•Não fiz uma avaliação intensa para caracterizar a história como leitura sensível nem ditar seus gatilhos.
Cesere, 20 anos antes.
Era uma missão de reconhecimento. Naquele momento, dentro dele tudo estava uma bagunça. Precisava reconhecer que a semelhança entre ele e o lugar era palpável.
Do lado de fora, estava tudo quebrado. O cheiro fétido de fumaça queimava seus pulmões. Os cascos da madeira que a pouco havia sido queimada ainda crepitavam minimamente quando encontrava outra lasca que pudesse absorver a chama.
Os vidros estavam espalhados por todo quintal como se pulassem e quisessem se proteger do barulho que outrora havia tomado o lugar. Do calor, da pressão...
Ele não acreditaria na possibilidade de que um dia aquilo havia sido uma casa se não estivesse ali horas atrás e visto tudo. Estava tudo em péssimo estado. Não existia mais nada.
Um jovem adolescente testemunha de um cruel caso de homicídio. Sua amiga. Era horrível.
Os treze anos da sua vida até então marcados pela presença da casa queimando. As vozes sussurradas ao fundo tentavam chamar sua atenção mas ele não se preocupava. Nada ali parecia valer a pena mais. Só o oco dentro dele. O silêncio.
Algo sussurrava próximo ao seu ouvido.
— Hey querido, por favor me deixe ajudá-lo. — uma paramédica tentou chegar perto dele. Era como se e estivesse envolto em sombras, preso em uma realidade que até então não existia.
— Você está machucado. Precisa de cuidados. — ela gentilmente girou as mãos até às dele.
Queimaduras.
A pele estava dando lugar ao músculo e ele estava em silêncio, como se a dor naquele momento não fosse permitida.
— Não quero. Por favor, me deixe em paz. Eu estou bem. — foi tudo que conseguiu dizer pra ela.
A mulher ficou assustada por um segundo e então entendeu que ali, ele também havia perdido algo. Alguém. A dor do menino que viu e encontrou a casa em chamas, do menino que teve suas mãos tomadas por labaredas de fogo quando adentrou e ainda assim conseguiu salvar um pequeno cachorro de dentro do lugar. Tudo que ele havia conseguido tirar. A casa estava horrível. Agora, já não existia.
— Foi um acidente. Recebemos a denuncia do cheiro de gás. Você vai ficar bem. Me deixe ajudar você. Precisamos limpar isso, precisamos cuidar de você. E então, você vai poder cuidar do cachorro que você salvou. Quero apenas ajudá-lo. — ela disse tranquila em meio ao caos.
— Não salvei ela. — ele disse baixo. A voz não passava de um sussurro na escuridão, se perdendo no vazio.
Azriel estava voltando da escola quando passou pela rua da amiga. A morena havia perdido o horário e então, ficou em casa. A mãe, uma alcoólatra drogada não conseguia manter as rédeas e era extremamente abusiva com a filha.
Ele já perdeu as contas de quantas vezes pegou a menina chorando no fundo da escola porque precisava arrumar dinheiro pra mãe ou então não dormiria em casa. E quando chegasse, ele sabia que ela poderia apanhar o suficiente pra mudar de ideia.Catrin era uma boa pessoa. Ela era a melhor pessoa do mundo.
E Azriel era o único que ela permitia que visse suas fragilidades. Duas crianças vivendo vidas de adultos por causa de adultos que não sabem ser adultos.
Ela estava tão feliz, ela sorria tanto naquele dia anterior, na escola. Mesmo com pouco dinheiro, com a mochila remendada e as calças que muitas vezes Azriel oferecia a ela, — que ela fazia o possível para caber com o cinto — Catrin era a menina mais feliz que ele já conhecera. No pouco ela encontrava alegria.
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A Fonte dos Desejos | Oneshot Gwynriel
FanfictionO mundo estava estranho naquele dia. A fumaça, o cheiro da fuligem... Era tudo estranho. Ele estava perdido mas ainda ia se encontrar. Demorasse o tempo que for. Ele iria. Sabia que aquilo nunca foi um ponto final. Enquanto houvesse vida a histór...