Prólogo

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Thomas

Senti a brisa leve bater em meu rosto e aquilo com toda certeza anunciava que logo mais uma chuva cairia, mas eu não me importava. Estava no momento concentrado no que me machucava, porém era a única forma que conhecia para aplacar a dor do meu peito.

Na maioria das vezes, naquele lugar, sempre me pegava pensando nos momentos bons, momentos maravilhosos e inesquecíveis, que pensei que viveria para sempre, momentos nostálgicos que me traziam... Ah, caralho! Me traziam uma tristeza profunda.

Com toda a força que ainda me restava, deixei que meus olhos vagassem para o túmulo de Beatrice e lá vi seu nome, gravado naquela pedra, que foi a única coisa que restou dela naquele mundo.

Toda vez que aparecia por ali, sempre tinha a certeza de que talvez eu nunca voltasse a amar alguém com tanto afinco como a amei. Ela foi o ser mais importante na minha vida, a mulher que foi arrancada de mim tão prematuramente, a menina que me ensinou o significado da palavra amor. Que mudou o cara idiota que vivia dentro de mim.

Que transformou aquele Thomas do passado, no que eu era hoje, quando eu demonstrava compaixão, empatia e até mesmo carinho pelo próximo. Tudo aquilo eu devia a Beatrice e mesmo assim, ela ainda deixou aquele mundo e apesar de no meio de tanta gente, ainda me sentia desamparado.

Não sei se um dia iria esquecer a cena de vê-la sem vida em nosso antigo apartamento. O trauma foi algo que destruiu todo o meu organismo, tinha certeza de que meus órgãos entraram em falência múltipla, porém ainda estava vivo, sentindo a dor da perda depois de longos anos, que mais parecia que havia sido ontem, já que doía com a mesma intensidade do primeiro dia e eu achava que talvez aquela dor nunca fosse amenizar.

Soltei um suspiro profundo e caminhei até que ficasse lado a lado com seu túmulo. Abaixei lentamente e deixei a rosa vermelha — que estava em minhas mãos —, em cima de seu nome. Assim que me levantei, segui para longe, mas estaquei no lugar por uns instantes, e encarei por cima do ombro o lugar onde a mulher que eu amava estava enterrada. Como doía...

Depois de olhar para trás uma última vez, voltei para o meu carro. Pisando nas pedras, que pareciam fazer barulhos mais que o necessário, já que eu queria que tudo ao meu redor ficasse em silêncio, como o meu corpo ficava depois de ter perdido a única pessoa que lhe trazia alegria.

Entrei em meu carro e bati a porta, sem me preocupar em ser mais cuidadoso. Nenhum bem material era mais importante que uma vida. Porém, infelizmente não eram todos que pensavam daquela maneira... principalmente a minha mãe, que foi a culpada pela morte da minha mulher.

Soquei uma vez o volante do carro e pensei que se não pude ser feliz ao seu lado, ao menos poderia sentir a dor da saudade, a dor do amor perdido, a dor de ainda amar uma mulher que não está mais aqui ao meu lado. A mulher da minha vida!

Respirei profundamente, e em seguida dei a partida no carro. São longos anos fazendo a mesma coisa, longos anos vindo todas as sextas — o dia preferido de Beatrice —, visitá-la, isso faz com que eu perceba o quanto estou só.

Uma solidão tão grande que mesmo sabendo que tenho pessoas ao meu redor, que posso contar com apoio, como o meu irmão, ainda sinto que não tenho ninguém ao meu lado.

Ninguém...

A Filha Que Eu Não Merecia - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora