Anos antes, quando Thomas se apaixonou, por quem não devia...

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Thomas

Lembro-me da primeira vez em que a vi: cabelos loiros platinados, sentada duas cadeiras à minha frente na faculdade. Tinha um sorriso encantador, e eu me interessei, ainda mais quando ela retribuiu todos os olhares que eu dava em sua direção. O que fez com que em alguns meses todo o interesse que eu sentia por Veronica caísse por terra. Eu já estava percebendo que fazer o que minha mãe mandava era errado, por isso resolvi me aproximar de Beatrice.

E foi assim que conheci uma mulher encantadora. Nós nos formamos juntos, e eu a levei à casa dos meus pais, que não demonstraram satisfação em conhecê-la. Eles têm a mania de querer que nossa família fique ligada aos Smart, mas foda-se essa ligação besta. Quando percebi que ela não seria aceita, eu fui embora.

Mamãe e Papai vieram com alguma conversa de eu sofrer as consequências, mas não me importava. Beatrice era esperta, e eu muito mais. Nunca nada de ruim aconteceria a nós dois.

Eu que não faria como Oliver, que deixou o amor de sua vida escapar por algumas ameaças bestas. Se na época eu soubesse que foi por isso que ele noivou com Malorie, nunca teria permitido, e minha mãe não teria coragem de fazer nada.

Agora moro aqui em Cambridge com a mulher da minha vida, que me ama sem parecer que um dia irá deixar de amar. Fui um idiota quando mais novo, mas agora percebo que as pessoas não devem ser julgadas por classe social, e, sim, pelo que elas são. Fui um hipócrita no passado, e nos dias de hoje isso ainda acaba comigo.

Só que dou graças pelas pessoas mudarem, pois sou mais feliz assim. Na verdade, acho que minha mãe nunca irá mudar. Meu pai eu já nem sei, acho que ele está mais no morre e não morre com o seu problema de coração, no entanto, depois de tanto quererem humilhar Beatrice, e de eu descobrir ainda mais o quanto eles são podres, nunca mais os vi.

— Amor, hoje chegarei mais tarde. Tudo bem? — pergunto a uma pequena dorminhoca que está jogada sob minha cama.

— Claro, meu bem — ela responde, lançando-me um olhar que sorri juntamente com seus lábios.

Não resistindo, jogo-me ao seu lado e beijo sua boca que sempre está muito convidativa.

— Boa sorte na sua entrevista.

— Estou nervosa, mas sei que me sairei bem.

— Claro que sim, você é a melhor.

Enlaçando meu pescoço, Beatrice me puxa para mais um beijo e mesmo querendo chegar atrasado na empresa, sei que hoje não posso.

— Prometo que à noite comemoraremos a sua contratação, tudo bem? — sussurro, beijando seus lábios novamente.

— Tá bom — geme meio dengosa.

— Até mais tarde.

Saio do quarto, escutando um até, e sorrio. Caminho para fora e olho para o céu. Hoje está um dia bom e ensolarado.

Sou contador em uma grande empresa aqui em Cambridge. Hoje tem balanço do ano, então, sei que meu expediente, que termina às sete da noite mudará para as dez ou até mesmo para a madrugada.

Amo viver aqui, as coisas são todas próximas e em menos de quinze minutos estou em meu emprego. Sempre amei caminhar e depois que parei de ser mesquinho, gosto de ir à maioria dos lugares a pé.

O dia foi bastante corrido, tive tempo de ligar para Beatrice, que estava toda contente por ter conseguido a vaga que tanto sonhava na área de contabilidade de uma empresa ainda mais renomada do que a que eu trabalhava. Sua felicidade me motivou a trabalhar mais contente durante o restante do expediente e até perto da meia noite, que foi quando consegui terminar todo o meu balanço.

E assim que consigo finalizar tudo, volto para casa o mais depressa possível, pois preciso pegar a minha mulher acordada para comemorar o tão sonhado emprego dela. Tentei ligar em seu telefone mais cedo, para avisar que infelizmente iria me atrasar, só que seu celular estava dando desligado desde a parte da tarde.

Assim que chego ao prédio, subo rapidamente os seis andares. Aproximando-me da porta, eu a destranco, porém logo estranho o ambiente que está todo um breu. Beatrice odeia escuro, até para dormimos ela deixa uma luz acesa.

— Amor? — chamo, não ouvindo nenhuma resposta.

Olho na cozinha e não tem nada preparado. Preocupo-me, pois Beatrice não costuma sair sem deixar algum recado, e olha que a conheço há anos. E em todos eles ela nunca deixou o celular desligado e muito menos sumir sem avisar.

Caminho para o quarto, tentando entender o motivo do seu desaparecimento, mas assim que chego à soleira da porta sinto um tiro em meu peito. Mesmo que ninguém tenha me baleado, mesmo sem saber, as lágrimas caem por meu rosto em um rompante. Meu corpo fica em estado letárgico com a cena que vejo.

Não pode ser.

Beatrice está no chão frio do nosso quarto, com os olhos vidrados no teto, em seus dois pulsos um corte enorme se faz presente. Meu corpo todo começa a tremer no momento que olho para a poça enorme de sangue que tomou conta do nosso quarto. Não preciso me aproximar do seu corpo para saber o que está me aguardando, mas eu faço isso. Pisando na poça de sangue e deixando que minhas lágrimas caiam ainda mais. Agacho-me sem me importar com o sangue e a pego em meus braços.

Seu corpo gélido e sem vida está petrificado junto ao meu; seus olhos, cheios de brilho, agora estão opacos e sem esperança. Vejo que devido à sua maquiagem algumas lágrimas desceram por seu rosto e o borraram. As roupas que está usando são as que ela mais gostava para fazer entrevista.

Eu não conseguia acreditar. Não conseguia.

— Não! — urrei, sentindo uma dor que não sabia de onde vinha, mas que tomava todo o meu corpo. Era a mulher da minha vida.

A mulher que eu amava. Para quem fiz juras de amor por anos e que sempre disse que iria proteger. Ela não podia ter feito isso. Com uma das minhas mãos peguei um papel que estava ao lado das lâminas que foram usadas para ceifar sua vida, abri-o deparando-me com a letra de Beatrice.

"A vida estava cada vez mais difícil Thomas, eu não te amava mais, mas não sabia como terminar o nosso relacionamento, não via mais razão para viver. Por isso, hoje foi o dia do meu fim. Espero que seja feliz, afinal, você foi avisado anos atrás que não podia ter suas próprias escolhas e mesmo assim resolveu me envolver no seu mundo, e com isso eu resolvi deixar você livre."

Beatrice

A minha vida com certeza não seria a mesma, perdi todo o meu rumo neste momento, principalmente por causa daquele bilhete totalmente confuso que Beatrice tinha deixado. Só que eu sabia o motivo daquela confusão, fui avisado há muito tempo sobre isso, no entanto, nunca acreditei. Agora sei que o único que foi sensato esse tempo todo foi Oliver; ele me avisou que eu poderia esperar tudo de Anna, mas me enganei, como sempre me engano em relação à minha família.

Não consigo acreditar que eu tinha tudo hoje de manhã e agora não tenho nada, não tenho nem mesmo uma vida. 

A Filha Que Eu Não Merecia - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora