Capítulo 1 - Axis Mundi

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— A gente tem dinheiro o bastante?

Renjun observava as notas sendo contadas nas mãos do tatuador. Tinham juntado a quantia dada por cada um.

— Depende. — Donghyuck ergueu os olhos. Encarou os três garotos presentes naquele quarto. — O quão loucos vocês querem ficar hoje?

Renjun foi rápido na resposta.

— Muito.

— Só um pouquinho. — Jaemin cruzou os braços. Queria acreditar nas próprias palavras.

— Eu já tô meio doido. — Chenle falou, com hálito de álcool. Precisava, urgente, parar de pegar as bebidas da coleção de seu pai.

Deitou-se na cama larga, que não era sua. Aqueles lençóis embolados, assim como o quarto surpreendentemente organizado, pertencia à Na Jaemin. Desde pequenos costumavam se reunir ali antes de saírem para qualquer outro lugar. Jaemin possuía uma liberdade um pouco maior comparado aos outros garotos, já que morava apenas com seu irmão mais velho, Jaehyun.

Podia-se dizer, então, que aquele era o quartel general dos baderneiros. Paredes pichadas e polaroids tremidas enfeitavam as paredes — misturadas com algumas imagens muito bem feitas, devido ao talento fotográfico de Jaemin. Só havia um pequeno detalhe: não importava o quão cuidadoso fosse com aquele lugar, não conseguia se livrar do maldito cheiro de cigarro. Estava impregnado nas roupas de cama e em suas próprias vestes. Mas ninguém mais notava isso.

A noite cairia em breve. Tinham compromisso marcado no melhor bar da cidade — ao menos, o favorito entre eles.

Scarlxrd, uma mistura de trap com metal, tocava em volume máximo no celular de Donghyuck.

Dentro de pouco, o motivo de estarem esperando cruzou o corredor e adentrou o quarto barulhento.

Park Jisung havia ganho luvas arrastão de presente de natal. Rasgou-as nos dedos, por achar meio brega, e agora fazia com que cobrissem apenas seus braços longos. Carregava a capa do melhor álbum do My Chemical Romance no centro da camisa preta. Unhas pretas, calça rasgada e o fiel all star sujo não o abandonavam nunca.

Além disso, tanto a maquiagem quanto as recentes luzes no cabelo eram obras do próprio Park.

— Vamos? — Chamou. Os quatro pararam estáticos. Não tiravam os olhos de cima dele. Jisung estava começando a ficar vermelho. — T-Tá muito ruim? — Sem perceber, olhou diretamente para o chinês mais novo ao fazer aquela pergunta insegura.

Chenle negaria mil vezes e repetiria outras mil o quão lindo ele era, se não estivesse hipnotizado.

Jaemin foi o primeiro a se levantar. Agarrou o rosto do mais novo e deixou um beijo estalado em sua bochecha, agravando a vergonha dentro dele.

— Quem é o emo mais fofinho do mundo?

Os outros foram se ajeitando, recolhendo celulares e carteiras enquanto deixavam o quarto. Seguiram pelo corredor.

— Não quero ser fofinho. — Jisung resmungou. Ele e Chenle eram os últimos da inconsciente fila que haviam formado.

O menor virou-se na direção dele.

— Você é. — Sorriu. Travesso, deu uma piscadinha. — E o que mais quiser ser.

Atravessaram a sala de estar em direção a porta. O mais velho da casa estava sentado na poltrona, nas roupas mais confortáveis que tinha, jogando uma partida eletrizante de Mario Kart.

— Aí, tô vazando. — O caçula avisou. As três palavras eram um jeito curto de dizer "me dê as chaves do seu carro, por favor".

Jaehyun pousou os olhos bem rápido nos cinco adolescentes. Era muita roupa preta no mesmo lugar.

Ele era meio culpado por isso, pois Jaemin tinha descoberto o mundo do heavy metal através dos seus CDs. Hoje em dia, Jaehyun tinha abandonado o visual e até mesmo cortado o cabelo longo que manteve por anos, mas Jaemin ainda estava meio longe de seguir os passos do irmão.

— Vai voltar hoje? — Arremessou as chaves nas mãos do caçula.

Jaemin as agarrou em cheio. Sorriu indecente.

— Espero que não.

Alguns deles já haviam saído pela porta. Jaehyun voltou a se ocupar com o game, mas deu um recado alto e claro.

— Divirtam-se, mas sem colocar gente bêbada atrás do meu volante!

Chenle, Jisung e Renjun ocuparam o banco de trás. Jaemin era o motorista e Donghyuck ligou o rádio antes mesmo de passar o cinto de segurança. O carro de Jaehyun sempre tocava o mesmo disco do Papa Roach. E a regra era que só podia ser ouvido no máximo.



Estacionou ao lado do letreiro. Besourus, o bar alternativo de paredes escuras conhecido por transformar dia em noite, esperava por aquele grupo de fregueses em todo final de semana. O festival de bandas locais já havia começado e cumprimentar os músicos presentes foi a primeira coisa que Renjun tratou de fazer.

"Move to the city with me. Don't wanna be alone."

O som que saía das caixas era algo meio diferente. Sintetizadores demais, guitarras de menos, nenhum gutural para deixar cabelos em pé. A batida era constante, o vocal era melódico, a letra meio triste.

A banda no palco definitivamente não fazia o estilo de Chenle.

Mas Jisung estava cem por cento imerso na canção, cantarolando junto com a vocalista.

You're too pretty for me. Baby, I know... — Ele fechou os olhos. Pouco a pouco, começava a mover o corpo.

A timidez de Park Jisung só ia embora com música.

— O que estamos ouvindo? — Chenle aproximou-se das orelhas do mais novo.

Ganhou um sorriso grande de quem já esperava uma má reação.

— The Neighbourhood. — Disse. O metaleiro fez uma careta no mesmo instante. — Qual é, eles são muito bons. Ficou ainda melhor no arranjo desse pessoal.

Chenle cruzou os braços.

— Eu já dei chance pras suas bandinhas emo, Park, mas indie rock é um pouco demais pra mim.

A música continuava, assim como Park Jisung seguia perdendo o controle do corpo para as sensações.

Chegou o mais perto que conseguiu do rosto entediado do Zhong.

— Vai fazer a desfeita, Lele? — Tocou seus ombros. Escorregou as mãos lentamente, até tocá-lo nos punhos e induzi-lo a descruzar os braços. Entrelaçou os dedos de cada mão aos seus. — Até se eu te pedir pra dançar comigo?

Aquele era um jogo que Chenle sempre perdia.

Foi levado até a pista de dança, sem resistir.

Encaixaram-se entre os corpos de outras pessoas sob a luz noturna, sem se perder dos corpos um do outro.

"Didn't know we get so far and it's only the start."

Movia-se livre entre as mãos de Jisung, mas estava preso no par de olhos castanhos pela mais forte das amarras.

Sorria, porque gostava disso. De como ele era bonito sob a luz da noite. Como não precisava fazer muito além de existir, para que Chenle se sentisse quente, elétrico e entregue.

Encostou sua testa na de Jisung. Seus braços o rodeavam no pescoço.

Os olhares fixos nos lábios um do outro se cruzavam em X. Marcava o tesouro de um mapa que seguiram sem saber.

Estavam no centro de tudo.

RAW! REBEL! ROOT!Onde histórias criam vida. Descubra agora