Capítulo XII

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Raven suspirou enquanto as criadas organizavam os vestidos e os colocavam dentro de baús. Dois dias depois do espetáculo do ritual, Ra's Al Ghul havia ordenado a realocação do quarto de Raven, da ala sul para a ala norte, onde ficava o setor real. Ela estava achando tudo aquilo uma brincadeira, algo cômico. Raven tentava imaginar se a sua situação poderia mudar para pior ainda, visto que, até aquele momento, tudo parecia descer ladeira abaixo.

Não só isso, o próprio rei havia pedido para Jinx, na frente de Raven, que dificultasse as tarefas que a feiticeira dava a ela. Por isso, no dia anterior, Raven havia sido incumbida de preparar seu primeiro veneno. Jinx havia dado o cenário hipotético que o veneno era destinado para um barão rico e que se achava muito esperto a ponto de tramar contra o rei, e por isso, deveria ser eliminado. Jinx descreveu que a morte deveria ser dolorosa e lenta e que o veneno deveria ser sem sabor.

Ao contrário do que todos pensavam, Raven não possuía muita experiência com venenos. Ela estudava por contra própria em seu chalé, porém, em Azarath, os monges a proibiram expressamente de aprender qualquer arte que pudesse ser letal ou violenta. Ela sentiu-se perdida, então, quando Jinx disse que teria apenas três dia para completar a tarefa. E lá estava ela pensando em como montar aquele veneno enquanto observava as criadas irem e virem.

- Isso, este já pronto. Pode levar.

Torcha disse, e então os homens carregaram o penúltimo baú.

- Esta animada para mudar de quarto?

Raven se virou, Jon estava parado no batente, encostado.

- Não. – Disse ela. Raven havia evitado Jon no restante da noite do baile de baile e, agora ela via que sua simples presença conseguia surtir um efeito novamente positivo sobre ela. – O que faz por aqui?

- Eu vim para a levar para o novo quarto. Depois terá um almoço com o rei, a princesa, e o príncipe. Ah, e Jinx também.

- Oh... – Disse ela em um tom desanimado. Raven definitivamente não queria ver a cara de nenhum dos quatro. Com desamino, ela seguiu Jon, que atravessou o castelo com ela. Quando chegaram naqueles corredores, que já estavam se tornando familiares, Jon a levou pelo corredor esquerdo, perto da porta de Damian. Então eles dobraram a esquerda novamente e finalmente pararam de frente à uma porta. Não havia insígnia, só a madeira lustrada e envernizada. Ele abriu a porta do quarto e ela ficou surpresa.

Cortinas espessas de negro ricamente ilustradas com linhas prateadas, estavam abertas para revelar os vitrais das janelas. Uma cama gigante de dossel preto, com lençóis roxos cheia de travesseiros. Uma mesa de magnólia negra estava no canto oposto. Três portas, um tapete felpudo que cobria o chão da cama, e vasos com rosas brancas espalhados por todo o canto. Aquilo tinha mais o estilo de Raven que o quarto antigo, e parecia que alguém sabia disso, pois o organizou com suas cores.

- Acho que a princesa realmente a quis agradar. – Raven então descobriu quem havia decorado o quarto.

- Por que diz isso?

- Os tons, as cores, o estilo, combinam com você.

- Ah.

- Não gostou?

- Não é isso.

- O que é então?

- Eu preferiria estar na simplicidade de meu chalé do que em um quarto luxuoso como esse tendo a minha liberdade e meus poderes cerceados.

Jon virou o rosto, pensativo. Raven aproveitou para andar pelo quarto. Ela conseguiu sentir um aroma de suave de baunilha pelo ambiente. Ela passou a mão pelo móvel de madeira que tinha um dos vasos de rosas brancas. A feiticeira se lembrou de sua mesa velha no outro universo. A madeira era tão desgastada e puída. Mas ela gostava de debruçar os braços sobre sua estrutura e estudar seus livros de magia. Ela amava sua casa, na verdade. Tudo o que havia construído e conseguido, ela havia conseguido sozinha. Fora ela quem arrastara aquele móvel gigante pelo portal e fora ela quem o colocara ali.

Ela lembrou-se de sua cama, no mezanino, que tinha um só travesseiro e lençóis surrados, quando olhou para a majestosa cama que ficava no centro. O dossel descia em uma linda curva e depois caia ao chão.

- Eu terei que leva-la agora para almoçar. Garanto que suas coisas estarão aqui quando retornar.

- Tudo bem, então.

Eles saíram e então Jon a deixou na sala de jantar dos aposentos de Ra.

Talia e Ra conversavam, Jinx tinha a cabeça enfurnada no livro vermelho e só Damian levantou a cabeça para olha-la. Um criado puxou a cadeira ao lado de Talia, novamente, e Raven se sentou. O rei então pareceu notar sua presença.

- Rachel, que bom que chegou. Quero saber o que achou de seu novo quarto?

Raven piscou e observou o rosto das pessoas ao seu redor na mesa.

- Ele é bonito. – Disse Raven, apática, enquanto brincava com o tomate em seu prato.

- Que bom que o achou bonito, foi Talia quem escolheu cada detalhe.

Raven levantou o olhar para o lado. Ela apenas encarou Talia e depois virou a cabeça de novo, colocando um pedaço de manga e tomate na boca. Ela mastigou lentamente, para que não precisasse interagir verbalmente.

- Bem, já que está com a boca ocupada, tenho algumas coisas a dizer a você. A primeira delas é que quero lhe avisar que a partir de hoje você irá receber uma quantia mensal que poderá gastar como bem entender. – Ra's disse e então tomou uma golada da bebida em seu cálice. – A segunda coisa é que, a partir de hoje, você estará livre para circular não só pelo castelo, mas também pelo reino. Contanto que não saia das imediações, pode ir para qualquer lugar. Creio que isso irá animar seu humor, já que parece que o castelo não está lhe agradando o suficiente.

Raven pensou em se levantar da mesa e dar um tapa na cara daquele asqueroso rei. Como ele conseguia dizer uma coisa tão ridícula como aquela? Será que ele não tinha noção do que estava fazendo com ela? Raven engoliu a comida, bebendo um gole do suco no cálice a sua esquerda.

- Não só isso, quero também que engaje em outras atividades além de seu serviço, o soldado Jon poderá lhe mostrar as oficinas e oportunidades ao redor do castelo. E, por último, porém não menos importante, eu a quero avisar que você terá aulas para melhorar suas habilidades em algumas áreas. Seus professores chegarão em um mês.

Raven assentiu, cansada demais para tentar lutar contra o destino. Naquela noite, ela voltou a ler o livro e dormiu em seu novo quarto.

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