Luke.
Outro dia, outra sessão, outro corte.
Apenas a rotina. É normal para mim. Eu acordo, vou para a terapia, eles me fazem perguntas, eu não respondo, então eu vou para casa, corto meus pulsos por não ser capaz de falar. Por ser um egoísta, imbecil silencioso. Todo dia. Toda merda de dia eu me odeio mais e mais. Eu sento diante da porta, o azulejo frio tocando minhas finas pernas. Minhas horríveis pernas, meus horríveis braços. Meus ridículos pulsos... eles merecem os cortes sangrentos através deles. O metal de prata em minhas mãos cria outra ferida. Eu suspiro e limpo minha bagunça, não querendo perturbar minha mãe.
Ela sabe, ela sabe que eu me corto. Ela apenas diz para eu limpar posteriormente. Ela não quer testemunhar meu sangue nojento. Meu inútil, sujo líquido avermelhado. Volto para meu quarto e fecho a porta, o silêncio é confortável, relaxante. Então os gritos começam.
Os murmúrios de raiva e maldade. O falatório constante, me fazendo pôr minhas mãos nos ouvidos e pressionar fortemente contra minha cabeça. A briga parece nunca acabar, mesmo após o divórcio, ele cambaleia até em casa, bêbado. Essa nem é mais a casa dele. Mas ele continua a vir aqui para brigar com minha mãe. Eu odeio esse homem com cada fibra do meu ser.
Ele machuca a mim, ele machuca a minha mãe.
Ele é a razão. Razão de eu me recusar a falar. Eu estava cansado dos gritos, das brigas e da raiva. Eu escolhi não falar, eu escolhi não gritar, eu escolhi não ficar com raiva de ninguém a não ser de mim mesmo. Eu sou a terrível descendência das duas pessoas abaixo de mim, gritando suas cabeças fora de um para o outro, não se importando que eu possa ouvir cada palavra que derramam de suas bocas sujas.
Mas então tudo acaba. Termina, fim. Como puxar o plugue de um abajur... não é um silêncio confortável. É horrível. Não me deixa relaxado, me deixa preocupado, faz eu me sentir como se alguém respirasse em minha nuca. Eu pulo da minha cama e corro escadas abaixo o mais rápido que posso. O único som é de minha respiração pesada, enquanto olho pra minha mãe, sangue escorria de sua cabeça. Ninguém está aqui, isto é silêncio. Eu não posso mais lidar com isso. O homem de pé em minha frente me faz querer gritar. Então eu grito. Seguro em meus cabelos e grito tão alto que meu rosto fica em tom de vermelho escuro.
Quando paro, continuo lá, chocado com a morte de minha mãe, antes de ouvir um alto estrondo e encontrá-lo morto, caindo ao lado do corpo sem vida dela. O silêncio retorna.
Silêncio.
Silêncio.
Silêncio.

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MUTE ➸ muke
FanfictionMichael não fala muito. Luke não diz absolutamente nada. Luke e Michael eram perfeitos um para o outro. Silencioso. Mas, ainda assim, perfeito. PRIMEIRO livro da serie MUTE. all rights reserved @michaels_cheezburger ©