Capítulo 8 - Corredor 7, Prédio C.

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Porr*.

Durante aquela apresentação eu mal podia sentir o meu corpo, era como se minha alma fosse separada de qualquer sentido do mundo físico e eu apenas estivesse flutuando.

Eu não sentia minha respiração, não ouvia mais a chuva, meu corpo não estava mais aquecido e o gosto doce do chocolate havia sido substituído por algo mais seco, amargo. A mão de Jamie continuava sobre a minha, e eu olhava para ela de longe, me questionando continuamente o que diabos aconteceu nesses últimos minutos.

Seis meses. Seis longos meses. Todas as quartas feiras.

Pelas próximas 2 horas, Evans permaneceu na frente da sala, falando algo sobre a teoria de Sigmund Freud e nada entrava na minha cabeça, eu não conseguia assimilar nada que saia da boca dele, exceto pela própria... Eu não sei como, ou quando, mas fui arrastada para uma realidade paralela na qual me encontrava presa a sua áurea, e minha atenção fixada em cada detalhe de seu corpo.

Seu cabelo - ele havia deixado crescer novamente, e estava de volta ao loiro (ainda bem, porque aquele cabelo preto estava horrível - até eu sei que é mentira porque ele fica bem com tudo) - parecia tão macio que eu poderia jurar que senti minha mão levantar alguns centímetros como se fosse tocá-lo. A barba por fazer me trouxe pensamentos absolutamente impróprios para o horário, mas me fez pensar em como seria bom beijá-lo, na verdade, em como era  bom.

Com esse pensamento, eu fui puxada de volta e meu estado de melancolia se estendeu até eu sentir uma voz me chamando.

- Ari?... Aria? Você está bem?

Meus olhos demoraram um pouco para recuperar o foco e mais ainda pra absorver o quão perto Jamie estava. Sacudi a cabeça tentando reorganizar meus pensamentos e respirei fundo repetindo mentalmente como um mantra  *limpa limpa limpa*. Me virei para ele e sorri, concordando com a cabeça:

- É só uma enxaqueca chata, não devia ter ido dormir tão tarde.

Ele se aproximou mais um pouco para sussurrar - já que ainda estávamos no meio da aula:

- Eu tenho um remédio no meu armário, posso ir pegar se você quiser.

- Ah, não é necessário. A aula já está acabando de qualquer forma e um banho quente vai resolver.

Ele se abaixou para pegar algo na mochila e me entregou uma espécie de adesivo, em uma embalagem estranhamente familiar.

- Isso genuinamente parece um pacote de camisinhas, cara.

Jamie segurou o riso.

- Ele serve pra aquecer, se você colocar na testa, vai ajudar a diminuir a dor.

- Ah, obrigada.

Quando voltei meu olhar para frente, Evans nos encarava com uma expressão que variava entre nojo, raiva e surpreendentemente, preocupação?
Eu nunca consegui entender ou decifrar como ele conseguia demonstrar tudo isso de uma vez só, e definitivamente não queria fazer isto agora, mas o pensamento ficou um tempo na minha cabeça, dividindo espaço com a sensação de marteladas constantes em pontos específicos dos meus nervos.

- ... E então essa foi nossa aula de hoje, alguma dúvida, comentário, lamúria? - um breve momento de silêncio se manteve até que ele finalmente entendeu que todos queriam sair antes que a chuva piorasse. - Bom, então nos vemos na semana que vem.

Me virei para guardar minhas coisas enquanto as pessoas saíam, rapidamente esvaziando a sala. Jamie permaneceu me esperando e quando eu o avisei que estava pronta ele pediu para que eu colocasse o adesivo na testa já que o vento lá fora estava gelado.

Assim o fiz, e peguei meu cachecol na mochila enrolando no meu pescoço até praticamente me parecer com um item de aviação ambulante.

Desci as escadas na velocidade da luz, já dando graças a Deus por estar a poucos passos da porta quando ouvi o meu nome:

- Aria, Jamie posso conversar com vocês um minuto? - o professor Evans (blá blá blá) nos chamou com uma voz séria, e nos viramos indo em direção á sua mesa. - eu gostaria de saber se vocês tem algum feedback da aula, já que ela não parecia muito interessante para vocês.

Porr*.

Uau, como esse homem me faz falar palavrões. Mas agora não é hora.

Meu coração disparou, eu nunca tinha levado uma bronca de professor na vida e pra mim, isso foi o fim do mundo.

- E-eu sinto muito, Chr-quer dizer, professor Evans. Eu n-

- Ela não está passando bem professor, então eu apenas estava oferecendo um remédio. - Jamie me cortou e tomou a frente da situação porque provavelmente estava na minha cara que eu estava quase chorando por uma coisa tão estúpida quanto uma bronca de um professor metido a besta cujo qual estava na minha casa tempos atrás dizendo que me ama mesmo sendo casado (mas isso não vem ao caso).

- Entendo. Na próxima vez, por favor me avise caso não esteja se sentindo bem, senhorita Turner, e poderei acompanhá-la até a enfermaria. - aquilo foi... Por um momento realmente pareceu uma fala de preocupação.

- Está tudo bem. Podemos ir agora?

Christopher assente.

Me virei e saí da sala sem nem me preocupar em checar se Jamie estava junto, eu só queria sair daquele prédio.

Foda-se o Chris.
Foda-se essa merda de dor de cabeça.
Foda-se essa chuva.
Foda-se a psicologia e todos os malditos percursores e teóricos que já existiram.
Foda-se todo mundo.

Eu estava exausta. Sentia que todas as decisões que eu tomei tinham cavado meu próprio buraco. Como algo pode dar tão errado?

Minha casa fica a cerca de 10 quilômetros da faculdade. Sim, eu sei. Eu não posso pagar por um aluguel próximo porque é extremamente caro, não consegui achar alguém para dividir. E perdi o prazo de inscrição para as moradias no campus - sou uma fodid*.

Jesus. Eu realmente preciso trabalhar nessa questão dos palavrões.

Olho no relógio e, claro, eu perdi o último ônibus. Não tenho um real na minha conta do banco, nem na carteira, o que significa que pedir um uber não é uma opção. Então vou ter que usar as lindas pernas que Deus me deu, e não me leve a mal Senhor eu amo elas, mas não queria ter que usá-las neste momento.

Peguei meu fone de ouvido e rolei até cair em uma playlist aleatória e dar play em uma música que pudesse acompanhar minha longa caminhada até minha casa.

Incrível. Caí no soundtrack de 50 tons de cinza. É claro universo que eu com certeza quero pensar em um filme de pessoas bonitas trepando, onde tudo dá certo e ela acaba com um cara rico que tem um tanquinho onde ela pode lavar a roupa de cama onde eles acabaram de transar.

Acabo de me lembrar que não transo há tanto tampo e que pior, preciso lavar roupa.

Living in a dream - Chris Evans Fanfic (2º temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora