"Ele matou papai!"

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Duas horas haviam se passado e Albus ainda não estava apto a entender. Não era possível... Não tinha cabimento naquilo. Scorpius era alguém tão legal, tão quieto, tão... Misterioso. Albus às vezes se perguntava se James era certo em dizer que ele era mesmo muito parecido com seu pai.

Deitado no silêncio fresco de seu quarto, Albus escutava os grilos do campo. Estava tudo silencioso demais, com exceção do cantar calmo que entrava pela janela aberta, e o colchão de Scorpius ainda estava ao pé da cama. Albus não tivera coragem de tirá-lo depois de tudo que escutara... Depois da revelação desesperada de Scorpius.

Ele havia mesmo matado pessoas? Scorpius havia mesmo ajudado os chamados Comensais da Morte, que queriam o matar, nessa guerra? Scorpius Malfoy havia mesmo feito "aquilo"? "Aquilo" que não havia volta?

Albus sentia um vazio no peito... Um vazio que não deveria existir. Ele não tivera muito contato com Scorpius, apenas pelas poucas semanas que ele ficara aí. Em Hogwarts, apesar de serem da mesma casa, nunca conversaram. Foram semanas legais, tivera companhia, conversara com o garoto loiro sobre diferentes assuntos e até pensara ter ganhado um amigo. Mas, no final das contas, tudo aquilo poderia ter significado nada para Scorpius Malfoy.

Uma lágrima começa a escorrer pelo rosto moreno e desliza até caí em sua roupa amassada e suada, seguida de outra e mais outra. Não tomara banho algum desde a manhã em que jogara os malditos gnomos longe. Não tivera essa força de vontade.

Será que aquilo que sentia era equivalente a perder alguém para a morte? Scorpius havia ido embora para sempre, nunca mais o veria, mesmo que estivesse vivo. Seria basicamente que uma morte, não?

Quer saber, ele não queria a resposta.

Acho que o que você está sentindo é equivalente a traição ou, talvez, um coração partido.

Albus decide não escutar sua voz interior.


Scorpius tinha seus vários motivos para se sentir um monstro, mas estar sentado numa pequena sala trancada do Ministério enquanto esperava seu julgamento, não ajudava seus pensamentos a permanecerem nos trilhos. Ele odiava o que havia feito, principalmente porque não ouvira a voz da razão. Ele tinha escolha, ele visivelmente tinha todas as escolhas do mundo... Certo, ele quase morreu quando decidiu escolher e agora está sendo caçado por traição, mas ele nunca jurara nada. Scorpius sabia ter feito algo terrível, algo muito além de todas as mortes que causara.

Harry Potter não morrera por causa de seu avô... Harry Potter morrera porque ele armara o plano todo a mando de Lúcius Malfoy. Ele armara a forma de pegar todos os Potters, ele avisara a localização e usou o maldito uniforme dos comensais. Ele fez com que os três Comensais ao seu lado pegassem Lily, James, senhora Potter e Albus. E fora ele... Ele, Scorpius Malfoy, que levara Gina Weasley... Fora ele, que amedrontado feito um garotinho de cinco anos, segurara a mulher enquanto seu avô matava Harry Potter.

Depois daquilo que sua mente adolescente amedrontada, que achara não ter escolha, decidiu agir. E ele odiava o fato de não ter agido antes. Ele odiava o fato de não ter escolhido a morte...

Agora não tinha volta...

Sua mente infantil e inflamada pensara, pensara tanto que quase chegara a explodir. Por que ele estava aí, agindo a mando de pessoas violentas e arrogantes? Por que ele, que nunca jurara nada a ninguém, fazia aquelas coisas? Por que ele se importava com as ameaças de morte, quando um mundo onde estivesse morto não faria diferença? Por quê? Simplesmente por que havia cobiçado ao medo? Ele nunca realmente se importara com sua família, apenas com sua mãe, que já estava morta a anos.

O Destino Quis-ScorbusOnde histórias criam vida. Descubra agora