Baile pt.02

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"Eu sinto você no vento, e é tão real. Em linha reta, através dos meus ossos, eu só posso imaginar sua paixão. (...)
Menina, alivie minha mente,
 dissolver.
Preciso da sua mente.
Não posso fingir isso, porque você me assombra."

Easy my mind - Hayley Kiyoko





A vida é imprevisível.

O ditado humano foi rapidamente aderido por lobos e vampiros e Park vez ou outra ouvia a frase. Sorria, acenava e nada dizia, porque não acreditava.

A vida era tudo, menos imprevisível. A guerra humana foi previsível, a possível guerra entre lobos e sanguessugas era tão previsível que se tornou provável. Jimin acreditava nisso, de verdade. Sabia que em toda reunião Jihoon e Latifa trocariam farpas, que Yoongi e Taehyung continuariam dizendo que não namoravam enquanto Hoseok falaria na maior felicidade o quanto amava seus pares.

Viu? Previsível.

O ponto é que, como "A Torre" do antigo Tarot de Taehyung anunciava, quanto mais se crê em algo, maior a necessidade da existência em mostrar que você está errado. Cada tijolo da torre de Park foi cuidadosamente pavimentado pela sua vivência dura, certeza sobre certeza a respeito de uma vida previsível, controlável, ponderada e lógica. A muralha alta o separava da incerteza, da dúvida, da pulga atrás de sua orelha dizendo que havia mais, muito mais a ser vivido. Do alto de seu mausoléu de certezas, Jimin estava protegido da ansiedade da dúvida.

Estava.

Mas como em um raio incandescente, Jungkook estava aos seus pés. Jungkook tinha a mão na sua, Jungkook tinha o braço na sua cintura. Como queimada em mata seca, a vermelhidão das iris clamava para Jimin se libertar. Nas chamas do corpo gélido, os tijolos bem posicionados da torre de Park se partiram até virar pó. A muralha ruiu, o mausoléu de uma sombria clareza de fatos caluniosos, atingido em cheio por relances solares e frios, tão frios.

Assim, aquecendo o corpo frio com o seu em uma valsa vampírica, Jimin teve a epifania de que não vivia, sobrevivia. Até os sonhos ganharem força, até a dúvida voltar a pairar na sua mente, até se sentir perdendo o controle, Jimin apenas sobrevivia, um momento de cada vez nos cinzas de sua rotina.

Ironicamente, o detentor de um coração morto lhe ofereceu vida. O imprevisível, antes causador de medo e angústia, agora aquecia o corpo do lobisomem e fazia seu sangue tremer, vivo, pulsante, pelas artérias centenárias.

As mãos vão a cabeça na tentativa de compreender o que acontecera, mas sem de fato tentar fazê-lo. O lobo roda sobre os calcanhares de salto da bota baixa que vestia, olhos fechados e olfato apurado registrando brevemente aromas de repulsa, choque e surpresa, mas também felicidade e alívio. É breve, a mente em sobrecarga parecia entorpecida por alguma droga muito pesada vendida nas boates de Unus para realmente ligar.

Não nota, porém não precisava sentir - sabia, tinha ciência que sorria. O sorriso mais jovial e leve que expusera, o que poderia facilmente gerar estranheza no próprio lupino, se ligasse. Ele respira fundo, os olhos se abrindo devagar para ver Hoseok com seu sorriso que podia iluminar o mundo, Yoongi em absoluto encantamento e o sorriso quadrado de Taehyung transbordando doçura.

Ele faz menção em falar, mas acaba por rir, intoxicado demais por felicidade eufórica para sequer formular palavras. Uma chave parecia ter girado em sua cabeça, a penumbra da estranheza prontamente destroçada pelas luzes do conforto e da familiaridade que dançar com Jeon trouxe. Sem ideia da origem da sensação, Jimin apenas atendeu ao silencioso clamar dos olhos rubros momentos atrás e deixou as dúvidas de lado.

Sonhos de Prata || PJM + JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora