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"Eu consigo ver você em pé, querida

Com os braços dele em volta do seu corpo

Rindo, mas a piada não é tão engraçada."

Exile - Bon Iver feat. Taylor Swift

Pamela não conseguia apagar da cabeça a imagem de Harley envolvendo Valentina em seus braços e a beijando como se fossem um casal apaixonado. Parecia tão verossímil que lhe atingiu em cheio. Doeu. E o fato de doer era preocupante.

No dia seguinte acordou bem cedo. Mais cedo que o marido. Passou pelo quarto de Peter e com cuidado para não despertá-lo, o beijou e afagou, sussurrando o quanto o amava antes de sair de casa. Precisava pensar. Em tudo. Especialmente no caso.

Estava certa de que Harley era culpada. Não apenas pela "coincidência" ridícula da história de seu livro ser idêntica à forma como Johnny Kid foi assassinado, mas especialmente por conhecê-la tão bem e saber que ela seria capaz de fazer tudo aquilo apenas para que elas se reencontrassem.

Mas como Harley saberia que Pamela era detetive do FBI?

Algumas lacunas não estavam preenchidas ainda. Pamela precisava encaixar todas as peças confusas daquele quebra-cabeça se quisesse resolver o caso e colocar Harley de volta ao Arkham, o lugar onde ela pertencia de fato. Ou não. Ou Harley deveria parar atrás das grades como um criminoso qualquer, visto que Pamela não acreditava que ela fosse insana de forma alguma. Ela sabia exatamente o que estava fazendo. E tinha prazer em fazê-lo.

Apesar da raiva gigantesca que estava sentindo da médica estúpida, não acreditava que ela pudesse estar ciente da culpa de Harley e ainda assim defendê-la tão bem quanto o fez no dia anterior. Só um mentiroso profissional e com sangue frio faria isso, e Valentina Romeno estava longe de tal estereótipo. Em fato, ela parecia ser alguém de sangue quente, igual a própria Pamela.

Pensou em todas essas coisas enquanto corria na floresta ao redor de sua propriedade. Logo cedo Gotham estava sempre coberta por neblina e a temperatura era baixíssima mesmo no verão. Pamela gostava. O frio ajudava a acordá-la, a mantê-la em alerta. Seus pensamentos pareciam correr tão rápido quanto suas pernas, e batiam no mesmo compasso de seu coração.

Embora quisesse focar no caso, sua mente voltava à cena de Harley beijando Valentina e aquilo lhe causava um ódio tremendo. Um sentimento totalmente inapropriado, visto que ela e Harley sequer haviam mantido contato durante mais de uma década. Não fazia sentido ter ciúmes de alguém que ela odiava. Sim, a odiava. Harley havia matado seus pais a sangue frio na madrugada de natal. De certa forma, sua atitude fez com que elas se separassem para sempre e isso era imperdoável. Mais imperdoável que assassinar sua família.

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"Eu acho que já vi esse filme antes

E eu não gostei do final

Você não é mais minha terra natal

Então, o que estou defendendo agora?"

Exile - Bon Iver feat. Taylor Swift

A primeira coisa que fez antes de ir ao FBI foi parar numa livraria e comprar o livro de Harley que se chamava "Cadeira nervosa", o que a princípio não fez sentido algum na cabeça de Pamela, já que a história se tratava de um rock star que terminava assassinado por uma mulher usando um picador de gelo. Mas então, assim que começou a devorar as páginas na ânsia de encontrar qualquer indício que pudesse fazê-la comprovar a culpa de sua ex-amante, Pamela começou a se envolver com a narrativa, que por sinal era muito bem desenvolvida.

Lembrava-se da época da escola e de como Harley era talentosa. Se não tinha respeito algum pelas pessoas, mesmo as figuras de autoridade do colégio e nunca, absolutamente nunca obedecia a comandos ou realizava trabalhos (o que a fez quase reprovar se não fosse Pamela fazendo todas as atividades dela), por outro lado Harley escrevia contos muito interessantes e cheios de camadas para uma garota tão jovem. Suas histórias, além de bem escritas, possuíam profundidade. Como se mesmo tão nova ela enxergasse coisas que os outros não poderiam ver.

Instinto SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora