Capítulo 7 - Mergulho

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Jisung estava ali.

Não era piada. Não era uma daquelas situações improváveis criadas na cabeça antes de dormir.

Ele estava trabalhando. E já faziam três dias.

Cada vez que abria os olhos pela manhã, a ideia de estar ali parecia menos bizarra e mais real. Teve a sorte de ter um tutor extremamente gentil e que parecia ser muito compreensivo com a questão da timidez. Por enquanto, a tarefa mais difícil era se acostumar com o fato de que ficar atrás do balcão seria seu novo habitat natural.

E é claro, se acostumar com a sensação de que, toda vez que se deparasse com um reflexo, não encontraria mais o garoto de lápis de olho e blusa de banda.

Ao em vez disso, veria um rapaz vestido num uniforme de tons terrosos, usando uma ridícula armação sem lentes que tinha como única função divulgar o produto da empresa.

Jisung segurou uma risadinha ao constatar isso outra vez.

— Tudo bem aí? — Seu tutor, Lee Taeyong, questionou com uma estranheza cômica ao ver a atitude. Ele segurava um pequeno copo de café enquanto os dois olhavam para o movimento tranquilo da loja. Jisung era o único dos atendentes que não estava ocupado com um cliente naquele momento.

— Tudo, tudo. — Sorriu, tímido. Taeyong deixou o café de lado e consertou o crachá torto no peito do Park. — Eu só pensei em algo bobo.

— Ah, sim. — O mais velho também riu, mesmo sem saber do que se tratava. — Bem, já te dei as chaves das vitrines, você já sabe mexer no sistema... Tem mais alguma dúvida ou você dá conta sozinho hoje? — Jisung pareceu pensativo por alguns segundos, mas por fim, assentiu com a cabeça. Ainda se sentia inseguro, mas era apenas nervosismo, pois todas as informações estavam frescas em sua mente. — Acho que vou estar lá dentro se você precisar de mim, então.

— Sem problemas.

Taeyong se retirou e passou para a área frequentada apenas por funcionários.

Park Jisung ficou sem ter muito o que fazer por algum tempo, até notar um caminhado familiar entrando na loja.

Ele a reconheceu de primeira, no entanto, a garota só pareceu andar na direção de Jisung porque todos os outros atendentes da ótica estavam ocupados.

— Boa tarde, eu tô com a receita pra uma lente nova e... — Yeojin vasculhava sua bolsa à procura do papel, mas ficou estática ao olhar diretamente para o rosto do funcionário. — Jisung?!

Sorriu. Sentiu suas bochechas esquentarem.

— Oi, Yeojin-ah.

— Menino, é você mesmo?! — A mais nova o encarava de cima à baixo, sem acreditar. Jisung precisou gesticular pra que ela falasse um pouquinho mais baixo, já que a voz de Yeojin era naturalmente escandalosa. — Nossa, eu nunca ia te reconhecer sem... Sem... — Pensou no visual do Park Jisung que via todos os dias na escola, tentando encontrar a palavra certa. — Sem... tudo aquilo!

O rapaz gargalhou.

— Tá sendo difícil me reconhecer também...

Jisung observou o espelho redondo que ficava sob o balcão. Estava sem gargantilha, sem lápis de olho, sem nenhuma peça de roupa preta cobrindo seu corpo. O único que não havia o abandonado era seu fiel all star, porque os calçados eram uma parte livre do uniforme.

— Como você veio parar aqui? — Yeojin apoiou-se sob o balcão, deitando o rosto em sua mão direita. Tinha um olhar curioso.

Certas coisas nunca mudavam.

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