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[ 04 / 05 / 2018 ]
Segunda-feira, 06:30 da manhã

Eu sou acordado mais cedo do que o planejado, com a voz da minha mãe avisando que o castigo finalmente terminou.

Meu fim de semana foi horrível. Permaneci os dois dias completos preso dentro do quarto, apenas lendo, desenhando coisas pela metade, e tocando o violão com extrema preguiça. Tive de lidar com as tentativas irritantes dos meus pais em fazer-me acreditar que tudo estava bem, apenas para fazer com que eu saísse do quarto de uma vez.

Levi entrava com entusiasmo e ficava encarando-me com os olhos pidões, mas nem mesmo isso foi capaz de animar meu espírito.

Eu sei que estava agindo feito criança, mas, o que mais poderia fazer? Eu estava ainda mais desconfiado de tudo, e acreditando que a ideia de perder meus pais estava mais perto que nunca. Minha alternativa foi isolar-me ao invés de encarar meus problemas de frente.

Além do mais, caso tivesse ficado na presença dos dois, algo escaparia de minha boca; como confessar que estive bisbilhotando no quarto deles e que meu pai tem uma amiga muito próxima em um possível hospital do qual nunca ouvi falar.

Aí sim, as coisas iriam ficar ainda mais feias.

Por isso mesmo, assim que minha mãe deixa minhas coisas no quarto - meu celular com a internet ligada, e meu pc -, eu levanto-me da cama colocando os pés no chão frio, indo diretamente ao meu pc. A internet é mais rápida, e os resultados são mais precisos.

Com a cara toda amassada e os olhos mal conseguindo ficar abertos, eu digito soul medicine na barra de pesquisa, esperando os resultados carregarem ao que corro para trancar a porta do quarto e volto para sentar-me com a cara quase colada no écran.

A primeira coisa que vejo é um endereço e o número do edifício de cor branca. O mesmo número que encontramos no quarto dos meus pais. E, segundo o mapa, o lugar fica muito longe daqui. Quase perto da saída da cidade, o que dificulta um bocado na minha busca por respostas.

Vendo os detalhes, eu arregalo meus olhos inchados quando leio:

"... A medicina dedicada aos pacientes com problemas psicológicos, cuidar daqueles que acreditam na melhora espiritual, sem remédios nem tratamentos extremamente caros; apenas longas conversas com profissionais que sabem o que fazem! Confie a nós a sua mente! Se acha que sua doença trata-se apenas de algo psicológico, ou lida com depressão e ansiedade, visite nossos consultórios mais próximos de sua casa! "

Ok.

Que porra?

Parece que acabei de ler algo relacionado com as igrejas de minha cidade, trate do seu câncer com Deus! Mas, eu posso estar interpretando errado. Falam de problemas psicológicos, então. E, de acordo com a lana - a mulher que atendeu -, meu pai ia nessas consultas sem ter a necessidade de estar aí. Então, ele não sofre de nada psicológico, apenas estava indo porque... queria.

Talvez ele ainda esteja indo.

Deslizando o mouse mais para cima, eu continuo minha leitura confusa:

"... Temos consultórios em maioria dos cantos de blue city! Na rua 13, a rua dos condomínios de B.C, Soul medicine se situa a alguns quarteirões mais abaixo! ..."

Ah, que bosta.

"Em todos os cantos de Blue city ", ou seja, em todos os cantos onde os ricos moram.

Confirmo isso quando por uns dez segundos eu continuo procurando por um que seja perto daqui. Nada.

O único perto o suficiente, é a da rua 13. Já que eu, moro na rua 9. Duas horas de viajem de ônibus, mais ou menos.

Epiphany |    Jjk/pjm Onde histórias criam vida. Descubra agora