Eu saí do carro o mais rápido possível e sem olhar para trás dobrei a esquina, quando não consegui mais segurar as lágrimas. Eu não consigo lidar com isso, não era para ser tão doloroso.
Apressei meus passos até chegar em um pequeno prédio, minha casa, procurei minhas chaves e não as encontrei nos bolsos, na mochila, não estava em lugar nenhum. Apertei o interfone rezando para um dos meus vizinhos me atenderem, mas ninguém quis abrir o portão para mim.
Eu simplesmente não consigo entender o porque disso estar acontecendo; refiz meu trajeto de volta á rodoviária procurando pelas chaves e não havia nada. Peguei meu celular e cogitei mandar mensagem para meu agora, professor, mas não consegui reunir coragem. Me sentei em um banco na frente da rodoviária e apenas respirei fundo, sequei os olhos e me conformei com o fato de que eu passaria a noite naquele banco.
Já deveria ter me acostumado com o fato de as coisas darem errado na minha vida, eu sinto que são inúmeros sinais do universo me dizendo para me afastar dele mais e mais, e ao mesmo tempo, é como se nossos corpos tivessem imas que se atraíam mutuamente, e a ausência dele, doía. Me voltei para a mochila novamente em busca das chaves e notei um cheiro, um perfume amadeirado que havia ficado preso sutilmente ao meu casaco... o perfume dele.
Disfarçadamente aproximei o punho do casaco ao meu rosto e inspirei fundo, isso foi o suficiente para acalmar meu desespero e simultaneamente recuperar memórias que eu tinha certeza que teriam sido apagadas a essa altura.
Inspirei fundo novamente, e clarifiquei meus pensamentos... essa era minha atual situação: cerca de meia noite, em um banco na rodoviária, sem um tostão, com fome, frio e cheirando constantemente os traços de perfume de um ex-namorado que agora era casado. Confesso estar rezando para ele voltar e me dizer que achou as chaves ou que -
- Ari? - eu estava com a cabeça sobre meu punho e minha concentração esperançosa foi interrompida.
- Eu genuinamente preciso pedir pra você parar de me chamar assim. - não me levantei porque o aroma do perfume se intensificara então não era necessário confirmar a identidade da pessoa a minha frente.
Ouço o barulho de um molho de chaves, e finalmente levanto meu rosto para encarar seus olhos azuis:
- Eu me lembrava deles serem verdes. - é tarde demais pra perceber que havia dito isso em voz alta.
- Ah, é mesmo? - ele puxou o celular do bolso para conferir - eu acho que eu ficaria bonito com olhos verdes também - ele disse em meio a piada forçada.
- Você fica bem com qualquer coisa, chega a ser ridículo. - respirei fundo e enfiei meu rosto no casaco mais uma vez antes de resmungar uma última frase para o tecido - menos comigo.
Esperei uns segundos, mas acredito que ele não tinha ouvido.
- Então, já que você está trancada pra fora de casa, o que acha de conversarmos agora?
- Você não pode estar falando sério, você está com a minha chave na sua mão, eu posso simplesmente pegar e sair correndo.
-Ah, então esse é o seu plano? - ele enfiou a chave no bolso oposto ao mais próximo ás minhas mãos - então vai ter que passar por mim pra pegar.
Eu podia sentir que ele estava sorrindo, não precisava olhar para ele para saber que ele se divertia com essas coisas estúpidas. Deus, como eu sinto falta disso.
- Eu não quero conversar com você, não estou te pedindo nenhuma explicação Christopher. Você foi embora porque precisou e se casou porque quis, não existe nenhuma margem de erro, nenhum espaço para dúvidas. O que você quer de mim? Eu já te dei tudo o que eu tinha uma vez, e não posso fazer isso de novo. - ele se arrastou no banco e chegou mais perto de mim.
Ficamos um tempo em silêncio, e eu segui com o rosto colado ao casaco porque sabia que uma única troca de olhares, uma única vez que ele chamasse meu nome, e eu cederia tudo. Mas ele não fez nada disso, ele só me abraçou.
Eu não estava preparada para o contato físico, para a sensação de aconchego, para a sensação de estar em um lugar de onde nunca devia ter saído. Eu até abri minha boca pensando em protestar, mas só me aninhei nos braços dele por aqueles breves instantes. Podíamos ouvir os batimentos um do outro, e a ansiedade crescente foi se dissipando.
- Senti sua falta. - eu não respondi, apenas senti meu coração pular uma batida e meu estômago ficar infestado de borboletas, as pequenas pragas da natureza - eu não tenho uma explicação Ari, não posso te dizer que não me casei ou que não fui embora, porque eu fiz ambas as coisas. Eu queria poder te dar respostas, dizer qualquer coisa, mas você tem uma aura que me deixa sem palavras, eu senti tanto a sua falta que é só isso que quero falar. Quando eu fui na sua casa, e nos abraçamos, eu me arrependi de todas as decisões que havia tomado. Eu pensei que deveria ter desistido de tudo e ficado lá, com você... mas você nunca respondeu nenhuma das minhas cartas, meus e-mails, nem sequer atendia minhas chamadas no hospital, então eu achei que me quisesse longe, que você jamais me perdoaria e eu entendo, não mereço seu perdão.
- Eu devo ter pago todos os boletos da Olivia Rodrigo, sofrendo por você. - uma risada baixa compartilhada preencheu esse espaço.
- Eu sinto muito Ari, eu devia ter estado lá. E eu quero estar aqui agora. - senti ele se mover um pouco - Ei, olha pra mim.
Finalmente virei meu rosto para encará-lo e uma expressão de alívio se formou em seu rosto, mas ela se modificou, em preocupação, quando ele aproximou seu rosto do meu... eu estava mentalmente me preparando para um beijo, mas o beijo nunca veio.
- Ari você está queimando! Por que não me disse nada? - de repente me tornei autoconsciente de minha condição e senti a respiração pesada, o suor em minha testa e uma dor latejante tomou conta do meu corpo.
Chris me pegou no colo e me levou até seu carro, me lembro de sentir o cinto de segurança e apaguei logo depois.
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Living in a dream - Chris Evans Fanfic (2º temporada)
Fanfiction"There's no second chance, Evans"