1.4 História: Categorias e Domínio

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Dentre as várias categorias dentre os gêneros textuais, existem elementos marcantes que os definem. Não entrando nas especificidades dos subgêneros (pois são inúmeros), alguns fatores devem se fazer presentes no texto, bem como o trabalho que você deve dedicar para tirar todo o potencial dele. 

Aqui deixarei explícitos os que mais trabalho, por ter mais experiência, mas esse capítulo também pode servir de tópico de debates para os gêneros que eu não explicar.


Em fantasia, criamos um mundo que pode ser modelado do zero ou adaptamos uma realidade acrescentando diversos elementos a ela de forma a modificar o status-quo.

Assim, para tirar o máximo de proveito dessa oportunidade criativa, bem como oferecer uma experiência mais única para o leitor, o nível de detalhamento nessa construção de mundo é o mais fundamental para o tema. Não basta ter só magia, mas sim um planejamento de como a magia funciona e como ela afeta o funcionamento dessa sociedade. A magia é restrita a um grupo ou é de amplo conhecimento? É inerente aos seres ou é adquirida através de rituais ou artefatos místicos?
Essa ideia de desenvolver e aprofundar os elementos vale para todo o resto. Como a sociedade funciona? É progressista, racista, xenofóbica, é uma teocracia, meritocracia, tecnocracia? Por que se tornou assim, qual a história por trás? Existem lendas? Elas são reais, somente mitos ou as próprias pessoas não tem como saber? É um mundo marcado por guerra, alianças entre alguns reinos ou uma anarquia? Como é a relação entre os grupos presentes nesse mundo? Como é a relação de poder? Os dominados aceitam permanecer nessa condição subalterna ou pretendem se rebelar? Por quais motivos?
Mesmo que não vá expor ou deixar claro tais backgrounds na obra, eles são fundamentais para que você saiba como escrevê-lo, passando a ideia e o sentimento que ele transmite para seus leitores.


No drama, o que reina é um conflito que pode ser tanto interno quanto uma tensão entre pessoas, familiares, amigos, rivais...

O que sustenta um bom drama é a profundidade e as camadas dos personagens (ver capítulo 4.1 sobre construção de personagens), pois quanto mais complexo for aquela relação ou sentimento, mais surpreendente seus plots podem se tornar. Pode começar com algo marcante, como um abandono ou a morte de um querido animal de estimação, pode ter a ver com uma tensão familiar ou a disputa entre duas pessoas por algo que queiram, como um cargo no trabalho ou vaga para uma bolsa de estudos.

O Importante é como isso se desenrola e como você mostra os porquês a respeito das ações dos personagens. Tem a ver com um bom domínio de diálogos e narrativa para que as sensações consigam ser devidamente expressadas e captadas pelo leitor (ver capítulo 3.2 sobre descrições, 3.5 sobre narradores e 3.7 sobre diálogos). Lembre-se de prezar pela boa estruturação para evitar furos. O drama precisa ser coeso e fazer sentido.


O terror trabalha com um elemento causador de sensações ruins ligadas principalmente ao medo, insegurança e/ou paranoia.

É um gênero com uma dualidade, pois nem sempre o que causa terror a um grupo de pessoas necessariamente causará a outros, então você precisa definir o nicho de terror que estará trabalhando.

Com isso, vemos dois principais, o psicológico e o jumpscare.

Nos livros, o psicológico logicamente é o mais abordado de longe, por não termos recursos visuais e sonoros para causar o susto, mas mesmo assim, há formas diferentes de abordar esse terror, que pode ser pela utilização de algum elemento que traga o terror, como um assassino, monstro, criatura indefinida (tipo em It, a coisa), etc.. Cada um com seus objetivos e formas de trazer o medo ou então pelo trabalho de uma ideia apavorante, como costumamos ver no horror cósmico. Mesmo que haja um motivo por trás desse sentimento de terror que leva o homem à loucura, não é sua presença que o causa, mas sim sua iminência. São sentimentos e emoções que distorcem e brincam com a mente dos personagens e justamente por se tratar de elementos imateriais, se torna mais complexo deles lidarem com isso.

Dessa forma, você precisa criar um conceito em ambos os casos. Como será seu monstro ou assassino, o que o torna tão assustador e perigoso ou qual iminência catastrófica o elemento do horror cósmico trás para a narrativa?
Feito isso, resta trabalhar bem sua narrativa, escolhendo bem o narrador e as palavras que você usará para aproximar mais o leitor daquele sentimento (checar os capítulos sugeridos anteriormente).


Ficção é um gênero bastante abrangente, mesmo porque ele define toda uma categoria de histórias. Mas a ficção mais pura, por assim dizer, seria simplesmente um acontecimento ficcional ocorrendo dentro de uma realidade pré-existente.

Para ficar mais ilustrativo, o romance Incidente em Antares de Érico Veríssimo é um bom exemplo. Em resumo para não dar spoilers, se trata de uma sátira com o intuito de criticar, então foi-se criada uma cidade fictícia, mas que funciona com elementos comuns de nosso dia-a-dia. A ficção foi introduzida quando os coveiros decidiram fazer greve, resultando num levante dos mortos para protestar que não estavam recebendo o devido tratamento merecido. Então zumbis pobres e ricos, com ou sem status social desencadeiam vários eventos hilariantes, mas sempre com a finalidade de criticar algo de nossa realidade.

É um gênero que pode ser combinado com vários outros, resultando nos gêneros que se tornaram tão grandes que cresceram em nicho, como a fantasia, ficção científica, histórica, etc...


Já um tema que não estou acostumado a trabalhar é o romance. A ideia do par romântico é o que define o gênero, mas não acredito que se restrinja a isso. Logicamente, temos formas diferentes de introduzir esse elemento, mas o que o torna realmente atraente é a dinâmica entre os personagens. Você precisa pensar em personagens cativantes, carismáticos e que possuam uma interação única e interessante para que funcione. Não adianta usar um clichê de inimigos à amantes ou o triângulo amoroso, pois mesmo que haja pessoas que gostem, isso por si só não vai conferir nenhum destaque para sua história. Pense nos contextos vividos, nos planos de vida de cada um, dos motivos que resultam naquela interação entre eles para agregar no romance.

É um gênero que combina muito com diversos outros, seja fantasia, drama, ficção, realismo mágico, histórico...


Quais temas mais vocês gostam de trabalhar e como tiram seu potencial máximo?

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