Lili
Por um momento fiquei sem acreditar que aquilo podia ser real, já que era impossível eu estar certa.
Não podia ser Thomas ali, eu só podia estar confundindo a voz do homem que estava jogado no beco atrás do pub. Afinal, pelo jeito eu estava tão obcecada por Thomas que até já ouvia sua voz em algum bêbado qualquer.
No entanto, para que eu tivesse certeza, um carro passou do outro lado da rua, fazendo com que o farol do seu automóvel, iluminasse bem no lugar onde o homem estava sentado e ficou mais do que nítido que era o Thomas.
— Meu Deus, Thomas, saia desse chão úmido, você vai ficar doente. — Aproximei-me sem pensar, o mais rápido que pude, já que fiquei preocupada com seu estado de saúde.
O medo que estava sentindo minutos atrás se esvaiu. Sabia que ele não era uma pessoa ruim, pelo pouco que as meninas relatavam sobre ele. Por isso, tinha completa convicção de que Thomas nunca faria mal a uma mulher em um beco escuro. Pelo menos esperava que aquele pensamento estivesse certo, pois existiam muitos lobos em pele de cordeiro.
Então, sexto sentido, meu querido, esse é um daqueles momentos que você não devia me enganar. Ok?
— Você precisa ir para sua casa — sussurrei, no mesmo momento que me abaixei, ficando da sua altura e encostando nele.
Thomas parecia estar sensível demais, ou bêbado demais, não saberia responder, mas no mesmo momento ele se retraiu.
— Pra quê? — questionou, deixando lágrimas escorrerem dos seus olhos encantadores, e me encarou.
Eles estavam completamente congestionados pela bebida, mas ali só se via dor. E naquele momento, algo partiu meu coração, mas do que já estava partido. Thomas Williams sofria muito.
Seu rosto estava banhado por lágrimas e mesmo com a pouca luz do beco pude perceber que os olhos estavam vermelhos, provavelmente pelo tanto que havia chorado ali, abandonado e sozinho.
— Porque você tem uma casa e precisa sair desse frio para não adoecer. — Tentei soar da melhor maneira possível, pois sei que pelo nível de álcool que o vi ingerindo hoje ele também devia estar bêbado, então misturou bebida e tristeza, duas coisas que juntas se tornavam a união do caos e da depressão.
— Mas o que adianta ter uma casa, se eu tô tão sozinho? — Tinha certeza de que isso não era para servir para mim, mas serviu e muito. Pelo visto Thomas passava pelo mesmo problema que eu.
A solidão devia abraçá-lo quando estava em casa como a minha me abraçava. Por isso, irresponsavelmente, e sem pensar direito, pois eu não agia muito bem quando me sentia pressionada, decidi ajuda-lo.
Sabia que estava bêbado e se não estivesse não teria trocado mais que um pedido de bebida comigo, mas na maioria das vezes é quando se está bêbado que conhecemos a verdadeira face da pessoa, pois ela não consegue manter a máscara de indiferença.
— Vamos, você não pode ficar aqui. Vou levá-lo para casa. — Tentei levantá-lo do chão, mas ele nem se moveu.
— Não vou a lugar algum. — Ele me empurrou de leve, sem intenção de me machucar, só para afastar-me dele. — Não quero ficar sozinho, se eu fico sozinho eu só me lembro dela. Então eu prefiro ficar aqui nesse beco.
Olhei ao redor, um pouco desesperada, pois sabia que faltavam poucos minutos para a porta do pub ser aberta e todos saírem de lá e verem o irmão de Oliver no chão. Pelo que havia percebido, Thomas não gostava de ser um peso para seu irmão, e tinha absoluta certeza de que se ele fosse encontrado daquela maneira por outras pessoas, se sentiria humilhado, quando recobrasse a sanidade.
— Eu fico com você, escuto suas histórias. Só levanta daí antes que alguém chame seu irmão.
Eu já havia dito que agia sem pensar quando estava desesperada?
E por qual motivo, queria ajudar um homem que mal havia trocado meia dúzia de palavras comigo?
Eu só podia estar espelhando a sua dor na minha e queria lhe dar o apoio que precisava naquele momento, mesmo sem saber pelo que ele estava passando.
