.

— Mas permitiu que ele saísse impune. — cruzei os braços e fiquei ainda mais séria.

— Eu sei... — fechou os olhos e suspirou. O que eu fiz não tem perdão. Me coloquei na sua situação e entendo totalmente que tenha preferido sair de casa e ficar longe de mim.

— Você sabe que esse não foi o único motivo. — ela ergueu o olharbpara mim novamente. — A minha vida inteira você me tratou como lixo. O fato de não ter acreditado em mim quando eu disse que fui abusada foi só a gota que faltava pra que o copo transbordasse.

— Eu sinto muito... — sua voz ficou embargada. — Me desculpa, S/n... eu fui uma mãe horrível. — Ela começou a soluçar enquanto suas lágrimas caíam e eu fiquei sem reação, mas não desamarrei a minha expressão desconfiada. — Tenho feito terapia também. — enxugou o rosto. — Eu te culpei por ter nascido quando você nem pediu para existir. Eu amava o seu pai e ele sumiu assim que soube da gravidez. Isso me fez te odiar.

— Demorou muito pra se dar conta que um feto não tem culpa do mal caráter do pai dele.

— Eu sei, eu admito os meus erros. Fui uma pessoa amargurada, irritada e insatisfeita a minha vida inteira. Mas nós somos os nossos próprios demônios. Eu estava fazendo mal a mim mesma quando fazia mal a você. Quando eu te vi na primeira capa de revista, ao invés de orgulho, eu senti inveja. — ela parecia
envergonhada em ter que admitir isso. — Larguei a minha carreira por sua causa, porque naquela época não existia essa coisa de aceitação, todas tínhamos que ser magras e sem marcas. E eu te vi magra e linda numa campanha. Meu sangue ferveu, ao invés do
meu coração se aquecer.

 𝐏𝐋𝐀𝐘 𝐃𝐀𝐓𝐄, Josh B.Onde histórias criam vida. Descubra agora