Música alta e sol de primavera atravessando as cortinas marcavam outra tarde comum na vida de Chenle. O rapaz tentava arrumar seu quarto pela primeira vez dentro de várias semanas, já que a mania de passar bem mais tempo no cômodo ao lado, que pertencia a Park Jisung, fazia com que se esquecesse totalmente da bagunça que cultivava em seu próprio lugar.
No entanto, a decisão de fazer uma faxina relâmpago não havia surgido de repente. Chenle apenas precisava de algo para se distrair, visto que seu coração continuava disparado desde o dia anterior.
A inquietude era tanta que havia dormido muito mal. Acordou torcendo para que Jisung não reparasse que, normalmente, seu namorado não se mexia tanto durante o sono.
Chenle finalizou mais uma muda de roupas dobradas. Jogou fora cinco maços de cigarro vazios que estavam espalhados pelo chão, entre outras nojeiras. Reservou-se uma pausa para escolher o próximo álbum que ouviria e pausou a música por um momento.
O silêncio foi o bastante para escutar um som alto vindo da sala — onde Jisung estava enrolado num cobertor, entretido com algum joguinho de celular.
Era o toque de uma ligação. O barulhinho pelo qual Jisung ansiava todos os dias.
E depois de ter passado por uma entrevista definitiva, aquele som só podia significar uma coisa: resultados.
Chenle congelou os dedos sob a tela de seu próprio celular. Guardou-o no bolso e encarou as paredes.
Sabia que, naquele momento, Jisung já havia atendido o telefone.
Fechou os olhos. Sentia frio na barriga. De onde estava, podia ouvir a voz do Park, mas não conseguia entender suas palavras muito bem.
Depois de alguns minutos de pura ansiedade, ouviu passos se aproximando de seu quarto.
Jisung parou em frente a porta. Estava segurando a notícia no topo da garganta.
Chenle respirou fundo e se virou para ele com um sorriso nervoso.
— E então? — Perguntou.
Sua resposta veio em forma de atitude.
Sorrateiramente, Jisung caminhou com suas meias escuras até seu corpo estar diante do mais velho. Passou os braços ao redor de sua cintura. Se inclinou, para fazer sua cabeça encaixar na curva do pescoço alheio.
— Eu consegui. — Ele disse, baixinho. Chenle não conseguia ver seu rosto naquela hora, mas ouvia nitidamente o som do sorriso em seu tom de voz.
O abraçou de volta. Algo que começou calmo, mas ganhou cada vez mais força.
Estavam apertados um contra o outro como um nó de cadarço bem feito.
Sentiam aquilo ficando cada vez mais alegre e risonho também, conforme a realização se fazia real.
Balançaram seus corpos, desajeitados, sem se soltarem. Aumentaram a intensidade disso também, e caíram em cheio no colchão da cama de Chenle.
Ajeitaram-se um do lado do outro, de barriga pra cima e joelhos dobrados na beirada da cama. Ambos encaravam o teto.
— Eu começo na segunda feira. — Jisung explicou. — Vão me dar o uniforme. Na primeira semana, eu tenho até um tutor. — Ele sorriu grande. Era impossível dizer se estava muito assustado ou muito empolgado.
Chenle visualizou a cena em sua cabeça, assim como vinha fazendo em todos aqueles dias. Agora que sabia não se tratar apenas de imaginação, o sentimento era muito diferente.
— Isso é maluco... — Negou. Também sorria indecifrável. De qualquer forma, optou por virar seu rosto para o garoto ao seu lado. — E você merece cada segundinho dessa loucura. — Assentiu com a cabeça, quando o mesmo o encarou de volta. Os olhos marrons brilhantes nunca estiveram tão acesos. — Você conseguiu.
Jisung mordeu o lábio. Seu sorriso ficou mais contente, menos encurralado.
— As coisas vão melhorar tanto... — Voltou a encarar o teto. Listou os pontos positivos que mais chamavam sua atenção. — Vou poder parar de depender tanto de vocês. Talvez eu aprenda a me comunicar melhor também e...
Ele continuou falando, mas Chenle não foi capaz de prestar atenção em mais nada. Tudo o que enxergava era o entusiasmo de Jisung sobre aquilo tudo, o quão feliz ele estava sobre mais um recomeço, e o quanto parecia pronto para enfrentar seja lá o que estivesse pela frente.
— Olha só pra você... — Comentou, sem perceber. Estava cem por cento bobo, ao ver de pertinho uma evolução tão grande. — Quem diria, Park Jisung.
Era uma sensação boa.
Era pra ser uma sensação boa, certo?
Chenle não entendia o motivo de sentir a ansiedade voltar. Devia estar feliz por ele e nada mais.
Não queria estragar aquele momento com outro surto de comparação.
Não queria fazer uma ocasião tão preciosa se tornar algo sobre sua bagunça.
— Seus pais vão ficar muito felizes quando souberem também... — Jisung virou-se para o namorado. Ainda sorria grande, nas nuvens.
— Com toda certeza... — Chenle assentiu, mas havia algo de errado com sua expressão. Dizia como se visse além daquele momento. Ele enxergava algo que causava dor. O mais novo estava prestes a se pronunciar sobre isso, mas foi poupado pela confissão. — Eu... Eu vou pra faculdade.
Jisung franziu o cenho.
— Que? — O encarava confuso, mas aos poucos, sentia sua mente clareando. — Caramba, os resultados... Saíram ontem, não é? — Passou as mãos pelo próprio rosto, desacreditado. — Fiquei tão pilhado com o lance da entrevista que não lembrei.
— Não se preocupa. Eu esqueci também. — Chenle deu de ombros. Ainda não conseguia falar sobre aquilo com empolgação. — Desculpa não ter contado antes... É que eu não reagi muito bem quando soube. — Endireitou seu corpo. Seus olhares se descruzaram e ambos voltaram a encarar o teto. — Eu tô com medo, Jisung.
Ele não precisava perguntar o motivo.
Primeiro, porque sentia medo também.
Segundo, porque conseguia ver todas as razões para se temer ali, diante de seus olhos, espalhadas pelo teto branco.
Medo de crescer, medo de não se adaptar. Medo de tentar algo novo.
Medo de não ter certeza de nada.
— Você vai... estudar de noite?
— Aham. — Confirmou, sem expressão. — E você vai trabalhar o dia todo.
Ficaram em silêncio.
Jisung tentou calcular quantas horas eles teriam para ficar juntos.
Não era bom de matemática, mas sabia que eram poucas.
Não disse mais nada.
Tudo o que se passava em sua cabeça, estava na cabeça de Chenle também.
Mas Jisung não ficou sem reações.
Na verdade, fez o que estava ao seu alcance: entrelaçou os dedos de Chenle aos seus.
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RAW! REBEL! ROOT!
Romanceemo ! jisung & headbanger ! chenle • Zhong Chenle gosta de alargadores, latas de tinta e dos vocais arranhados do Slayer. Park Jisung sempre preferiu gargantilhas, unhas pintadas e o bom e velho Linkin Park. O que eles tem em comum? Bem, a mesma rai...