Capítulo XVII

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- Raven, acorde.

Uma voz foi escutada, ela parecia longe, Raven não conseguia enxergar nada, mas ela sentia seu corpo leve contra o vento, como se estivesse caindo. A voz a chamou de novo.

- Raven, acorde.

Dessa vez parecia mais perto, mas a sensação de movimento continuava em seu corpo.

- Raven, acorde.

Dessa vez Raven abriu os olhos, lutando contra toda a sonolência que queria a empurrar para a inconsciência. Dois olhos de cor roxa a observavam e Raven sabia que só existiam outros dois pares de olhos roxos que não fossem os seus.

- Mãe! – Raven se sentou, ignorando a tontura, ela se jogou nos braços da mãe, sentindo sua forma magra, exatamente como ela se lembrava.

A mãe de Raven era linda, alta, com olhos de um tom liquido de roxo, lábios rosados, e uma pele alva e pálida. Ela parecia uma flor de tão encantadora, era impossível não olhar para seus olhos e não se sentir hipnotizado. Arella era dona de um corpo simétrico e esbelto, seus cabelos eram roxo-azulados e desciam até suas costas. Raven pensou que via uma miragem. Quando se afastou dos braços de sua mãe ela a questionou.

- Como você pode estar aqui? – Raven olhou em volta. – Onde estamos?

- Estamos no plano astral, Raven. Olha, eu preciso que você preste atenção ao que eu vou dizer para você agora, nós não temos muito tempo.

Raven se inclinou, tentando absorver cada detalhe daquele campo gigantesco de lírios ao mesmo tempo em que tentava focar em sua mãe. Arella pegou suas mãos e as embalou junto das suas.

- Raven, tem algo chegando no horizonte, algo grande e horrendo. Você deve descobrir o que é essa força maligna que se aproxima e deve para-la.

- Eu? Mamãe, eu não consigo nem derrotar a minha atual situação, quem dirá um rei...

Arella largou as mãos de Raven para então embalar seu rosto com as mãos.

- Escute Raven, está no seu destino parar esse mal, você já o sentiu uma vez e quando vier para a Terra sua destruição será o fim de toda esperança e bondade. Você achara as respostas no castelo de Ra's Al Ghul, onde está agora. Você não deve abandona-lo até que consiga desvendar sobre o que está vindo e impedir que venha.

- Mas mãe... Ra's Al Ghul é uma pessoa perversa, assim como sua corte. Eu sinto saudade de casa, da minha casa. Sinto saudade de você... porém, eu não sei se posso fazer isso.

- Eu sei, Raven. Filha, você deve se manter forte, você precisa a todo custo seguir o que eu estou lhe falando. Mantenha-se firme, Raven. Saiba que eu nunca deixei de olhar por você, mesmo quando pensou estar sozinha e perdida.

- Mãe...

- Eu tenho que ir, Raven. Se não puder fazer por mim, faça por Azarath, faça pelo seu povo. Não há mais tempo nem para você nem para mim. Eu te amo.

- Eu também te amo, mãe.

Arella começava a se desintegrar, sua figura desaparecendo. Lágrimas rolaram pelo rosto de Raven, que tinha de deixar sua mãe ir embora mais uma vez. Mas então ela sentiu tudo tremer e a terra se abrir ao meio, levando Raven para um abismo de escuridão. Ela escutou alguém rindo depois chamando por seu nome, mas ela não conseguia ver nada, sua visão estava escura e ela estava caindo em direção ao infinito...




Quando seu corpo finalmente bateu em algo sólido, ela despertou. Raven levantou a coluna rapidamente, assustada e suando. Ela olhou ao redor, reconhecendo imediatamente onde estava, seu quarto em Nanda Parbat. Ela levou a mão ao rosto massageando-o, para tentar aliviar a tensão que sentia. As palavras de sua mãe ainda ecoavam por sua mente, ela sabia que não havia sido um sonho, sua intuição era forte, e, mesmo desligada de sua espiritualidade através da magia, ela conseguia reconhecer quando estava em diferentes planos.

- Você é uma garota muito tonta, feiticeira.

Raven olhou ao redor do quarto e encontrou Damian Al Ghul virado de costas para ela, olhando a paisagem pela janela. Ele demorou alguns minutos e então se virou, a olhando de cima a baixo, sem demonstrar qualquer emoção.

- E o que você está fazendo aqui, herdeiro? Veio terminar o que seu avô começou? – Aquela coragem que tinha sempre quando se tratava do odioso e debochado príncipe voltou intacta, assim como todas as percepções de Raven. Seu corpo doía, como se ela tivesse andando aquele continente inteiro a pé. O príncipe se aproximou da cama, mantendo os ombros para trás, sério.

- Se você quiser sobreviver nesta corte, terá que deixar seu orgulho e esperança para trás. Não há volta.

Raven suspirou, um sentimento de cansaço a fazendo querer deitar novamente, tanto pelo seu estado físico como pelo emocional. Ela não respondeu nada, apenas o encarou, tentando achar a herança de Ra's em seu olhar.

- Confie no que eu lhe digo e você se sairá bem, meu avô não gosta de traições e muito menos de ter seu orgulho ferido.

Ele então apontou com a cabeça para o lado, fazendo Raven olhar. Em seu criado-mudo havia uma xícara de chá fumegante sob o pequeno livro misterioso que ela havia encontrado um dia em seu quarto e que reaparecera novamente, também misteriosamente. O príncipe foi até a porta, a abrindo e então saiu, não antes de lhe avisar.

- Venho lhe buscar pela noite, minha mãe quer falar com você.

Era só o que faltava, Raven suspirou novamente, mas, decidiu que tomaria primeiro a xícara de chá, pela qual seu corpo implorava, e, depois, ela pensaria em Talia Al Ghul. Com dificuldade e muita dor ela estendeu seu corpo para pegar a xícara. Depois que o fez, ela ajeitou as costas na cabeceira e começou a tomar. Seu quarto estava mais escuro que o normal, com as cortinas pretas abertas só um pouco para entrar luz. Ela escutou quando as primeiras gotas de chuva bateram contra o vidro das janelas e então um trovão soou, anunciando a chuva.

Ela queria poder tentar assimilar tudo o que havia acontecido consigo desde sua fuga, mas, enquanto tomava o chá, o sono vinha tão pesado, que, quando ela terminou tudo e o líquido quente esquentou sua alma, ela deixou que seu corpo dolorido mergulhasse em um sono profundo.

Montanhas de AzarathOnde histórias criam vida. Descubra agora