E no momento que disse a palavra irmão algo o despertou e aquilo o fez se levantar cambaleante do chão. Mais rápido que pude, fui até Thomas, abracei a sua cintura e o ajudei a se manter de pé.
— Promete que vai ficar mesmo? — Ele encarou o fundo dos meus olhos e eu só pude assentir.
Não tinha como negar um pedido daquele, não depois de ver os seus olhos tão tristonhos e tão infelizes. Thomas precisava de ajuda e eu não sabia o motivo, mas queria ajudá-lo a passar pelo que estava enfrentando.
Como se eu já não tivesse problemas suficientes para resolver sozinha, ainda tinha que pegar os de outras pessoas para mim.
Com muito esforço consegui colocá-lo no banco do carona e assim que entrei no carro para dirigir percebi que ele acabou adormecendo.
— Thomas? — Chamei-o, tentando não surtar, pois não tinha ideia de onde era sua casa.
— Thomas... — Levei minha mão até o casaco do terno que usava, sacolejei-o e nada do homem acordar.
Revirei os olhos e suspirei. Era aquilo que eu merecia, por tentar abraçar o mundo. Tudo que eu queria era um bêbado que nunca conversou mais que o necessário comigo, dormir em meu carro.
A cada segundo que passava a noite só melhorava. Talvez eu merecesse um prêmio por ser idiota o suficiente, ou por ser boa demais.
Vejo a porta do pub ser aberta e antes que eu tenha que dar explicações, dei partida em meu automóvel e sem pensar muito, fui em direção à minha casa. Estava ciente que iria me arrepender daquilo, mas não tinha escolha, afinal, eu não poderia deixá-lo caído em um beco escuro correndo o risco de ser assaltado, ou de algo pior acontecer.
Só esperava não ter me enganado com Thomas Willians, estava pedindo a Deus que ele fosse uma pessoa boa e que não quisesse me matar assim que acordasse e estivesse em uma casa totalmente diferente da dele.
Depois de percorrer as ruas de Oxford, cheguei ao meu prédio, e para glorificar a Deus o meu apartamento era no primeiro andar, pois não tinha condição alguma de carregar um homem de quase dois metros sozinha.
Por sorte, pedi ajuda ao meu vizinho, que também trabalhava em um bar e estava chegando no mesmo momento e ele me ajudou a levar Thomas até o sofá da sala do meu apartamento.
Assim que o homem saiu de dentro da minha casa, tranquei a porta e virei-me para encarar Thomas e nesse momento percebi que o cunhado de Amélia sofreria um belo de um torcicolo na manhã seguinte.
Ele estava completamente torto no sofá, mas não tinha muito mais que eu pudesse fazer. Na verdade, já havia feito muito por ele, não podia ir lá e arrumar o seu lindo pescocinho.
Antes de deixá-lo na sala e ir para o meu quarto, tive a sensação de ouvi-lo pronunciar um nome, que se eu não estivesse enganada, podia se resumir a Beatrice, mas como eu parei e tentei escutar de novo, percebi que eu estava ouvindo coisas.
Afinal, o silêncio reinava em minha sala.
Continuei caminhando para o meu quarto. Iria tomar um banho e tentar relaxar um pouco para no dia seguinte enfrentar aquele homem. Até porque tinha um pressentimento, quase que gritante dentro de mim, que ele odiaria acordar em minha casa.
Só que eu não poderia fazer nada, já que não o deixaria dormir na rua, então, Thomas que não fizesse nenhum tipo de gracinha, senão eu seria obrigada a tratá-lo de uma forma que odiaria.
Enfim... era melhor esperar o novo dia e só aí, começar a tirar minhas próprias conclusões sobre o homem que dormia no sofá da minha sala.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Filha Que Eu Não Merecia - DEGUSTAÇÃO
RomanceThomas Williams sempre foi conhecido por ser um herdeiro milionário, mas depois que conseguiu desmascarar, com a ajuda do seu irmão, todos os crimes de que sua família fazia parte, ele enfim conseguiu a paz que queria. No entanto, nem tudo eram flo...