Debbie - Atlanta
- Que história mais louca, Debbie. - Mih segurou a minha mão em apoio. - Como você está se sentindo com tudo isso?
Eu não sabia o que responder. Desde que Michelle entrou em meu quarto, sentou em meu lado em minha cama e eu contei a história maluca sobre ter irmãos, que meu peito estava apertado. Como eu os encontraria? Era possível sentir falta de quem nunca conheceu?
- Sinceramente, não sei. Só preciso encontrá-los.
- Você sabe que sua vó não fez por mal, não é?
- Sei sim, Michelle. O segredo não era dela. - respiro fundo e encaro meu quarto de proncesa. - Era muito difícil disfarçar a decepção que sinto ao entender quem de fato era a minha mãe. - Me sinto tão decepcionada, Mih. Eu criei uma historinha na minha cabeça em relação a minha família, o homem bonito que se apaixonou pela moça inocente. Um amor interrompido pela justiça. - Mih faz um muxoxo de decepção e me aperta em seu abraço. Senta próximo a cabeceira e apoio a cabeça em seu colo. - Ela nunca foi a mulher apaixonada que se deixou levar pelo amor ao meu pai. Provavelmente uma mulher egoísta que largou os filhos fruto de um casamento com um bandido para fugir com outro homem igualmente sujo.
- Não pensa assim - Michelle acaricia o meu couro cabeludo e me aninho mais em seu colo. - Você sempre falou com muito carinho de sua mãe, mesmo na penitenciária ela sempre foi carinhosa com você, bonequinha.
- Não me chama mais assim. - digo com rispidez.
- Debbie, por favor, não endureça o seu coração por uma situação que você nem sabe como aconteceu. Sua mãe não está aqui para se explicar.
Pensando assim, Michelle tem razão. Não adianta demonizar a minha mãe, isso não vai resolver nada. Mas é doloroso perceber que todas as minhas convicções eram uma mentira. Ela não era só a mulher carinhosa e atenciosa. Foi egoísta e deixou dois filhos para trás. Mamãe não estar aqui para me explicar é o mais frustrante, se ela estivesse viva, será que me contaria toda história?
- Eu só queria entender, Mih. Por que ela os deixou?
- Já parou para pensar o que teria acontecido se ela fugisse com os dois? O que o pai deles faria?
- É tão louco essa história toda. Meus pais eram traficantes, Michelle. Meu pai assassinou o pai dos meus irmãos, minha mãe os abandonou, ninguém da família os quis. É tanta merda que parece um seriado depressivo/policial. - sento na cama e olho para o meu quarto decorado com muito rosa, minha escrivaninha cheia de canetas coloridas, meu computador, os livros nas prateleiras, minhas almofadas divertidas jogadas pelo lugar e a em formato de biscoito na minha cadeira de estudos. - Olha esse quarto de princesa que sua mãe montou pra mim? Será se meus irmãos tinham ao menos onde dormir?
- Ei! Você não teve culpa do que aconteceu aos seus irmãos!
- Não tive, mas me sinto culpada mesmo assim. - uma lágrima rola dos meus olhos. - Meus pais não pensaram em ninguém.
Sinto meu corpo se chacoalhar com o choro brotando da minha garganta, fruto da mágoa que surge. Eu nunca fui de fazer pré-julgamentos, sempre tentei entender as pessoas, Frances sempre diz que serei uma ótima psicóloga porque sei ouvir, porém, para meu azar, meus pais não estão aqui para me explicar e eu só sinto o amargo na boca por ser um efeito colateral da escolha dos dois. Saber que tenho irmãos por aí que cresceram no sistema de adoção pelo simples fato de que ninguém os quis.
Eu os queria, eu iria encontrá-los.
Uma semana depois.
Andava silenciosa na minha rotina. Os dias passavam em uma execução desprovida de emoção. Aulas o dia todo na universidade, chegava em casa e cuidava do jantar, após o jantar ia para o meu quarto estudar e depois dormir. No dia seguinte a rotina se repetia. Vovó estava respeitando o meu espaço e não me perguntava mais que o necessário. Eu estava triste, com a vida, com os meus pais e uma culpa pairava sobre a minha cabeça. Era irracional, mas esse sentimento não me deixava e talvez nunca fosse embora, até encontrar os dois.
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Vinci - A Redenção De Um Homem
RomanceConteúdo para maiores de 18 anos Vinci Em um passado não tão distante eu tive a maior realização da minha vida. Eu me vinguei do meu pai. Tirar o velho do poder, assumir a organização e vê-lo morrer me vendo como um líder melhor do que ele imaginou...